Desde 2010, Goiás registrou 325 ocorrências de desastres naturais que geraram prejuízos superiores a R$ 560,5 milhões. Ao menos 3,4 milhões de pessoas, de 110 dos 246 municípios, foram impactadas pelas intercorrências da natureza, como as inundações e incêndios catastróficos, de acordo com o Atlas dos Desastres Naturais. 

LEIA TAMBÉM

Brasil tem 1.942 cidades com risco de desastre ambiental

Mesmo preteridos, eventos naturais se impõem como prioridade aos governos

No período de 14 anos (entre 2010 e 2024), mais de 9,6 mil pessoas ficaram desabrigadas ou precisaram ser desalojadas devido aos desastres, enquanto que outras 10 morreram. Os óbitos, segundo o Atlas, ocorreram nos municípios de Morrinhos, Lagoa Santa, Planaltina de Goiás, Guarani de Goiás e Cavalcanti.

Juntos, os municípios contabilizaram 164 ocorrências, 3.091 desabrigados e/ou desalojados e R$ 46,2 milhões em prejuízos. Mesmo tendo registrado apenas cinco ocorrências no período, de acordo com o Atlas, Aparecida de Goiânia foi um dos municípios mais impactados estruturalmente.

A cidade aparecidense teve apenas cinco desastres, que afetaram 24,2 mil pessoas, provocando um rombo de R$ 68,5 milhões. A capital, por outro lado, registrou 14 ocorrências, 2,6 mil afetados e R$ 1 milhão em prejuízos.

“Esses eventos sempre vão ocorrer. A expansão urbana em espaços indevidos, como fundo de vales, áreas de preservação ambiental, é um fator que influencia nestas ocorrências. Se for formos analisar pela lei, a própria Marginal Botafogo não deveria existir”, afirmou o gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (Cimehgo), André Amorim.  

André acredita que o número de ocorrências pode ser ainda maior, visto que na década de 90 e início dos anos 2000 as ocorrências eram subnotificadas. Segundo ele, a preocupação com o meio ambiente começou há poucos anos, principalmente com o avanço da tecnologia.

“A gente dá muita mais importância aos eventos hoje do que antigamente. O nível de interação, de percepção, melhorou muito e isso potencializa a descoberta de novas ocorrências, assim como ajuda no monitoramento”, contou. 

Prevenção 

A dificuldade em diminuir as emissões de carbono e as mudanças climáticas, como o aquecimento global, que potencializam as intercorrências da natureza, não são evitadas, mas prevenidas, de acordo com o conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU), David Finotti.

A adaptação aos eventos, que tendem a ocorrer com maior frequência, são cruciais para a “sobrevivência” das cidades, principalmente após os impactos, como observado no Rio Grande do Sul. David diz que há formas de diminuir os prejuízos por meio da resiliência urbana. 

“O investimento em infraestrutura verde, ampliando a área de permeabilidade do solo, faz com que a chuva caia e se armazene no lençol freático. Isso aumenta a área permeável e, além disso, há como fazer um jardim verde”, explicou.

O conselheiro afirma que outra alternativa seria a mudança da legislação, promovendo maior permeabilidade do solo – considerada um dos grandes problemas de municípios goianos – como Goiânia. A recuperação de áreas de preservação ambiental também é outro fator fundamental para prevenir desastres.

“Do lado urbano é a mesma coisa. É preciso olhar a infraestrutura de dentro de casa lote, para que a água que vem da chuva infiltre no mesmo lote, não precisando ir para a rua e, posteriormente, para um rio. A nossa atual infraestrutura canaliza a água da chuva, manda para uma boca de lobo e depois vai parar em um córrego ou rio”, contou.    

Investimentos 

A fim de prevenir desastres naturais, o governo estadual investiu R$ 116 milhões em projetos desde 2021. Em 2022, por exemplo, foi criada a Operação Nordeste Solidário, com o intuito de ajudar os municípios goianos impactados pelas tempestades que assolaram o nordeste de Goiás naquele ano. 

Em 2023, o projeto alcançou 35 municípios goianos, cujo investimento apenas neste programa chegou a R$ 76,5 milhões com a entrega de donativos e recuperação de infraestrutura. 

“Temos um plano de contingência para essas situações, onde cada secretaria tem sua função diante de uma ocorrência. O problema é identificado antes por meio das previsões e, então, é feito o alerta e montado um plano de atuação”, concluiu André Amorim.