Delegado diz que suposta vítima de estupro coletivo pode responder por calúnia. Promotor nega
12 dezembro 2014 às 16h34
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Titular também afirmou que irá pedir ao MP arquivamento do inquérito. Milton Marcolino, no entanto, garante que o órgão apresentará sim denúncia contra os suspeitos
Marcelo Gouveia e Sarah Teófilo
Em entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira (12/12), o delegado do município de Indiara, distante 100 km de Goiânia, Queops Barrreto, afirmou que a jovem M.X.L., de 17 anos, suposta vítima de estupro coletivo, pode responder judicialmente pelo crime de “denunciação caluniosa” após mudança em seu depoimento.
“Pelo fato dela ter comunicado a existência de um crime que não existiu, por ter dito que foi consentido, ela vai responder pelo ato infracional análogo do crime de denunciação caluniosa, porque movimentou a máquina, o aparelho estatal, a polícia para investigar um crime que ela sabia que não ocorreu”, explicou o delegado à imprensa.
Entretanto, o promotor Milton Marcolino, que atua em Jandaia, e acompanha os casos de Indiara, disse ao Jornal Opção Online que a informação vinda do delegado é incorreta. “Vamos esquecer o que o delegado falou, porque esse inquérito é do Ministério Público de Goiás”, pontuou.
Entre os cinco suspeitos do ato de violência sexual, estão o vereador e vice-presidente da Câmara de Indiara, Jean de Castro (DEM), e o irmão dele, o comerciante Leandro de Castro. O titular disse também que irá pedir ao Ministério Público de Goiás (MPGO) o arquivamento do caso por se tratar de “um crime que não existiu”.
Conforme o promotor, entretanto, o Ministério Público irá sim oferecer a denúncia contra os cinco envolvidos, e pelo fato da vítima ser menor de idade, ela não pode retirar a queixa. “Se ela fosse maior de 18 anos, a denúncia dependeria da vontade da vítima, mas não é o caso”, apontou.
Milton explica que tem conversado com a jovem constantemente, e que ela decidiu mudar a versão por não querer que Leandro de Castro, com quem tem um envolvimento amoroso, seja preso. “Mas ela continua garantindo que foi sim estuprada”, e completou: “Eu disse que a palavra dela será levada em consideração, mas para que ela deixasse isso com a Justiça, que vai analisar as provas, os fatos”.
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Na última quinta-feira, a jovem contou ao Jornal Opção Online que foi sim vítima de estupro coletivo, mas que decidiu mudar o depoimento, pois a repercussão do caso estaria “prejudicando” sua vida. M.X.L. negou que teria recebido suborno dos supostos agressores.
“O abuso ocorreu sim, mas mudei meu depoimento porque não aguento mais viver isto”, disse. E completou: “não houve suborno por parte de nenhum deles, ninguém me ofereceu terreno nem dinheiro. Apenas quero que essa situação chegue ao fim”. A versão foi confirmada pelo promotor Milton. “Isso [suborno] nunca aconteceu. Ela só está preocupada com o homem com quem é envolvida”, disse.
O delegado Queops Barreto afirmou nesta sexta-feira (12) que o suposto suborno continuará sendo objeto de investigação. “A polícia não descarta pressão e isso continuará sendo apurado durante as análises”, explicou.
Questionado sobre os laudos que comprovariam a violência sofrida pela jovem, Queops disse que os exames ainda não haviam sido emitidos oficialmente. “Tive informações dos peritos que havia mais de um material genético. Mas isso estava condicionado à doação desse material para a conclusão da perícia. Não está confirmado que havia mais de um material genético. Em termos oficiais, não está nos autos”, disse.
Anteriormente, o delegado havia dito que o laudo era a prova de que a adolescente teria sido violentada por mais de uma pessoa.
Todos os homens envolvidos no caso foram colocados em prisão domiciliar, e segundo o promotor do MPGO Milton, uma ordem foi emitida para que nenhum deles entrasse em contato com a vítima ou com seus familiares.
Milton afirma que conversou com a jovem sobre a possibilidade dela ficar em um lar para mulheres vítimas de estupro, mas M. teria garantido que não estaria sendo ameaçada ou coagida, por isso preferia ficar em sua casa. “Eu expus as consequências para ela, mas ela disse que não queria ir para nenhum lar, que não se sentia constrangida nem estava sendo ameaça.”