O Brasil está à beira de uma crise energética? Segundo especialistas, a resposta é sim. A principal crítica recai sobre o papel do Estado e as consequências da onda de privatizações que marcou o setor elétrico nos últimos anos.

O Jornal Opção ouviu especialistas, que apontaram que a falta de uma regulação eficiente e de um planejamento estratégico robusto são alguns dos fatores que contribuem para o risco de um déficit energético no país. Segundo o engenheiro eletricista e pesquisador na área, Salatiel Soares Correia, o modelo de privatização no Brasil foi acelerado e mal planejado.

“Você tinha, bem ou mal, uma empresa estatal, e de repente veio aquela onda de privatização. Só que para você fazer isso, você tem que ter uma regulação muito forte”, afirmou. Segundo ele, a ausência de uma regulação rigorosa permite que empresas privadas atuem conforme seus interesses econômicos, sem priorizar o desenvolvimento regional.

Para ele, um dos exemplos dessa situação é a atuação da empresa Enel em Goiás. “Chegou a Enel aqui, mapeou onde está o negócio, onde tem crescimento econômico, e ela deu atenção. Mas o irmão lá do norte, eles simplesmente ignoraram”, afirmou o especialista. Em regiões de menor interesse econômico, a expansão e a qualidade dos serviços prestados ficam comprometidas, o que gera desigualdades de acesso à energia.

A mudança de gestão estatal para privada também transforma o conceito da energia fornecida. Enquanto a estatal visa o desenvolvimento, o setor privado tende a tratar a energia como uma commodity, segundo Salatiel. “A energia estatal é a energia para o desenvolvimento. Quando se torna privada, a energia se torna uma commodity”, destacou.

Salatiel também destacou os impactos negativos da desregulamentação e da interferência de interesses privados na gestão de empresas estatais, como ocorreu na antiga CELG (Companhia Energética de Goiás). “Se você pegar a CELG até o fim dos anos 1970, ela era uma empresa excelente, com grandes presidentes. A partir dos anos 1980, a empresa sofreu com a influência de interesses privados e se desestruturou.”

Salatiel Correia | Foto: Euler de França Belém/Jornal Opção

Na mesma linha de raciocínio, o professor da Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI) e doutor em planejamento de sistemas energéticos pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Carlos Barreira Martinez, apontou à reportagem que a crise atual não é apenas um problema de energia, mas um reflexo mais profundo da falência do Estado.

Durante a entrevista, ele destacou a falta de organização e a ineficácia das medidas governamentais, descrevendo um cenário em que, segundo ele, a burocracia e a inércia do poder público deixam o país “à Deus dará”.

“O que existe não é uma crise de energia, é uma crise de Estado. O Estado não se assume, é cheio de penduricalhos, cargos dados aos amigos”, criticou o professor, mencionando que essa estrutura, segundo ele, mina a capacidade de resposta às crises.

Ao ser questionado sobre a ausência de medidas preventivas para evitar o cenário energético atual, o especialista foi enfático ao afirmar que a falta de planejamento tem sido uma constante. O professor também associou a ineficácia do Estado ao crescimento do poder de grupos criminosos, que, na ausência de uma presença estatal forte, ocupam posições de poder em comunidades vulneráveis.

“Nesses bairros populares, quem manda é aquela pessoa que se armou. Quem manda é ele, ponto final. Ele assumiu a posição do Estado”. O especialista ainda exemplificou como a ausência de governança impacta áreas como a própria energia.

Segundo ele, quando o Estado tenta legislar, faz isso sem a competência necessária. “Primeiro, ele [o Estado] legisla de uma forma não muito competente. Não enxerga as demandas da sociedade da forma como deveria. Cria regras e logo em seguida as suspende”, afirmou, ressaltando que essas decisões são frequentemente afetadas por interesses conflitantes e acabam criando instabilidade.

A situação, descrita pelo professor como “uma loucura”, evidencia, segundo ele, a necessidade de uma reforma estrutural para que o Estado se torne mais responsável e efetivo em suas ações.

Professor Carlos Barreira Martinez | Foto: Reprodução/YouTube

Apagões e a fragilidade do Estado

O recente apagão em São Paulo, que afetou milhões de pessoas, trouxe à tona essa questão. A falha, que envolveu a própria Enel, é um exemplo, segundo Salatiel, da vulnerabilidade que a falta de planejamento e controle estatal pode acarretar.

“Esse apagão que São Paulo sofreu é um exemplo dessa crise energética que o Brasil passa. Em outros países, como Alemanha e Estados Unidos, onde o Estado é forte, esse tipo de falha institucional é controlado. Mas aqui, onde o Estado é fraco, empresas se aproveitam para agir conforme seus interesses”, criticou.

Segundo o especialista, o modelo de privatização brasileiro atrai grandes empresas internacionais, que não encontrariam as mesmas facilidades em países com governos mais rigorosos. Com fatores climáticos imprevisíveis, como chuvas intensas e ondas de calor, a infraestrutura de eletricidade, envelhecida e insuficiente, tem falhado em atender à crescente demanda.

“A crise energética é uma constante, não só no Brasil, mas em todo o mundo. É um recurso escasso”, explica um professor especializado em política energética. Ele ressalta que, historicamente, as crises energéticas acompanham o desenvolvimento da humanidade. “Ao longo da história, sempre houve pulsos e crises de fornecimento de energia, e isso é parte inevitável do processo de civilização. Nunca vamos escapar totalmente disso”, explica Carlos Barreira.

A crise atual, no entanto, é agravada por fatores específicos ao sistema brasileiro. Entre eles, a instabilidade regulatória e a falta de investimento robusto em modernização. O professor destaca que o Brasil carrega uma “herança de um governo fraco”, refletida em uma insegurança jurídica que afeta a confiança de investidores.

“Parte das nossas mazelas vem dessa insegurança, que faz com que muitas leis não sejam efetivamente implementadas. No Brasil, temos a ‘lei que pega e a lei que não pega’, e isso dificulta os investimentos em áreas críticas como a energia”, comenta.

A fragilidade da infraestrutura é um ponto crítico. Em São Paulo, por exemplo, ele afirmou que o apagão recente resultou de falhas no sistema de distribuição de energia, que depende de redes aéreas espalhadas em postes e vulneráveis a intempéries.

“Quando ocorre uma tempestade, as árvores caem sobre a rede e a cidade fica sem energia por dias. As empresas de energia pedem autorização para realizar podas preventivas, mas muitas vezes sequer recebem resposta”, relata o professor, evidenciando a falta de coordenação entre as esferas do governo.

Porém, para que isso ocorra de forma eficaz, é essencial que o governo adote uma postura mais ativa e coordenada. “O Estado precisa adotar uma postura proativa e coordenada para resolver problemas básicos, como o corte de árvores em áreas de distribuição de energia. Enquanto isso não ocorrer, continuaremos enfrentando os mesmos problemas de sempre”, conclui o professor.

Em algumas áreas de São Paulo, a população ficou sem energia por mais de cinco dias, enfrentando não apenas o desconforto do escuro, mas também prejuízos com a perda de alimentos e insumos refrigerados. “As pessoas ficaram no escuro, perdendo tudo o que tinham na geladeira, e sem saber o que fazer. Além disso, não há quem vá indenizar esses prejuízos. Mesmo que houvesse, como seria possível indenizar tantas perdas?”, questiona Barreira.

Enquanto grandes indústrias conseguem contornar o problema através de contratos personalizados e assistência técnica especializada, o consumidor residencial se torna o maior prejudicado, segundo Salatiel.

“O consumidor residencial não tem a liberdade, por exemplo, de migrar como a indústria. Se ele não está satisfeito com a energia da sua concessionária, ele não pode escolher outro fornecedor. O maior prejudicado é o consumidor residencial, que está preso”, explica.

O engenheiro destaca que a população é a “grande perdedora” neste cenário. Enquanto grandes consumidores têm acesso a consultores especializados que possibilitam a assinatura de contratos vantajosos e até a migração entre fornecedores, as residências enfrentam limitações para escolher o prestador de serviços e, portanto, estão sujeitas a falhas no fornecimento e à alta de tarifas sem poder contestá-las.

Barreira lembra ainda, além da população em residências, os pequenos comerciantes, que enfrentam dificuldades significativas. “Quem mais sente os impactos é o setor residencial e comercial, principalmente aquele que está intimamente ligado ao dia a dia das pessoas”, afirma. “Ele [pequeno comerciante] não tem para onde escapar, não tem como ter um gerador próprio, porque não tem dinheiro. Então, essa é a população que mais sofre. São aqueles que vivem o cotidiano da cidade que sentem o peso dessa precariedade no abastecimento.”

“As grandes empresas conseguem se adaptar. Ou elas não se instalam no Brasil por causa da falta de energia ou procuram regiões onde o abastecimento é mais estável. O capital sempre busca o lugar mais conveniente. Mas, para a população, essa escolha é impossível: as pessoas têm que viver onde nasceram, onde têm bens, família, amigos. Esse é o ambiente de vida delas, e essa população acaba sendo a mais afetada”, completa.

Apagão em São Paulo | Foto: Agência Brasil

Desafios para o futuro

Salatiel reforça a importância de rever o modelo regulatório e de controle do setor elétrico no Brasil, especialmente nas áreas privatizadas. “Quando essas empresas chegaram, o primeiro passo foi desmantelar o planejamento e demitir em massa. Sem planejamento e com uma regulação frágil, a população paga o preço pela má qualidade do serviço”, concluiu.

Para o engenheiro, o desafio é encontrar um equilíbrio entre um modelo que incentive investimentos privados e, ao mesmo tempo, garanta que as necessidades da população sejam atendidas de maneira justa e equilibrada. Sem mudanças, o risco de novos apagões e de um déficit energético significativo apenas aumenta.

A solução para a crise energética brasileira envolve tanto a modernização da infraestrutura quanto a implementação de políticas públicas eficazes. Para o professor, uma das principais saídas é fortalecer o marco regulatório e criar um ambiente de investimento seguro.

“Precisamos de um sistema regulatório que incentive os investidores a aplicar capital na infraestrutura energética com a confiança de que poderão operar em um ambiente estável.”

“O que manda a lei? A lei diz o seguinte: ganhos de produtividade, 50% tem que ser investidos no mercado da região, e os outros 50% podem ser repatriados. Eu duvido que a ANEEL tenha condições de controlar esse ganho de produtividade,” afirmou Salatiel.

Segundo ele, a crescente demanda está em descompasso com a capacidade de expansão das empresas. “A demanda é sempre crescente, é maior que a velocidade que a empresa se põe a expandir. Daí vem um descompasso entre demanda e oferta.”

Além disso, o engenheiro questiona a forma como a privatização foi implementada no Brasil. “A privatização feita no Brasil não é a verdadeira privatização do capitalismo. Aqui, você fica preso a uma única empresa privada, sem opções de escolha. Em outro lugares, como a Califórnia, por exemplo, há diversas empresas para escolher. É a privatização da pílula, não uma verdadeira competição de mercado.”

Para o especialista, uma empresa estatal “blindada”, que tenha como objetivo o desenvolvimento social e econômico a longo prazo, seria o modelo mais adequado para o Brasil. Ele cita como exemplo a EDF, estatal francesa que, segundo ele, se mantém fiel à sua missão de desenvolvimento independentemente de mudanças políticas.

“A EDF é uma empresa que se orgulha da sua missão. Ela é estatal, pensa no longo prazo e está blindada contra influências políticas. Essa é a empresa ideal, pois não visa apenas o lucro, mas sim o desenvolvimento.”

Na opinião de Salatiel, o modelo estatal blindado, com um planejamento estratégico que considere as reais necessidades de investimento de longo prazo, ainda é a melhor solução para o Brasil. Ele conclui: “O melhor modelo para um país é um modelo estatal blindado, com um plano estratégico sólido. Uma empresa estatal bem gerida não apenas leva energia, mas promove o desenvolvimento.”

Já Carlos Barreira Martinez acredita que não existe uma resposta imediata. “É uma situação de médio e longo prazo, que requer uma reforma de Estado, abrangendo todos os poderes. O Poder Executivo, por exemplo, passou por reformas e tem limite de gastos, mas o Judiciário e o Legislativo ainda não. No Legislativo, fazem o que bem entendem, e isso está errado”, critica.

Salatiel traçou duas perspectivas para o futuro da regulação no Brasil: uma otimista e outra pessimista. Segundo ele, o caminho que o país tomará dependerá diretamente de como o Estado se posicionará e se fortalecerá para lidar com as concessões e a supervisão de empresas.

“Eu não vou ser o profeta do caos. Vamos traçar dois cenários, um otimista e um pessimista”, afirmou o especialista. Segundo ele, o “cenário otimista” prevê que o país realize seu “dever de casa”, fortalecendo o papel do Estado como regulador. “No otimista, você faz o dever de casa, o Estado regulador se fortifica, você tem uma nova reforma do Estado em que o Estado realmente se faz presente, e nós vamos caminhar bem”, explicou.

Por outro lado, o especialista também alertou para um “cenário pessimista”, no qual o Estado falharia em se consolidar como agente de fiscalização e controle, deixando empresas agirem livremente. “Existe o cenário pessimista, que é aquele em que a empresa vai fazer seu próprio jogo, o Estado não foi reconstruído, não se fortaleceu institucionalmente para punir, caçar concessões e fazer com que quem não joga o jogo do país seja punido”, afirmou.

Ele ressaltou ainda que, sem essa presença forte do Estado, o país corre o risco de enfrentar uma situação de descontrole no setor regulado. “Nós vamos para o caos. Então, o futuro depende de como o pessoal é centrado na regulação no Brasil.”

Torre de transmissão de energia elétrica. Foto Guilherme Alves/ Jornal Opção

Matriz energética

A matriz energética brasileira, marcada por forte dependência de hidrelétricas, também foi destacada pelos especialistas. Salatiel comparou a situação do Brasil com a da França, onde a energia nuclear predomina, o que torna o país menos suscetível a flutuações sazonais de fontes como a hidráulica.

“O Brasil é um país que tem um potencial muito grande. Somos um país com energia hidrelétrica, mas essa característica tem suas limitações”, afirma, ressaltando que o setor precisa de investimentos consistentes e de longo prazo para se sustentar.

Em mais uma crítica à ausência de um “Estado regulador” mais forte, Salatiel critica o modelo de privatização de usinas brasileiras. Ele argumenta que a atuação das empresas privadas se limita ao curto prazo.

“Essas empresas evitam investir em usinas hidrelétricas porque o retorno financeiro dessas operações só ocorre a longo prazo, algo em torno de 30 anos de maturação”, destaca. Ele menciona o exemplo de investidores estrangeiros que, segundo ele, “vêm para cá com um capital de motel, que vem e vai embora, sem compromisso para proteger.”

Para o engenheiro, o Brasil está pagando “um preço muito caro” pela forma como a privatização do setor foi conduzida. “Privatizar era uma necessidade, mas deveria ter sido feita com planejamento, construindo antes uma estrutura reguladora forte”, conclui.

(Foto: Norte Energia)

O engenheiro aponta que, apesar do potencial para ampliar fontes renováveis, a matriz energética brasileira continua altamente dependente de hidrelétricas e termoelétricas. Para ele, essas são as fontes que mantêm o país funcionando em situações críticas, como durante apagões.

Salatiel ressalta ainda que, embora as energias solar e eólica ganhem espaço, elas têm um papel complementar e não substitutivo na matriz brasileira: “A energia solar e a eólica são importantes? São. Mas são complementares. Elas jamais serão a principal fonte de energia para um país como o Brasil, que tem uma vocação eminentemente hídrica.”

A análise destaca que as fontes renováveis, embora essenciais para aliviar o sistema, não substituem a necessidade de hidrelétricas. “Servem para aliviar o sistema, mas substituir nossa vocação hidrelétrica? Isso não. As hidrelétricas são a espinha dorsal da nossa matriz energética”, reforça o especialista.

Outro ponto levantado é a dependência das termoelétricas, principalmente em momentos de emergência. A utilização desse tipo de usina, que usa combustíveis fósseis, é crucial em apagões. “Na hora do apagão, você vai querer usar a termoelétrica. Vai deixar um hospital todo sem energia em um momento crítico? A termoelétrica é um mal necessário para complementar”, argumenta.

A transição energética no Brasil, portanto, exige um equilíbrio entre a expansão de fontes renováveis e a manutenção de um sistema resiliente. Isso significa, segundo os especialistas, não apenas investir em novas fontes de energia, mas garantir que a matriz atual continue capaz de responder à demanda nacional.

Sala de controle da usina termelétrica a óleo Palmeiras de Goiás, em Goiás | Foto: Divulgação

Para Barreira, o incentivo a fontes de energia renovável, como solar e eólica, é uma aposta promissora. O Brasil possui vastas fontes energéticas renováveis e potencial técnico para desenvolver sua infraestrutura, mas, para o professor, esbarra em um obstáculo estrutural que inibe investidores: a insegurança jurídica.

Ele afirma que, apesar de o Brasil ter vocação ambiental e acesso a recursos energéticos variados, o entrave para o crescimento está na instabilidade legislativa e jurídica. O especialista critica o que chama de “ativismo judicial” que, segundo ele, mina a credibilidade das leis e afasta investidores.

“A legislação muda conforme a interpretação de quem está julgando, e isso cria um ambiente de incerteza. Hoje, por exemplo, temos problemas relacionados ao formalismo jurídico, onde alguns juízes decidem ignorar o que está estabelecido. Ora, mas quem são eles para não aceitar a lei? Se a lei é ruim, ela deve ser mudada, mas o ativismo judicial não pode existir. Ele desestabiliza o Estado e leva as pessoas a perderem a confiança,” enfatiza.

De acordo com Carlos Barreira, a insegurança jurídica afeta diretamente a economia, afastando investimentos que poderiam resolver parte da crise energética no país. “Por que as empresas não investem no sistema? Porque elas temem que, amanhã, alguém mude as regras do jogo, tornando o investimento feito um prejuízo”, explica o professor.

Ele pontua que esse problema vem de longa data e continua a comprometer o desenvolvimento sustentável do país. “A incompetência do Estado brasileiro não é algo novo. Essa questão não surge hoje, nem nos últimos 20 anos; é algo que persiste há mais de 50, 70, 100 anos, desde os primórdios do Estado brasileiro moderno e estruturado,” explica.

Energia Eólica | Foto: Reprodução

Energia solar

Os investimentos em geração própria de energia solar no Brasil superaram recentemente R$ 156 bilhões, alcançando 33 gigawatts (GW) de potência instalada em residências, comércios, indústrias, propriedades rurais e prédios públicos, de acordo com a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR). Os dados são de outubro.

Segundo dados da entidade, o setor já gerou mais de 990 mil empregos verdes desde 2012 e contribuiu com mais de R$ 46,7 bilhões em arrecadação para os cofres públicos. Atualmente, a tecnologia fotovoltaica atende a mais de 4,2 milhões de unidades consumidoras, com 2,9 milhões de sistemas instalados em telhados, fachadas e pequenos terrenos em todo o Brasil, cobrindo 5.556 municípios e todos os estados.

Ronaldo Koloszuk, presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR, destaca que a expansão da geração própria de energia solar mostra a popularização da tecnologia no país. “Em 2023, o preço dos painéis solares caiu cerca de 50%, tornando-os mais acessíveis para consumidores de diferentes perfis”, comenta.

Rodrigo Sauaia, CEO da ABSOLAR, ressalta a importância do Projeto de Lei nº 624/2023, que estabelece o Programa Renda Básica Energética (REBE), em tramitação no Senado, para a expansão da geração própria de energia solar. Segundo ele, o projeto visa resolver as negativas de conexão por parte das distribuidoras, que alegam problemas de fluxo de potência. “Essas negativas estão impedindo milhares de consumidores de gerar sua própria energia limpa e reduzir a conta de luz”, explica.

O projeto de lei também atualiza a Lei nº 14.300/2022, o marco legal da geração própria renovável, proibindo as distribuidoras de impedir as conexões de microgeração distribuída e exigindo que elas assumam os custos de reforço da infraestrutura elétrica, sem repassar esses gastos aos consumidores.

Além disso, o PL do REBE promove a democratização do acesso à energia limpa e competitiva para as populações mais vulneráveis, especialmente aquelas em situação de pobreza energética. “O avanço da geração própria solar fortalece o papel do Brasil na transição energética global, melhora a sustentabilidade, reduz gastos das famílias e aumenta a competitividade dos setores produtivos nacionais”, finaliza Koloszuk.

O Estado de Goiás figura entre os dez estados brasileiros com maior potência instalada de energia solar para geração própria em telhados e pequenos terrenos, ultrapassando recentemente a marca de 1,5 gigawatt (GW) de capacidade instalada, conforme o mapeamento de outubro da ABSOLAR.

Atualmente, o estado conta com mais de 127 mil conexões operacionais, distribuídas por 246 municípios, ou seja, 100% dos municípios da região. Mais de 160 mil consumidores de energia elétrica já desfrutam de redução na conta de luz, além de maior autonomia e confiabilidade no fornecimento de energia.

Desde 2012, a geração própria de energia solar no estado resultou em R$ 7,2 bilhões em investimentos, gerou mais de 47 mil postos de trabalho e proporcionou uma arrecadação de R$ 2,2 bilhões aos cofres públicos. Uma medida crucial, na avaliação da ABSOLAR, é a aprovação do Projeto de Lei nº 624/2023, que institui o Programa Renda Básica Energética (REBE).

“Atualmente em tramitação nas comissões do Senado Federal, este PL é essencial para a geração distribuída solar, pois resolve estruturalmente, por meio da lei, o problema das negativas de conexão feitas pelas distribuidoras, sob a alegação de inversão de fluxo de potência. Essas negativas têm impedido milhares de consumidores, incluindo residências, pequenos negócios, produtores rurais e gestores públicos, de exercer o seu direito de gerar a própria energia limpa e renovável, reduzindo sua conta de luz”, afirma Rodrigo Sauaia, presidente executivo da ABSOLAR.

“Com a atualização da Lei nº 14.300/2022, que estabelece o marco legal da geração própria renovável, as distribuidoras serão proibidas de barrar a conexão da microgeração distribuída pelos consumidores. Caso seja necessário algum reforço na infraestrutura elétrica para receber essa microgeração, a distribuidora será responsável por fazer o investimento diretamente, em vez de repassar esses custos ao consumidor”, complementa Francisco Maiello, coordenador estadual da ABSOLAR em Goiás.

Placas de energia solar | Foto: Tab Energia/Reprodução

Crescimento industrial em Goiás

Uma preocupação recente em Goiás tem sido o crescimento industrial. Segundo apurado pelo Jornal Opção com uma fonte, o Distrito Agroindustrial de Anápolis (DAIA) estaria aguardando a chegada de mais energia para a instalação de mais empresas.

No entanto, a Equatorial Goiás garantiu à reportagem que o DAIA está preparado para atender às atuais e futuras demandas industriais, garantindo um fornecimento estável e sem limitações operacionais. De acordo com a empresa, responsável pela distribuição de energia na região, a recente construção da linha de transmissão Perineus-DAIA é um marco importante para garantir a confiabilidade do sistema elétrico do distrito.

“Hoje, no DAIA, contamos com a recém-construída linha de transmissão Perineus-DAIA, que foi um investimento vultuoso da Equatorial e que trouxe uma confiabilidade muito grande para o nosso sistema”, afirmou o superintendente da Equatorial, Thiago Nunes. Ele explicou que a linha garante não só uma grande disponibilidade de energia, mas também uma robustez adicional ao fornecimento elétrico para a região.

A subestação DAIA, localizada ao lado dessa nova linha de transmissão, também não apresenta limitações, segundo a Equatorial. “A subestação DAIA não tem qualquer limitação de operação, de fornecimento ou de aumento de demanda. Estamos tranquilos quanto à capacidade de atender as necessidades dos nossos clientes”, ressaltou.

Além da linha Perineus-DAIA, Thiago Nunes destacou que outra importante melhoria na infraestrutura energética foi realizada na subestação Anápolis Universitário. “Fizemos um retrofit recente na subestação Anápolis Universitário, que incluiu uma reforma e um aumento significativo da capacidade. Essa ação garante a redundância necessária para atender qualquer falha ou necessidade de suplemento na região do DAIA”, explicou.

Com essas melhorias, a Equatorial não vê necessidade de ampliação adicional da capacidade operacional das suas estações no curto prazo. “Hoje, sob o ponto de vista da Equatorial, não vemos a necessidade de aumento na capacidade das estações nos próximos anos”, afirmou.

A migração recente de um grande cliente para o fornecimento em 138 kV, de acordo com a Equatorial, também contribuiu para alívio da rede de distribuição. “Essa migração libera mais recursos para atender outras demandas e proporciona ainda mais eficiência ao sistema”, complementou,

A empresa garante que não há impedimentos energéticos para novas empresas que desejem se instalar no DAIA. “Não teremos nenhum impedimento energético hoje para qualquer empresa que queira se instalar no DAIA”, concluiu.

(Foto: Divulgação)

Distribuição de energia em Goiás

Em meio aos desafios enfrentados por diversos estados brasileiros, Goiás, segundo Thiago Nunes, tem conseguido manter a estabilidade no fornecimento de energia elétrica. De acordo com o superintendente, a situação tem sido administrada com eficácia, mesmo diante das intempéries naturais que costumam impactar a infraestrutura elétrica.

“O setor energético em Goiás é bem resiliente, mas claro que nossas redes de distribuição estão sujeitas a fenômenos naturais como tempestades, quedas de árvores, granizo e vendavais”, afirmou. “Esses eventos são inevitáveis, mas com os investimentos e a manutenção realizados, temos observado resultados positivos, especialmente em relação às interrupções. Mesmo com o clima adverso, a tendência é que a quantidade de falhas seja cada vez menor”, garantiu.

Ainda conforme Thiago, o plano de ação para 2024 já apresenta indicadores de melhoria, especialmente com a constante presença de chuvas que têm contribuído para o equilíbrio do sistema elétrico.

“Não podemos dizer que não há interrupções, mas a verdade é que nossa capacidade de resposta tem sido cada vez mais eficiente. Com os avanços tecnológicos e a implementação de novos projetos, como o robustecimento das redes elétricas, temos dado uma resposta mais ágil e eficaz à população”, disse.

A zona rural, no entanto, segue sendo o principal desafio para a Equatorial em Goiás. A característica da área rural goiana é extremamente extensa, de acordo com Thiago, com redes de distribuição mais antigas e sem manutenção regular.

“A zona rural de Goiás é única. Ela é radial, muito extensa e, muitas vezes, sem a infraestrutura necessária. Mas com o projeto de robustecimento, estamos substituindo postes menores por estruturas mais robustas e resistentes, o que evita que uma queda de poste cause danos em uma grande quantidade de equipamentos, como ocorria no passado”, explicou.

Equatorial é uma das piores concessionárias de energia, aponta Aneel | Foto: divulgação
Equatorial é uma das piores concessionárias de energia, aponta Aneel | Foto: divulgação

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