A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, instalada no Senado para investigar a manipulação de apostas esportivas no Brasil, tem gerado uma série de discussões e movimentações políticas que envolvem desde a regulamentação do setor até denúncias sobre possíveis esquemas de corrupção dentro da própria comissão.

Criada em novembro de 2024, a CPI tem gerado impactos tanto no campo político quanto no mercado de apostas, e recentemente foi envolvida em polêmicas que podem antecipar o fim dos seus trabalhos.Nos primeiros dias de funcionamento, a CPI tem buscado entender a estrutura e as implicações das apostas esportivas no Brasil, especialmente após a regulamentação da atividade em 2018 e a criação da Lei 14.790, sancionada em 2023.

Em audiência realizada no dia 10 de dezembro, o secretário de Apostas do Ministério da Fazenda, Regis Alexandre Dudena, informou que o governo já bloqueou mais de 5 mil sites de apostas ilegais que atuavam no país. A medida faz parte de um esforço contínuo para combater os sites não autorizados, mas a relatora da CPI, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), questionou o governo sobre as especificidades de quais tipos de jogos ainda são considerados ilegais no Brasil.

Dudena também ressaltou o avanço nas políticas de regulamentação do setor, com o envio de novas propostas pelo governo para criar uma estrutura mais sólida de fiscalização das apostas, apontando para um cenário mais seguro para os apostadores e mais controlado pelas autoridades.

Ele também destacou que o governo está empenhado em regulamentar o setor para evitar manipulação de resultados e fraudes, temas centrais para a CPI, que busca assegurar que o mercado de apostas funcione de maneira transparente e com maior segurança jurídica para todos os envolvidos.

A CPI também teve desdobramentos jurídicos significativos. No dia 13 de dezembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou a decisão que impediu a convocação da influenciadora Deolane Bezerra, acusada de envolver-se em um esquema de lavagem de dinheiro por meio de um site de apostas ilegais.

Bezerra é investigada pela Operação Integration, da Polícia Civil de Pernambuco, e a decisão do STF foi tomada com base no direito constitucional da não autoincriminação. O julgamento foi um marco importante no processo da CPI, pois limitou a atuação da comissão ao definir os parâmetros legais para a convocação de investigados e testemunhas.

Entretanto, a CPI das Bets se deparou com um novo desafio político em 14 de dezembro, quando o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sinalizou que agiria para encerrar a comissão antes do prazo estipulado, que seria até abril de 2025. Essa mudança de postura gerou especulações sobre os motivos por trás do movimento. Pacheco, apesar de não ter poder regimental direto para encerrar uma CPI, pode influenciar o andamento dos trabalhos através de articulações políticas.

Rodrigo Pacheco (PSD), presidente do Senado Federal | Foto: Sérgio Lima

Ele recebeu denúncias sobre um possível esquema de extorsão envolvendo lobistas do setor de apostas e membros da própria comissão. Segundo o relato do senador Ciro Nogueira (PP-PI), um lobista conhecido como Silvio de Assis teria pedido R$ 40 milhões a um empresário para evitar que ele fosse convocado a depor na CPI. A acusação de extorsão envolveu alegações de que Assis teria influência sobre certos membros da comissão e que poderia manipular os depoimentos de empresários do setor.

A relatora da CPI, Soraya Thronicke, negou qualquer vínculo com o lobista e reagiu com indignação às acusações de extorsão. Ela também qualificou as alegações como difamação e calúnia. No entanto, o episódio trouxe à tona o questionamento sobre a integridade das investigações, além de gerar críticas de que o processo poderia estar sendo utilizado por certos interesses para pressionar os envolvidos.

A especulação em torno das acusações de suborno e extorsão trouxe um caráter de desconfiança ao processo, o que, segundo analistas, pode ter influenciado a postura de Pacheco em relação à CPI.

Esse movimento para o encerramento antecipado da CPI das Bets remete a episódios passados, como o fim abrupto da CPI das Apostas Esportivas na Câmara dos Deputados, em 2023. Na ocasião, a comissão foi encerrada antes de concluir suas investigações, após denúncias de que o relator da comissão, deputado Felipe Carreras (PSB-PE), teria pedido R$ 35 milhões a representantes do setor de apostas em troca de proteção durante as investigações.

A relação entre políticos e lobistas na manipulação de CPIs tem sido uma preocupação recorrente, especialmente quando há envolvimento de setores financeiros e empresariais de grande porte, como é o caso das apostas esportivas.

Com a CPI das Bets em sua reta final, há um crescente debate sobre o impacto que essas investigações terão no mercado de apostas no Brasil e nas políticas públicas relacionadas ao setor. A pressão para o encerramento da comissão, somada a acusações de extorsão e manipulação, coloca em xeque a eficácia do processo de investigação.

Para o setor de apostas, a continuidade ou não da CPI pode determinar o futuro da regulamentação e da fiscalização das apostas esportivas no Brasil. Em meio a esses eventos, é possível perceber que a CPI das Bets se tornou um ponto de articulação entre o interesse público e as pressões políticas e empresariais.

O desfecho da comissão, seja com o encerramento antecipado ou com a continuidade das investigações, terá implicações significativas para o setor de apostas, para o funcionamento das CPIs no Congresso e para a credibilidade das investigações parlamentares no Brasil. A tensão política, jurídica e econômica se mantém no centro desse processo, refletindo a complexidade das questões envolvidas.

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