A Copa das Mudanças (de opinião)

30 junho 2014 às 14h29
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“Fui pra rua, protestei, li cartazes de pessoas tão indignadas quanto eu, gritei o mesmo coro dos que ali estavam. Então a Copa chegou, e eu (brasileiríssimo) vesti a camisa. Sim, a camisa oficial da Seleção Brasileira custando mais de trezentos reais”
Renato Oliveira da Silva
Especial para o Jornal Opção Online
Antes de começar a Copa do Mundo de futebol, há coisa de um ano ou mais, quando a FIFA
veio a Goiânia vistoriar a cidade e os centros de treinamento dos nossos clubes, para depois decidi se seríamos ou não cidade-sede de algumas partidas, eu (goiano) estava realmente empolgado.
Inocente demais, vejo hoje. Acreditava que as belezas goianas atrairiam os estrangeiros, e que investimentos seriam feitos aos montes. Imaginei o Serra Dourada lindo, cheio do glamour dos estádios da Copa. Não, eu não acreditava em escolhas baseadas em influências políticas. Não para isso!
Depois que perdemos a indicação, me senti derrotado. Eu (brasileiro) entrei na onda de que a Copa seria um fiasco. Desvio de dinheiro público, falta de investimentos no local correto,
preferindo hospitais e escolas em vez de “elefantes brancos” em Manaus, por exemplo. Fui pra rua, protestei, li cartazes de pessoas tão indignadas quanto eu, gritei o mesmo coro dos que ali estavam.
Então a Copa chegou, e eu (brasileiríssimo) vesti a camisa. Sim, a camisa oficial da Seleção
Brasileira custando mais de trezentos reais. Comprei uma bandeira no camelô e coloquei no meu carro. Sem falar nas bandeirolas penduradas dos dois lados do mesmo carro. Daí pra frente a coisa piorou: entrei em vários bolões, e sempre apostava em goleada da “Seleção Canarinho”. Agora estamos na fase “mata-mata” e estou sem unhas, devidamente corroídas pela ansiedade. Não me lembro mais das frases que li naquele protesto, mas acho que era alguma coisa sobre “centavos” ou “Fred não!”. Os assuntos se misturam em minha cabeça.
Outro dia, antes da Copa começar, fui ajudar uma pessoa que teve dois pneus furtados dentro do estacionamento de um supermercado em Goiânia. Fiquei muito indignado, e o teor de Copa do Mundo no meu sangue caiu bastante. Onde está a segurança nesta cidade? Opa! Me lembro de algumas das frases daqueles cartazes. Me lembrei até mesmo de uma notícia sobre o altíssimo índice de homicídios em Goiânia. Ah, acabei de me lembrar o motivo de ter colocado o carro que eu gostava tanto à venda: está “visado demais”.
São dois mundos tão próximos e tão distantes e que cabem no mesmo telejornal. É a
realidade de muitos brasileiros, os mesmos que associarão (ou não) o resultado do Brasil na Copa do Mundo às suas intenções de voto este ano. Isso se não acontecer nenhum outro fato até lá, porque o “mensalão” é coisa do passado. Aliás, o que é “mensalão” mesmo?
Renato Oliveira da Silva, 37 anos, Servidor Público Federal, Formado em Ciência da Computação