Compromissos assumidos pelo Brasil na COP 26 conflitam com criação de gado

01 janeiro 2022 às 17h16

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Metas de reduzir 30% de suas emissões de metano até 2030 e de zerar o desmatamento ilegal até 2028 não poderão ser alcançadas se país mantiver a forma que produz gado

Na última Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 26), realizada em Glasgow, Escócia, o Brasil assumiu dois compromissos que esbarram em seus próprios interesses financeiros. Para atingir as metas de reduzir 30% de suas emissões de metano até 2030 e de zerar o desmatamento ilegal até 2028, o maior obstáculo é também um dos principais produtos de exportação: o gado.
Enquanto o animal é responsável por produzir o metano, gás de efeito estufa, parte de suas pastagens advém de áreas ilegalmente griladas e desmatadas. O Brasil tem 218 milhões de cabeças de gado (cinco milhões a mais do que o número de pessoas em sua população). O arroto bovino libera metano, que retém 25 vezes mais calor do que o CO2 na atmosfera. Dados do Observatório do Clima mostram que 97% das 20,2 milhões de toneladas de metano emitidas pelo Brasil vêm da agropecuária, na forma de fermentação entérica (o arroto bovino) e de dejetos do gado.
Seria possível prover pasto para todo esse gado sem derrubar mais árvores florestais, segundo estudo do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon). Seria inclusive menos oneroso para a coletividade ao longo prazo; mas, para o grileiro que se apropria de terras públicas, o desmatamento é a principal via de acesso a pastagens. Cerca de 46% das emissões brasileiras de CO2 são decorrentes de mudanças do uso da terra e a transformação da floresta em pasto é o primeiro problema.
Um estudo do Instituto de Pesquisas Ambienais da Amazônia revelou que as pastagens ocupam 75% das áreas desmatadas nas terras públicas ocupadas em boa parte por grilagem. De 1997 a 2020, segundo a pesquisa, 21 milhões de hectares foram destruídos, ou 8% dos 276,5 milhões de hectares de florestas públicas da Amazônia Legal.