Em viagens nesta semana, Dilma insistirá na acusação, mas a presidente da Petrobrás ofereceu munição para a campanha eleitoral da oposição

Estatal brasileira de petróleo vive sucessão de escândalos: aparelhamento e gestões ineficientes causam prejuízos
Estatal brasileira de petróleo vive sucessão de escândalos: aparelhamento e gestões ineficientes causam prejuízos

A. C. Scartezini

A pausa desta Páscoa entre feriados oferece à presidente Dilma Rousseff alguns dias mais brandos em relação ao escândalo em torno da compra da refinaria de Pasa­de­na, cuja revelação entra agora no se­gundo mês. A ordem no PT é manter o confronto acusando a oposição de ser inimiga da Petrobrás.

Acusação que Dilma deve repetir em viagens pelo país durante a semana, como prometeu no discurso da última segunda-feira no Porto de Suape em Pernambuco, onde acusou a oposição de tentar destruir a Petrobrás com o caso Pasadena. “Não ouvirei calada a campanha negativa dos que, por interesse político, não hesitam em ferir a imagem da empresa”, garantiu.

Aquele foi o primeiro discurso em que Dilma mencionou o escândalo, 25 dias depois da revelação do fato, em 19 de março. A presidente demorou a falar a respeito, mas não poderia mais retardar a menção em público. No dia seguinte, a presidente da Petrobrás, Maria das Graças Foster, tinha encontro marcado a respeito com o Senado.

Na linha de acusação sobre destruição da petroleira, o alvo principal é o PSDB do presidenciável Aécio Neves. Dilma recordou no discurso uma ideia que surgiu no governo FHC, há 12 anos, de mudar o nome da Petrobrás para Petrobrax. Seria uma solução de marketing para internacionalizar a empresa sob uma nova marca mais universal.

Mas a presidente acusou o projeto de mudança de ser uma “manobra sorrateira” para a venda da empresa que começava por lhe retirar o sufixo ‘bras’ da marca. Retomou ali o antigo discurso de Lula que acusa os tucanos de pretenderem a privatização das principais empresas públicas.

No dia seguinte, a oposição, que aqui se estende ao presidenciável Eduardo Campos (PSB), recebeu de graça as cenas das mais de seis horas do depoimento de Graça Foster no Senado a respeito de escândalos da petroleira.

Entre as cenas, há aquela em que Foster afirmou que Pasadena rendeu ao país o prejuízo irrecuperável de 530 milhões de dólares. Acrescente-se a imagem, mais forte, daquele momento em que repete quatro vezes que a compra de Pasadena, em 2006, foi mau negócio.

“Não foi um bom negócio. Não foi, definitivamente, um bom negócio”, comunicou. “Hoje, olhando aqueles dados, não foi um bom negócio. Não há como reconhecer na presente data que se tenha feito um bom negócio, isso é inquestionável do ponto de vista contábil”, emendou. Enquanto ela dizia isso, as ações da Petrobras caíram 3,8% na bolsa.

A reiteração do mau negócio com a ênfase corporal de Foster não correspondeu a um gesto de humildade de quem reconhece um erro. Menos ainda representou um pedido de desculpa pela operação malfeita com o aval de Dilma como presidente do conselho de administração da Petrobrás no governo Lula.

A postura de Foster soou mais como imposição de quem não queria continuar a discutir o assunto. Algo como quem reconhece uma falha, não se desculpa e encerra o diálogo com uma intimação do tipo “estamos conversados e não se fala mais disso”. Acontece que o caso pode não morrer mesmo depois de uma determinação como a de Foster nem do que vier depois.