Comer sempre os mesmos alimentos, a chamada monotonia alimentar, contribui para a perda da biodiversidade mundial, apontou um estudo da Universidade de São Paulo (USP). Cerca de 90% do que os humanos comem provêm de, no máximo, 15 culturas, com 50% centrados em soja, trigo e milho. O estudo buscou alternativas para reduzir os resultados adversos do atual sistema agroalimentar e melhorar a produção local, saudável e diversificada.

O sistema agroalimentar é responsável por um terço das emissões de gases de efeito estufa do mundo. Por trás disso, há um sistema de produção de alimentos que privilegia extensas monoculturas de poucos grãos e cereais, responsáveis por desmatamento, perda de biodiversidade e, em última instância, o aquecimento global.

A Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) reconhece o crescimento agrícola contemporâneo como o principal fator global de destruição da biodiversidade. De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), as emissões do sistema agroalimentar mundial foram de 16,5 mil milhões de toneladas de gases de efeito de estufa em 2019 – um aumento de 9% desde o início do milênio.

“A dependência da alimentação humana do comércio global de poucos produtos distribuídos por algumas poucas empresas representa uma ameaça que a cooperação multilateral deve enfrentar”, diz trecho do estudo. Para os pesquisadores, é necessário fortalecer as capacidades produtivas, promover a diversidade alimentar e as culturas culinárias locais no âmbito de uma economia do conhecimento baseada na natureza.

Há 7.039 espécies de plantas catalogadas no mundo como comestíveis, e 417 delas são cultiváveis em escala. Além disso, há constante pesquisa e descobertas mundiais de novas plantas e fungos que podem ser consumidos. Em 2021, por exemplo, um levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) mostrou que, das 2.253 espécies de árvores e palmeiras catalogadas na Amazônia, 1.037 servem como alimento e 1.001 têm propriedades medicinais.

As consequências geopolíticas do atual sistema agroalimentar também são preocupantes. Mais de 60% do suprimento agrícola global está concentrado em cinco países,[12]representando um risco sistêmico que se tornou ainda mais evidente com a guerra na Ucrânia. Secas como as que atingiram a Índia, a França e o Rio Colorado nos EUA em 2022 e causaram imensas perdas agrícolas no Cerrado e no sul do Brasil estão se tornando cada vez mais um fenômeno global.

Fortalecendo a biodiversidade

É preciso deter o avanço da destruição e promover a regeneração da sociobiodiversidade das florestas tropicais. O estudo traz algumas medidas de combate, como recuperação da biodiversidade do solo, gereciamento de áreas agroalimentares e o desenvolvimento de uma agricultura urbana.

Com o gereciamento dessa áreas, seria possível reduzir o número fertilizantes nitrogenados e agroquímicos no solo. Da mesma forma, a criação de animais deve ser gerenciada usando métodos e técnicas que eliminem a aplicação ‘preventiva’ de antibióticos.

Os pesquisadores também indicaram que a recuperação da biodiversidade do solo é uma das premissas mais essenciais para evitar o colapso da oferta agrícola. Pesquisas sobre sistemas agroflorestais indicam que eles são uma solução para a perda de biodiversidade e podem capturar mais carbono do que o reflorestamento comum.

A agricultura urbana pode atender às necessidades e aumentar a diversidade de vegetais na dieta. Além da função de fornecimento de alimentos, a produção de alimentos dentro e perto das cidades estimula mudanças nos padrões de consumo, tem efeitos pedagógicos ambientais e alimentares, gera renda e desenvolvimento local e tem efeitos ecossistêmicos.

É necessário desenvolver um sistema agroalimentar totalmente desvinculado da destruição das florestas e menos dependente de insumos químicos. Além disso, o sistema deve fortalecer a segurança global por meio do aumento das economias de proximidade na agricultura, na pecuária e nas dietas.