Sem experiência política e com recursos financeiros insuficientes para bancar e mudar o rumo de uma campanha. Assim é o perfil dos sete candidatos a vice-prefeito de Goiânia, com exceção do ex-vereador Paulo Daher (PP), que compõe a chapa do endinheirado senador e pré-candidato a prefeito, Vanderlan Cardoso (PSD).

Com papel fundamental na conquista de votos e, principalmente na arrecadação financeira para a campanha, especialistas apontam que as escolhas dos sete pré-candidatos a vice ocorreram devido à falta de opção por parte dos partidos que disputam o pleito municipal. 

“A gente percebe que os vices escolhidos, de fato, não têm muito peso para agregar as chapas. A gente pode encarar isso como uma ausência de lideranças dos partidos, daqueles partidos que se coligaram com quem está lá fazendo cabeça de chapa”, explicou o cientista político, Marcos Marinho. 

O especialista caracteriza o cenário como sendo atípico: “Se a gente pegar os players de Goiânia, nenhum deles têm como vice, alguém que possa cumprir com esses dois papéis: abrir portas ou dar dinheiro”, reforçou.

Marcos diz que o cargo de vice em Goiânia não é cobiçado politicamente, visto que não as ofertas para outros trabalhos são escassas. E, por isso, os políticos tendem a optar a se aventurar como vereador, visando alçar cargos de deputado estadual ou federal nas eleições de 2026.

Falta de experiência

A falta de experiência dos candidatos, porém, não deve influenciar de forma negativa uma possível gestão, de acordo com Marcos. Isso porque, mesmo exercendo uma posição de liderança, a cidade é comandada pelo prefeito e não pela figura secundária. O fato, no entanto, depende dos acordos firmados durante a composição da chapa. 

“Não é incomum, em muitas cidades, você vê o vice como alguém que fica só em casa, que nem gabinete tem na prefeitura. Ele participa do processo eleitoral, mas de fato ele não faz nada de prático na gestão. Agora, há alguns vices que ocupam pastas, que assumem secretarias, que têm capacidade de compor e de agregar de maneira prática”, afirmou.

“Nós tivemos muitos gestores que nunca ocuparam cargos públicos, ou estiveram só no legislativo e nunca no executivo, que saíram muito bem. Então, assim, não é uma regra você tem que ter ocupado, mesmo porque quem ocupou, uma vez, precisou ser novato algum dia. Então, assim, não é uma condição determinante ter experiência para dizer se alguém vai sair melhor ou pior ocupando o cargo de vice”, reforçou o também cientista político, Guilherme Carvalho.

Papel do vice

Guilherme diz que a principal característica do vice, tanto no pleito quanto na gestão, é de agregar mais liderança. Normalmente, o vice é escolhido para trazer uma gama de lideranças que ainda não estavam no arco de alianças da chapa somente com o prefeito.

Ou seja, é uma espécie de chave para abrir portas, organizar a entrada em alguns grupos sociais e classistas, que ele tende a ter mais aderência, reforça Marcos. Há a possibilidade também de financiar a campanha, a fim de eleger alguém que depois vai ajudá-lo a se eleger ou a subir um cargo no futuro. 

“Depois que o Michel Temer fez o que fez com a Dilma Rousseff, ele adquiriu aí uma estrutura onde o vice não é uma pessoa morta no processo. Se ele de fato tiver capital político, tiver atuação política, vai apenas observar, principalmente pra ver a tendência de grupo político que tá se formando em volta do prefeito, em volta do governador, em volta do presidente”, afirmou Marcos.

Para o pesquisador político Anderson Barros Figueirêdo, o vice culturalmente não é levado a sério na escolha de um candidato, seja ele para o cargo de presidente, governador ou prefeito. Até mesmo pesquisas eleitorais deixam de fora a figura secundária.

Ele, no entanto, afirma que é importante observar as chapas, principalmente com as trocas de cadeiras em eleições anteriores, por motivo de cassação do mandato ou morte, por exemplo. As mudanças podem levar às cidades a más administrações.

O pesquisador diz que a prática tem se mostrado ineficiente e desastrosa. Nas duas maiores cidades do estado, Goiânia e Aparecida de Goiânia, vivemos duas administrações de vices: Rogério Cruz (Solidariedade) e Vilmar Mariano (UB). Em Goiânia, pela fatalidade da morte do Maguito Vilela, em 2021, e em Aparecida, pela desistência do prefeito reeleito Gustavo Medanha (MDB), para disputar o Governo do Estado em 2022. 

“Ambas as administrações se mostraram ineficientes, desastrosas e que não caíram no gosto popular. Em ambas as cidades, os prefeitos estão relegados a segundo plano no jogo político que se apresenta, após uma gestão sem brilho, para não dizer, desastrosa”, concluiu.

Veja quem são os vices

Goiânia conta com sete pré-candidatos a vice-prefeito. São eles: 

  • Leonardo Rizzo (Novo) – vice-candidato ao lado de Fred Rodrigues, do PL

Fred Rodrigues, do PL, anunciou Leonardo Rizzo, do Novo, como seu vice, numa tentativa de aliar a experiência política do PL com a proposta de renovação trazida pelo Novo. Leonardo Rizzo busca representar os valores da eficiência e inovação, com uma carreira marcada por sua atuação no setor privado e vontade de aplicar esses princípios na gestão pública. A chapa tenta atrair eleitores que desejam mudanças, sem abrir mão da estabilidade e da experiência.

Até recentemente, ele se apresentava como pré-candidato à prefeitura de Goiânia. Considerando a quantidade de candidatos de direita, a união entre Rodrigues e Rizzo parece tentar somar forças de ideologias similares. Leonardo Rizzo é formado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e possui MBA em Gestão Empresarial. Com uma carreira no setor privado, atuou como diretor em empresas de construção civil e tecnologia, sendo conhecido por sua capacidade de liderança e inovação.

  • Jerônimo Rodrigues (PSB) – vice-candidato ao lado de Adriana Accorsi, do PT

Jerônimo Rodrigues, vice de Adriana Accorsi pelo PSB, é um professor e ativista dos direitos humanos com uma carreira marcada pela luta contra a desigualdade e a discriminação. Rodrigues é um nome bastante conhecido no meio da educação, porque já atuou como reitor do Instituto Federal de Goiás. Sua presença na chapa de Accorsi reforça a proposta de uma administração inclusiva e voltada para a equidade, reforçando o progressismo na candidatura petista.

Jerônimo Rodrigues começou a atuar como professor concursado mesmo antes de se formar. Sua primeira experiência foi na escola técnica, sendo professor de química. Até que, durante o governo Sarney, se prontificou para lecionar em Jataí, em uma escola técnica que foi montada em 1988.

Rodrigues auxiliou na instalação da instituição, onde ficou até 1994, quando voltou para Goiânia. Mais tarde, aquela escola se tornaria a Universidade Federal de Jataí. Pela década seguinte, ele atuou em diversas escolas e universidades, inclusive a Pontifícia Universidade Católica de Goiás.

Por fim, em 2008, essa jornada o levou aos Institutos Federais, onde atuou como reitor, o que o levou a interagir com o Conselho Nacional dos Institutos Federais, onde era presidente em 2016, quando ocorreu impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Quando Jair Messias Bolsonaro assumiu a presidência, Jerônimo relatou que seus colegas confiaram em sua habilidade diplomática para representar o Conselho Nacional. “Até mesmo porque ninguém sabia como seria, e não foi muito bom”, comenta.

  • Tenente-coronel Claúdia (Avante) – vice-candidato ao lado de Sandro Mabel, do UB

Sandro Mabel, do União Brasil (UB), formou sua chapa com a tenente-coronel Cláudia Lira, do Avante. Com uma carreira militar marcada por posições de liderança, Cláudia representa a segurança e a disciplina, valores que são centrais na proposta de Mabel para Goiânia.

A aliança entre Mabel e Cláudia busca atrair eleitores que estão preocupados com a segurança pública e que desejam uma administração firme e comprometida com a ordem. Além disso, ele conta com a representatividade feminina.

Tenente-coronel Cláudia tem uma carreira militar de mais de 20 anos na Polícia Militar de Goiás, onde ocupou cargos de liderança e comando. Com formação na Academia de Polícia Militar, sua atuação é marcada pela disciplina e pela defesa de políticas públicas voltadas para a segurança. Sendo assim, Cláudia representa uma proposta de gestão pautada pela ética, firmeza e compromisso com a ordem pública.

  • Bartira Macedo (PSDB) – vice-candidato ao lado de Matheus Ribeiro, do PSDB

Matheus Ribeiro, do PSDB, escolheu Bartira Macedo como sua vice, numa chapa que representa a renovação e a eficiência na gestão pública. Bartira, uma servidora pública de carreira com vasta experiência em saúde e educação, é vista como uma figura técnica e competente, capaz de contribuir para uma administração focada em resultados.

A escolha de uma chapa composta por membros do mesmo partido reflete a confiança do PSDB em sua base eleitoral e na força de seus quadros. Enquanto isso, essa também serve como reforço à sua própria imagem, ainda que aparente enfraquecido pela falta de articulação política.

Bartira cresceu em constante mudança entre dois estados: Bahia e Goiás. Depois, foi na capital goiana que ela cursou a faculdade de direito. Era uma jovem estudiosa, que utilizava os livros didáticos da tia (professora) para aprender.

Se graduou em Direito na PUC-GO, se especializou em processo penal e fez seu doutorado na PUC-SP. Até 2006, seu foco era a advocacia. Em seguida, voltou para Goiás, onde se tornou professora na Universidade Federal de Goiás (UFG), logo se tornou Diretora da Faculdade de Direito, em 2007.

Paulo Daher (PP) – vice-candidato ao lado de Vanderlan Cardoso, do PSD

Vanderlan Cardoso, do PSD, uniu forças com Paulo Daher, do PP, formando uma chapa que combina experiência legislativa e conhecimento técnico. Daher, que é médico e ex-deputado estadual, traz para a chapa sua expertise em saúde pública e sua experiência em cargos executivos.

Paulo Daher é médico, formado pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e especializado em Cardiologia. Ele atuou em hospitais públicos e privados; e além disso, foi deputado estadual e secretário municipal de Saúde em Aparecida de Goiânia.

  • Jaroslaw Daroszewski (Mobiliza) – vice-candidato ao lado de Rogério Cruz, do Solidariedade

Rogério Cruz, candidato à reeleição à Prefeitura de Goiânia pelo Solidariedade, escolheu Jaroslaw Daroszewski, conhecido como “Darô,” do Mobiliza, como seu vice. Daroszewski, de 33 anos, é advogado e líder estudantil, formado em Direito pela PUC-GO, com especialização em direito agrário, agronegócio e constitucional.

Ele tem um escritório de advocacia em Goiânia e já atuou como assessor jurídico de políticos do Solidariedade. Seu histórico inclui uma forte atuação acadêmica e vínculos familiares na política de Goiás e Tocantins.

  • Luciana Amorim (UP) – vice-candidato ao lado do professor Pantaleão, da UP

A Unidade Popular (UP) aposta em uma chapa que reflete seu compromisso com as pautas populares e sociais. Então, o professor Pantaleão, candidato a prefeito, escolheu Luciana Amorim como vice, uma militante social conhecida por sua atuação em defesa dos direitos humanos e da justiça social.

A presença de Luciana na chapa reforça a proposta de uma administração voltada para as necessidades das classes trabalhadoras e para a defesa dos direitos básicos da população. Portanto, om uma carreira marcada pelo ativismo e pela coordenação de projetos sociais, Luciana representa um compromisso com a justiça social e a luta pelas classes trabalhadoras.