O depoimento do ex-ajudante de ordens Mauro Cid ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), trouxe novos desdobramentos sobre o envolvimento do ex-presidente Jair Bolsonaro em planos golpistas. Cid confirmou que Bolsonaro tinha pleno conhecimento da chamada “minuta golpista”, chegando a sugerir alterações no documento. A colaboração premiada de Cid, validada após três horas de audiência, reforça as investigações da Polícia Federal (PF) sobre reuniões e estratégias que visavam um golpe de Estado durante o período de transição de governo, após a derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022.

Segundo o depoimento, Bolsonaro não apenas estava ciente do conteúdo da minuta, como participou de debates sobre a decretação de estado de sítio e outras medidas que buscavam questionar a legitimidade do processo eleitoral. A Polícia Federal identificou que oficiais das Forças Armadas, ministros e assessores participaram de reuniões organizadas pelo ex-presidente, nas quais foram discutidas ações para interromper a transição de poder.

Em um desses encontros, realizado no Palácio da Alvorada em 7 de dezembro de 2022, Bolsonaro teria apresentado uma versão do documento que previa a decretação de estado de defesa e a criação de uma comissão para “apurar a conformidade e legalidade do processo eleitoral”. O general Marco Antônio Freire Gomes e o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior confirmaram, em depoimentos à PF, que o documento foi tema de discussão.

Reunião na casa de Braga Netto

Além do envolvimento direto de Bolsonaro, Mauro Cid detalhou a realização de uma reunião na residência do ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto, em 12 de novembro de 2022. Segundo Cid, o encontro foi um dos momentos-chave para planejar um golpe de Estado. Braga Netto, que foi vice na chapa de Bolsonaro em 2022, está entre os indiciados no inquérito sobre o golpe.

Relatórios da PF apontam que, após essa reunião, integrantes das forças especiais — conhecidos como “kids pretos” — começaram a monitorar Alexandre de Moraes. O objetivo seria traçar um plano que incluía os assassinatos do ministro do STF, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente Geraldo Alckmin. Apesar de negar envolvimento direto nesses planos, Cid confirmou a existência de discussões sobre o monitoramento e implicou Braga Netto nas articulações.

Colaboração premiada e implicações jurídicas

A disposição de Mauro Cid em fornecer detalhes sobre os eventos foi determinante para que Alexandre de Moraes validasse o acordo de colaboração premiada firmado com a Polícia Federal. O ministro destacou que as novas informações esclareceram omissões anteriores e corroboraram evidências já coletadas pela PF.

Apesar disso, Bolsonaro continua negando qualquer intenção golpista. Em recente declaração ao Metrópoles, o ex-presidente afirmou que “não é crime discutir a Constituição”. No entanto, as evidências acumuladas complicam sua situação jurídica. A PF já concluiu que a não execução do golpe se deveu à recusa dos comandantes do Exército e da Aeronáutica em apoiar a ação.

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