O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) completou a primeira semana preso na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, em um ambiente de isolamento rígido determinado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Entre momentos de introspecção, crises de soluço e tentativas da família de estabilizar seu humor, Bolsonaro organiza uma rotina marcada por leituras, televisão ligada o dia inteiro e visitas restritas.

Segundo aliados, o ex-presidente chorou ao ser informado, na terça, de que deixava a condição de preso preventivo para cumprir pena definitiva de 27 anos, 3 meses, pela condenação no processo sobre a tentativa de golpe de Estado. Ele está preso desde o último sábado, 22, por tentativa de golpe de estado.

Na pequena sala de 12 m²,equipada com cama, mesa, frigobar, ar-condicionado e TV, Bolsonaro tenta manter hábitos antigos. Recebeu do filho Flávio o livro Metanoia, de JB Carvalho, e revistas de palavras cruzadas levadas por Jair Renan, um de seus passatempos desde os anos 1970, quando publicava “cruzadinhas” no Estadão.

Aliados afirmam que Bolsonaro evita a comida da PF e só consome refeições levadas pela família. A desconfiança sobre envenenamento, considerada infundada por policiais, levou Michelle Bolsonaro e o cunhado Eduardo Torres a organizarem uma rotina própria de alimentação.

As crises de soluço, relatadas desde o fim de semana, pioraram na quinta, obrigando atendimento médico dentro da cela, sem necessidade de remoção. O episódio reacendeu pressões de aliados por prisão domiciliar, rejeitada pela Corte.

A defesa recebeu com alívio a decisão de Moraes de manter Bolsonaro na PF, evitando a transferência para o Complexo da Papuda. Ainda assim, a percepção do entorno é de que o ambiente político se tornou desfavorável a qualquer avanço da anistia, bandeira adotada por parlamentares do PL.

A PF endureceu o protocolo interno desde o primeiro dia de prisão. Vidros foram cobertos com película de proteção e o fluxo de servidores, reduzido. Apenas familiares, advogados e médicos podem entrar na área da custódia.

Michelle esteve com o marido no domingo e na quinta. Carlos e Flávio o visitaram na terça. Jair Renan retornou na quinta. São os únicos momentos em que Bolsonaro deixa o isolamento da cela.

Fontes próximas relatam que o ex-presidente oscila entre silêncio prolongado e breves reações a notícias exibidas na TV. Segundo aliados, ele alterna dias mais conversativos com outros marcados por abatimento.

Do lado de fora, parentes e políticos do PL montaram uma estrutura paralela para tentar minimizar o impacto do encarceramento. Além das refeições e livros, a rotina inclui acompanhamento médico contínuo.

Mesmo isolado, Bolsonaro observa de longe um Congresso reticente e um ambiente político que não reage à altura das expectativas do PL, que ainda aposta na narrativa da anistia, embora parlamentares admitam reservadamente que o tema perdeu tração.

Enquanto isso, a condenação avança e a rotina do ex-presidente se ajeita entre leituras motivacionais, cruzadinhas antigas, crises de soluço e a “quentinha” da família, em um início de prisão marcado mais por drama pessoal do que por estratégia política.

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