Caso curva cresça mais do que o esperado nos próximos 10 dias, Caiado promete editar novo decreto
29 abril 2020 às 12h42

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Em live, governador aborda divergências com o presidente Jair Bolsonaro e enfatiza posicionamento contra possível impeachment: “voto deve ser respeitado”

O governador Ronaldo Caiado (DEM) participou do quadro “Os governadores e a pandemia” do Valor Econômico, nesta quarta-feira, 29. Na live, conduzida pela editora-assistente de Política, Malu Delgado, o governador defendeu a união entre os Poderes no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus e posicionou-se contra um possível impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
Segundo ele, todas as atenções devem se voltar para a questão de saúde. “Jamais imaginamos confrontar uma situação como essa, sem precedentes no mundo e com potencial de colapsar a saúde e a economia”, acentuou.
Ao abordar os decretos editados em Goiás, Caiado destacou que toda a construção dos documentos foi baseada em dados científicos e na experiência de outros países. Ele pontuou que o Estado alcançou o maior nível de isolamento e que isso diminuiu a curva a um patamar menor do que o melhor cenário traçado.
“Começamos a liberar algumas atividades e seguimos em um nível considerado baixo. Estamos com 661 casos e 26 pacientes internados em UTI, e infelizmente chegamos a 27 óbitos. Temos feito um trabalho de conscientização muito forte, com orientações como a do uso da máscara. Mas, sabemos que existe um processo de fadiga e reação por conta desses resultados, as pessoas querem extrapolar”, pondera o governador.
De acordo com o governador, a queda no índice de isolamento é preocupante, por isso, se no decorrer desses próximos 10 dias a curva crescer mais do que o esperado, ele vai estabelecer um novo decreto restringindo drasticamente todas as atividades, exceto a parte essencial que envolve alimentação e saúde.
Novo ministro e instabilidade política
Para o governador, é cedo para cobrar resultados do ministro da Saúde, Nelson Teich, pois é preciso que ele entenda todo o sistema do SUS, por exemplo, e a parte política. Caiado citou a questão do primeiro hospital de campanha, que já está em condições de ser repassado ao Estado, mas a autorização da transferência não foi feita pelo novo ministro. “Essa transição [de comando] na hora de tamanha turbulência traz um tempo perdido”, observou.
“Vejo [essa instabilidade política] com muita preocupação, vivi Brasília no impeachment de Collor e da Dilma, vivi momentos tensos da política nacional e no momento atual não temos ambiente para pensar em impeachment”, destacou o governador, ao enfatizar que é preciso respeitar o voto do eleitor e que isso sirva de aprendizado.
O governador apontou ainda que o momento já é crítico e adicionar outras crises como a política pode levar ao caos. “A prioridade de todos os governos de forma suprapartidária deve ser o coronavírus, que já fez as maiores potências do mundo se ajoelharem”, disse. “Infelizmente estamos vendo o foco se voltar para a crise política, deixando de ter sensibilidade com a saúde e a vida do brasileiro, é deprimente assistir a isso”, acrescentou.
Em Goiás, Caiado destacou que os Poderes estão em sintonia e já chegaram a vários consensos, inclusive em relação a LDO, que será enviada amanhã a Alego. “Temos que nos unir para tomas as decisões mais duras possíveis com o objetivo de salvar vidas”, defendeu. “Não delibero nada sem a presença do presidente dos Poderes. Semanalmente fazemos uma avaliação, por isso estamos evoluindo com resultados objetivos”, acrescentou.
Responsabilidade
Ao ser questionado sobre as divergências com o presidente, Caiado disse ter “muito mais credenciais” para debater o assunto do que Jair Bolsonaro. “Defendo teses baseadas na ciência, se ele pensa diferente problema dele, não tenho que seguir embasamento político”, justificou, ao indicar que terá que responder se o crescimento de óbito atingir patamares como o do Amazonas. “Então eu tenho responsabilidade para tomar decisões”, encerrou.
Sobre a pressão de empresários para a reabertura das atividades, o governador explicou que teve um bom apoio da classe empresarial, apesar de o gesto de amor ao próximo ser “pouco aflorado” em alguns que gostam de provocar roleta russa com a cabeça dos outros”. Sobre o descumprimento dos protocolos, Caiado disse que as punições já foram deferidas pelo judiciário e o MP já orientou procuradores. Segundo ele, a partir de agora, cada vigilante da área sanitária poderá fazer um check list do estabelecimento que será multado e fechado caso descumpra as regras.
Por fim, o governador relatou que o IPO (Oferta Pública de Ações, em inglês) da Saneago será adiado para o ano que vem, assim como a privatização da Celg G&T. O governador também explicou que um cardápio de obras será apresentado e as concessões e autorizações para obras estão sendo trabalhados nestes últimos dias. “Sabemos que teremos o crescimento do desemprego, todos os países enfrentaram isso. No entanto, com uma menor taxa de óbitos teremos mais ânimo para buscar a retomada do crescimento da economia”, concluiu.