Brasil lidera Brics em mensagem de união diante de ameaças de Trump

14 fevereiro 2025 às 16h57

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O embate entre o Brics, bloco dos países emergentes formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e os Estados Unidos ganhou mais um capítulo nesta semana, quando o presidente norte-americano, Donald Trump, ameaçou impor tarifas de 100% sobre produtos vindos dos países do bloco econômico. A declaração foi feita logo após o encerramento da primeira reunião do Brics sob a presidência brasileira, em meio a discussões sobre a criação de uma moeda alternativa ao dólar para negociações comerciais. Além da ameaça tarifária, Trump declarou que “o Brics morreu”, intensificando as tensões diplomáticas.
Essa não foi a primeira vez que o líder norte-americano atacou o bloco. Desde o final de 2024, ele tem se posicionado contra a iniciativa de utilizar moedas locais nas transações entre os países membros. Seu governo já havia demonstrado resistência a instituições multilaterais e, ao longo de seu mandato, retirou os Estados Unidos de acordos globais importantes, como aqueles promovidos pela ONU e pela OMS.
Brics reage às declarações de Trump
Antecipando possíveis desdobramentos, o Brics divulgou um comunicado no início da tarde de quinta-feira, antes mesmo da fala de Trump. O texto não menciona diretamente os Estados Unidos, mas reforça a importância da cooperação multilateral diante de um cenário global instável. O documento cita o “contexto de tensões geopolíticas que se aprofundam e que desafiam a frágil ordem multilateral internacional vigente”. Além disso, destaca o protagonismo do Brasil em 2025, à frente da presidência do Brics e da COP30, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas.
A nota reforça a necessidade de diálogo e cooperação internacional, contrapondo-se à postura unilateral adotada por Trump. “O recurso insensato ao unilateralismo e a ascensão do extremismo em várias partes do mundo ameaçam a estabilidade global e aprofundam as desigualdades que penalizam as populações mais vulneráveis em diferentes partes do planeta. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem destacado o potencial do Brics como espaço para construção das soluções de que o mundo tanto precisa. Mais do que nunca, a capacidade coletiva de negociar e superar conflitos por meio da diplomacia se mostra crucial”, diz um trecho do comunicado.
O governo brasileiro também reagiu às declarações do presidente norte-americano. Maíra Lacerda, chefe da assessoria de assuntos internacionais do Ministério do Trabalho, minimizou a fala de Trump e destacou que a repercussão apenas evidencia a relevância do bloco. “O presidente Lula sempre entendeu que o Brics é um agrupamento de países muito importante. Todo esse barulho e esses comentários que têm sido feitos a respeito do Brics por parte do presidente norte-americano validam essa importância. Se não se tratasse de um grupo com relevância política e econômica, ninguém estaria falando desse grupo”, afirmou. Segundo ela, a tendência é de que a ofensiva norte-americana fortaleça ainda mais a união entre os países membros.
O Brics e o impacto global
Criado em 2009, o Brics reúne algumas das principais economias emergentes do mundo. Originalmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, o bloco se expandiu recentemente para incluir Egito, Irã, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Arábia Saudita e Indonésia. Ao longo do ano, são realizadas aproximadamente 150 reuniões entre representantes dos governos, culminando na Cúpula do Brics, quando os chefes de Estado se encontram para formalizar acordos e estabelecer diretrizes políticas e econômicas.
Entre as principais pautas do Brics estão o fortalecimento de instituições multilaterais e a busca por alternativas para impulsionar o crescimento dos países em desenvolvimento. Um dos debates mais estratégicos envolve a possibilidade de adotar moedas locais nas transações comerciais internas, reduzindo a dependência do dólar norte-americano. Essa ideia, no entanto, esbarra na resistência dos Estados Unidos, que veem qualquer tentativa de enfraquecimento do dólar como uma ameaça direta à sua hegemonia econômica.
A postura protecionista de Trump tem sido um obstáculo ao avanço desse projeto. O presidente norte-americano já sinalizou que, caso o Brics continue avançando na criação de uma moeda alternativa, poderá impor tarifas comerciais de 100% sobre produtos importados dos países do bloco. Essa medida, se concretizada, teria um impacto nas exportações brasileiras e na economia global como um todo.
Com a presidência do Brics em 2025, o Brasil tem um papel central na condução dos diálogos entre os países membros e na busca por soluções para os desafios impostos pelas tensões comerciais com os Estados Unidos. O governo brasileiro tem defendido uma abordagem diplomática para evitar retaliações econômicas e, ao mesmo tempo, garantir que o bloco continue expandindo sua influência global.
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