As brasas ainda acesas no choque da base aliada poderão ser vistas por Lula
17 março 2014 às 16h25
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O fim de semana esfriou o conflito do PMDB com o Planalto como uma pausa para reflexão entre as partes, mas não apagou a fogueira de uma vez
No site do Instituto Lula, as informações sobre os movimentos do ex-presidente se congelaram na última quarta-feira quando ele teve um encontro em Roma com o novo primeiro-ministro da Itália, Matteo Renzi. Depois disso, o radar perdeu o contato com os passos de Lula.
Naquele momento, a presidente Dilma Rousseff se recuperava de uma derrota acachapante no Congresso durante a noite anterior: a criação da comissão parlamentar para investigar a Petrobras. Mais tarde veio a convocação ou convite a dez ministros para deporem sobre problemas administrativos na área de cada um.
Ao isolar-se em Roma enquanto deputados aliados ao Planalto desgastavam a presidente em Brasília, ao chamarem ministros ao Congresso para explicar problemas administrativos, Lula se aproximou mais um pouco da possibilidade de ser o candidato alternativo do PT na sucessão presidencial. Poupou-se entre as chamas.
Antes de viajar, Lula esteve no Alvorada com a cúpula petista da reeleição de Dilma para discutir a campanha e os problemas que o governo enfrentaria na Câmara a partir da última terça-feira, quando os deputados do PMDB se dispunham a repensar o apoio do partido à reeleição. Era a insatisfação pelo espaço que coube ao grupo no latifúndio do poder.
Por si, as ausências de Lula em momentos críticos debilitam a sucessora duplamente. Animam a dissidência entre governistas descontentes e, por tabela, estimula no aparelho os anseios pelo retorno do líder ao palácio. Nesse conjunto de circunstâncias, torna mais vulnerável o controle do aparelho político pela sucessora.
No mais, era sedutora a temporada romana que a fábrica de pneus Pirelli oferecia a Lula para ser apresentado ao Matteo Renzi, com quem esteve por mais de uma hora depois de chegar com aparato de chefe de Estado. Cinco carros o escoltavam como batedores. Lula foi, viu e venceu: ofereceu ao rival futebolístico exemplares das camisas 9 e 11 da seleção brasileira.
No Alvorada, Dilma despertou sob as derrotas inesquecíveis na Câmara. Na rebelião de aliados, 267 deputados aprovaram a criação de uma comissão para investigar na Holanda a denúncia de que a empresa holandesa SBM corrompeu funcionários da Petrobras com propinas no aluguel de plataformas petrolíferas. Apenas 28 foram contra a comissão.
Entre os 61 deputados do PMDB presentes, 58 ficaram a favor. No PR, foram 23 apoios entre 25. No PTB, ninguém divergiu entre os 16 que compareceram, todos apoiaram. Idem no PSC, seus nove deputados compareceram e aprovaram. No PP, 12 votos a favor entre 27. No PDT, 4 entre 12. O restante de votos foi contribuição espontânea da oposição.
Agilmente, a Petrobras informou que investiga o caso há um mês. A Polícia Federal entrou em ação e também quer ir ao exterior. Vai aproveitar e investigar um caso que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT), pediu em junho: a compra, no Texas, da refinaria Pasadena pela Petrobras, suspeita de superfaturamento. O Tribunal de Contas da União resolveu auditar os contratos com a SBM.
Havia uma senha naquele placar estrondoso. A dissidência estava liberada na rebelião contra o Planalto. Na manhã seguinte, veio a aprovação de convocação ou convite a dez ministros para irem à Câmara discutir irregularidades ou dificuldades no ministério de cada um. No caso de convite, o ministro vai se quiser. Mas quem, agora, recusará convites da Câmara?