Filho de ex-deputada, aliado de Bolsonaro e padrinho político de Fred Rodrigues, candidato do PL no segundo turno das eleições municipais, em Goiânia, o deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) foi o principal alvo da Operação “Discalculia”, deflagrada pela Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira, 25, em Goiás e Distrito Federal. 

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Polêmico, o professor de inglês, youtuber e ativista digital já esteve no centro de outras investigações, como denúncias de racismo, divulgação de fake news e suposto assédio eleitoral durante a campanha presidencial de 2022. Gayer também se envolveu em um acidente em 2000, quando matou duas pessoas atropeladas, em Goiânia, enquanto dirigia sob efeito de álcool.

Em 2015, ele foi preso novamente por conduzir veículo embriagado na capital de Goiás. Em um dos episódios mais recentes, o parlamentar foi intimado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ataques ao ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, e injúria ao presidente Lula (PT). Ele também chegou a ser condenado por coagir trabalhadores de uma empresa de Goiânia a votarem em Jair Bolsonaro. 

Denúncia de racismo 

A denúncia de racismo contra o parlamentar foi oferecida ao STF em novembro do ano passado, após as deputadas federais do PSOL Erika Hilton (SP), Luciene Cavalcante (SP), Célia Xakriabá (MG) e Talíria Petrone (RJ) acionarem a Procuradoria-Geral da República (PGR). Na peça encaminhada ao Supremo, a PGR afirma que Gayer induziu e incitou “a discriminação e o preconceito de raça, cor e procedência nacional”.

O bolsonarista foi processado por uma fala que proferiu durante uma entrevista a um podcast em junho de 2023. Na ocasião, o apresentador do programa, Rodrigo Arantes, comparou o QI da população da África ao de macacos. 

Nordestinos e galinhas

Em junho deste ano, também viralizou em perfis de esquerda uma fala do deputado associando nordestinos a uma galinha que se contenta em receber “migalhas”. A declaração foi dada durante um evento de educação na Bahia, realizado em maio. 

Na ocasião, o parlamentar bolsonarista relatou uma parábola difundida em perfis conservadores e de direita sobre uma galinha que é depenada por Josef Stalin na União Soviética e, mesmo assim, ao ser solta e lhe oferecerem farelos, o animal volta e corre atrás dele. Para Gayer, os governos de esquerda “fizeram com o Nordeste o que Stalin fez com a galinha”, se referindo a programas de renda.

Assédio eleitoral

Em dezembro do ano passado, o deputado foi condenado pela 7ª Vara do Trabalho de Goiânia a pagar R$ 80 mil por suposto assédio eleitoral durante a campanha presidencial de 2022. O parlamentar é acusado de ter ido a empresas do estado para coagir trabalhadores a votarem no ex-presidente e seu correligionário, Jair Bolsonaro. 

A condenação ocorreu após o Ministério Público do Trabalho (MPT) ter aceitado uma denúncia anônima contra o deputado. De acordo com a procuradora Janilda Guimarães de Lima, Gayer apresentou “conduta acintosa e de total desrespeito ao ordenamento jurídico e pretensão de continuar utilizando-se de organizações comerciais (empresas) para fazer propaganda eleitoral e aliciar votos de seus trabalhadores, através de assédio moral eleitoral, com apoio de empresários”.

Em seu pronunciamento nas redes sociais, o bolsonarista chamou a procuradora de “petista histérica” e caracterizou seu parecer como “esdrúxulo”. A procuradora alega que ele esteve nos empreendimentos durante o expediente e cometeu ilegalidades.

Redes sociais 

Ainda no ano passado, Gayer teve sua conta no X suspensa por decisão judicial após divulgar nas redes sociais uma live feita por um argentino, amigo do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), em que ele faz acusações infundadas sobre as urnas eletrônicas.

Após ter a conta suspensa, Gayer divulgou um vídeo em sua conta no Instagram em que diz que não vai parar, “mesmo que que derrubem todas as minhas redes, eu pego o megafone e vou para a rua e critico o Supremo Tribunal Federal (STF)”.

Filho de ex-deputada e irmão preso 

Gayer entrou na política em 2020, quando se candidatou a prefeito de Goiânia pelo Democracia Cristã (DC), ficando com apenas 8% dos votos válidos. Dois anos depois, usando o mesmo discurso de direita, alçou ao posto de deputado federal. 

Filho da ex-vereadora e ex-deputada Conceição Gayer (MDB | PDT | PDC), um das fundadoras do Centro de Valorização da Mulher (Cevam) e, ao lado de Consuelo Nasser, considerada uma das pioneiras do feminismo em Goiás, o parlamentar bolsonarista também foi cunhado da deputada estadual pelo Tocantins, Luana Ribeiro (PSDB), filha do ex-senador João Ribeiro (PDS | PFL | PL). 

Além disso, o professor é irmão de Frederico Gayer (PL-TO), policial nomeado pelo Governo de Goiás sem concurso, chefe de gabinete da própria mulher na Assembleia do Tocantins e Tesoureiro do PR em 2010, ano em que o então sogro era presidente estadual do partido. Frederico, inclusive, foi condenado por homicídio. 

Gayer se tornou um dos representantes do conservadorismo durante a onda que varreu o Brasil em 2018, com a eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro e a guinada do país à direita, movimento que favoreceu candidaturas de novatos e outsiders. 

Dono do canal Papo Conservador, no Youtube, o deputado ganhou projeção a partir de maio de 2020, durante um protesto de enfermeiras, em Brasília, pedindo melhores condições de trabalho em meio à pandemia do Coronavírus. Na época, ele foi acusado de agredir tais enfermeiras, mas negou o envolvimento e afirmou que havia criticado o protesto porque achava que era um movimento falso. 

Operação contra Gayer 

Policiais federais foram às ruas nesta sexta-feira, 25, para cumprir mandados de busca e apreensão contra o deputado federal goiano e seus assessores investigados por desviar recursos públicos de cota parlamentar e falsificar documentos para beneficiar uma organização da sociedade civil.. Gayer teve o celular e computadores apreendidos pela PF. Apenas na casa de um dos assessores a corporação entrou mais de R$ 70 mil em espécie. 

A corporação afirmou apenas que os recursos, de origem pública, eram utilizados para manter empreendimentos privados. Ao todo, 19 mandados de busca e apreensão foram cumpridos. A ação aconteceu em Cidade Ocidental, Valparaíso, Aparecida de Goiânia, Goiânia e Brasília, no Distrito Federal. A PF informou que investiga inicialmente crimes de:

  • associação criminosa;
  • falsidade ideológica;
  • falsificação de documento particular;
  • peculato.

De acordo com a PF, as investigações identificaram uma ata falsificada nos documentos de criação da organização social. No quadro social da entidade, havia nomes de crianças com idades entre 1 e 9 anos.

Pronunciamento

O deputado usou as redes sociais para pedir orações ao afirmar que não sabe o motivo de ter sido alvo da operação. “[É] um inquérito sigiloso. O que eu sei até agora é que esse inquérito foi aberto no mês passado, 24 de setembro. Está aqui, não dá pra saber nada, não dá pra ter nenhuma informação sobre o que se trata. Eu sei que alguns assessores meus também receberam a busca e apreensão. Um deles, inclusive, é um que trabalha com rede social, fazendo card e vídeo”, disse, enquanto mostra um documento. 

Buscando justificar a operação, o deputado disse que a ação da PF é uma forma de “prejudicar” o candidato dele, Fred Rodrigues (PL), que disputa o segundo turno, em Goiânia, com Sandro Mabel (UB). Fred assumiu como candidato do PL após a desistência de Gayer, que chegou a se lançar como pré-candidato, mas recuou. 

“Eu que nunca fiz nada de errado, nunca cometi nenhum crime. Tô sendo tratado como criminoso pela nossa Polícia Federal e pelo Alexandre de Moraes (ministro do STF). Nunca pensei que eu fosse passar por uma coisa dessa. Ore por mim, ore pela minha família, mas o mais importante, ore pelo nosso país”, reforçou.

Vídeo postado por Gayer nas redes sociais após operação da PF | Vídeo: reprodução/redes sociais