Aprenda a desmascarar vídeos falsos feitos por Inteligência Artificial

24 julho 2025 às 11h35

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O avanço da inteligência artificial generativa, capaz de criar imagens e vídeos sintéticos altamente realistas, trouxe um novo desafio para quem consome conteúdo online: distinguir o que é real do que foi artificialmente produzido. Deepfakes — vídeos manipulados por IA que simulam vozes, rostos e movimentos humanos — tornaram-se cada vez mais sofisticados.
Entretanto, apesar do realismo, essas produções ainda apresentam sinais perceptíveis que podem ser detectados por olhos atentos e, principalmente, com o auxílio de ferramentas especializadas.
Por isso, aprender a identificar vídeos falsos se tornou uma habilidade essencial em tempos de desinformação digital. Mesmo quando os vídeos são extremamente convincentes, há padrões e falhas recorrentes que os denunciam.
Um exemplo é a movimentação labial que nem sempre corresponde ao áudio original, além do piscar de olhos pouco natural ou movimentos faciais excessivamente rígidos. Em alguns casos, a iluminação do rosto difere da luz do fundo, e os contornos corporais podem “vibrar” ou se desfazer por instantes.
Outras incapacidades atuais da IA
Além disso, algumas pistas visuais estão nos detalhes. Deepfakes ainda enfrentam dificuldades em representar com fidelidade elementos complexos, como mãos humanas, dentes, orelhas e expressões emocionais espontâneas. Em vídeos falsificados, é comum que mãos apresentem dedos fundidos, unhas assimétricas ou movimentos desconexos. Ainda que esses detalhes passem despercebidos em um primeiro olhar, a análise pausada de quadros do vídeo pode revelar imperfeições.
Outro indício importante está em legendas automáticas e textos inseridos na imagem, como rótulos, letreiros e cartazes. Palavras truncadas, letras invertidas ou glifos inexistentes podem indicar que o vídeo foi fabricado por IA. Essas falhas aparecem porque modelos de geração visual muitas vezes não compreendem plenamente a estrutura das letras humanas, tratando-as como imagens em vez de símbolos semânticos. Assim, simbolos, letras ou frases desconexas são um sinal de alerta.
O áudio também pode servir como evidência. Em vídeos gerados por IA, vozes tendem a soar artificiais, com entonação repetitiva, falta de pausas naturais e uma certa “frieza” na dicção. Por isso, vale observar se a fala está sincronizada com os lábios e se há variações emocionais na voz, algo que algoritmos ainda têm dificuldade em reproduzir com naturalidade.
Ferramentas e sites úteis para identificar vídeos falsos:
Entretanto, mesmo com todos esses sinais, há casos em que apenas uma verificação técnica consegue confirmar a manipulação. Felizmente, existem ferramentas digitais acessíveis ao público que ajudam nesse processo. A seguir, algumas plataformas e extensões que podem ser utilizadas para checar se um vídeo é verdadeiro:
1. Deepware Scanner
Permite enviar um vídeo para análise automática de possíveis deepfakes.
👉 https://deepware.ai/scanner
2. InVID & WeVerify Plugin
Extensão para navegador que ajuda a verificar a autenticidade de vídeos e imagens a partir de metadados e buscas reversas.
👉 https://www.invid-project.eu/tools-and-services/invid-verification-plugin/
3. Sensity AI (antiga Deeptrace)
Ferramenta avançada voltada a empresas e jornalistas para detectar manipulações em vídeo.
👉 https://sensity.ai
4. Amnesty YouTube DataViewer
Extrai metadados de vídeos do YouTube e permite buscas por quadros específicos.
👉 https://citizenevidence.amnestyusa.org
5. Google Lens
Ao capturar quadros do vídeo e usar o Google Lens, é possível identificar se as imagens foram retiradas de outro contexto ou manipulação.
👉 https://lens.google
6. Tineye e Yandex Reverse Image Search
Plataformas de busca reversa de imagens que ajudam a identificar se frames do vídeo já circularam antes, com outro contexto.
👉 https://tineye.com | https://yandex.com/images
E agora, o que fazer?
Ao desconfiar de um vídeo, primeiro, analise o conteúdo com atenção redobrada. Repare nos olhos, na boca, nas mãos e nos textos visíveis. Depois, busque o vídeo em ferramentas como o InVID ou o Google Lens. Se o conteúdo for compartilhado por perfis desconhecidos ou sem contexto claro, isso também é um sinal de que pode haver manipulação.
Ainda assim, vale lembrar que nem toda detecção pode ser feita manualmente. A IA usada para criar vídeos falsos está em constante aprimoramento, e muitas vezes avança mais rápido do que os mecanismos de verificação. Porém, ao se manter informado e utilizar as ferramentas certas, o usuário se protege de cair em armadilhas digitais.
Conhecimento é poder
O Corridor Crew é um grupo de cineastas, artistas de efeitos visuais e criadores de conteúdo digitais conhecido por seu canal no YouTube, onde analisam e explicam tecnologias visuais com linguagem acessível e bom humor. Especializados em efeitos especiais, os integrantes frequentemente produzem vídeos que desvendam os bastidores da indústria audiovisual, incluindo a aplicação de inteligência artificial em filmes e vídeos virais.
Em um de seus episódios mais comentados, intitulado “Can We Teach Our Moms to Spot Fake AI Videos?“, eles propuseram um experimento curioso: colocar suas próprias mães diante de vídeos — alguns reais e outros gerados por IA — para descobrir se pessoas comuns, sem treinamento técnico, seriam capazes de identificar manipulações digitais.
Os familiares fizeram o teste após receberem as mesmas informações e dicas que apresentamos nessa matéria (mas sem as ferramentas). O teste se desenrolou como uma espécie de jogo, mas revelou questões sérias sobre os limites da percepção humana e os riscos sociais ligados à proliferação de conteúdos artificiais cada vez mais realistas. Mostrando que mesmo profissionais podem errar.
Por fim, a alfabetização midiática continua sendo a defesa mais importante contra a desinformação. Ensinar não apenas jovens, mas também os mais velhos — como no experimento feito pelo canal Corridor Crew — que é possível desenvolver um olhar crítico com treino e orientação.
Combater as fake news geradas por IA é uma tarefa coletiva, que exige atenção constante, acesso à informação confiável e o uso inteligente da tecnologia.
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