Antes rejeitado por clubes pequenos, Michael do Goiás é disputado pelos gigantes
05 janeiro 2020 às 00h01
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Brilho de Michael não passa despercebido, e o jovem atacante é uma das promessas do futebol para 2020
Se há uma palavra que pode ser tranquilamente associada a Michael Richard, essa palavra é perseverança. Além de, é claro, talento. O baixinho de pele morena e olhar vivo, atacante do Goiás Esporte Clube, é uma estrela premiada e promissora que aos 23 anos já conta com o título de revelação do Campeonato Brasileiro de 2019. Hoje Michael é considerado a “galinha dos ovos de ouro” do time esmeraldino, mas nem sempre a vida do jogador foi um mar de rosas.
Michael Richard Delgado de Oliveira deixou sua cidade de origem, Poxoréu, no interior do Mato Grosso, aos 16 anos e rumou para Goiás atrás de um sonho: jogar bola profissionalmente. O garoto magro e de baixa estatura (Michael tem 1,66 de altura) se destacava desde criança, quando aos 7 anos já jogava nos populares “terrões” com pessoas bem mais velhas e mais experientes que ele. O biótipo físico lhe permitia sobressair no drible e na velocidade – coisas que o colocam em evidência até hoje.
Há cerca de seis anos, a atual estrela do Goiás bateu de porta em porta na busca de uma oportunidade de mostrar seu talento. Entretanto, as coisas, a princípio, não saíram bem como ele imaginou. Só do Goiânia Esporte Clube, Michael foi dispensado quatro vezes. Negativas vieram também do Atlético, Aparecida e Vila Nova. O circuito dos clubes goianos parecia determinado a não facilitar para que o jovem perseguisse seu sonho.
Os “nãos” eram duros, e a perspectiva para o futuro não era das melhores. Em um dado momento, Michael simplesmente desistiu. Até porque todas as portas pareciam-lhe fechadas. O jovem mato-grossense, então, começou a enveredar por caminhos escusos e passou a se envolver com o tráfico de drogas. Chegou a ser ameaçado de morte e, por uma vez, quase teve a vida ceifada. Se hoje está vivo, segundo o próprio, deve isso ao seu contato com a fé cristã, quando começou a se reerguer.
Michael encontrou na espiritualidade o caminho para a autoconfiança e a renovação da esperança no futebol. Em entrevistas, o jovem atacante cita frequentemente a prática constante de orações e sua ligação com Deus como fonte de força e proteção. Foi durante esse momento de fé que uma oportunidade bateu à porta de Michael.
Uma nova chance para o mato-grossense surgiu quando, durante sua estadia no Monte Cristo, onde jogava na 3ª Divisão goiana, Fabrício Carvalho, então dirigente técnico do Goiânia, fez a proposta que foi prontamente aceita. E lá foi Michael, em 2016, brilhar na Segunda Divisão do Campeonato Goiano. Foi no time da capital que o atacante começou a se destacar e as oportunidades começaram a lhe sorrir.
O jovem de Poxaréu conseguiu ser chamado pelo Goianésia, onde deu um show no Goianão de 2017. Não havia uma pessoa que não o notasse. Graças ao seu corpo esguio, o baixinho costurava em campo no meio dos jogadores, driblava com maestria, dominava o jogo. Os olhos do grande esmeraldino logo cresceram, e no ano seguinte, já vestindo a camisa do Goiás, Michael mostrou a que veio.
De acordo com os dados do Footstats, foram 7 gols marcados, 9 assistências, 47 finalizações, 33 desarmes, 56 passes decisivos e 57 dribles completos em 33 jogos disputados pela Série B do ano passado.
A “Era Michael” começava no Goiás, e o rapaz começou a despertar interesses dos grandões de fora.
De olho em Michael, gigantes sondam o Goiás
Não se sabe se o Goiás já ficou pequeno para Michael, mas que grandes times do país rondam o jogador com olhos vidrados, isso é fato. Clubes como Flamengo, Corinthias e Palmeiras têm sondado o Goiás na tentativa de comprar o atacante, mas o futuro é incerto. O Corinthias já deu seu lance: R$ 22 milhões mais três jogadores da escolha de Ney Franco, que renovou recentemente seu contrato para esta temporada no Goiás. Porém, o Verdão parece ter batido o pé quanto ao valor da multa rescisória de R$ 50 milhões.
Mauro Machado, vice-presidente de futebol do clube esmeraldino, em entrevista ao Opção, adianta que a ideia do time é a de manter Michael pelo máximo de tempo possível, mas que não pode evitar que o jogador alce novos voos. Machado leva em conta a questão financeira e revela que se algum dos clubes interessados em Michael se dispuser a pagar o valor pedido da multa, não haverá impedimentos. “Se ele [Michael] concordar em ir, se o clube pagar a multa, a única coisa que a gente pode fazer é receber a proposta”, diz.
Machado faz questão de enfatizar a valiosa contribuição técnica de Michael para o time goiano. Para ele, o mato-grossense é um ótimo jogador o que fica nítido por “tudo aquilo que representa em campo”. O vice-presidente de futebol do Goiás salienta também a notoriedade que Michael trouxe para o Goiás. “Queira ou não, ele [Michael] chama a atenção. Recebemos muita atenção da mídia por causa dele”.
Seria leviano concluir sem sombra de dúvida, agora, que Michael deixará o Goiás ou mesmo que o rapaz continuará no clube. Seja como for, o “peladeiro” que saiu da pequena Poxaréu aos 16 anos de idade para jogar bola hoje brilha como uma revelação do esporte, e uma vez que suas asas se abriram, a tendência é que elas alcancem alturas cada vez maiores.