Antes de se silenciar em depoimento, Mauro Cid diz que não participava de decisões de Bolsonaro
11 julho 2023 às 16h05
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O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro, afirmou nesta terça-feira, 11, que, embora estivesse próximo do ex-chefe de Estado, não desempenhava qualquer papel nas atividades ligadas à administração pública, tampouco questionava Bolsonaro a respeito das discussões e encontros com autoridades dos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo.
“Na prática, a função do ajudante de ordem consistia, basicamente, em um serviço de secretariado executivo do ex-presidente”, afirmou durante depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos ataques golpistas ocorridos em 8 de janeiro, que resultaram na invasão e vandalismo do Palácio do Planalto, do Congresso Nacional e da sede do Supremo Tribunal Federal (STF).
“No dia a dia das reuniões e agendas do ex-presidente, recepcionávamos os participantes e os direcionávamos ao local desejado, ficando do lado de fora das salas de reunião, sempre à disposição. Não questionávamos o que era tratado nas respectivas agendas e reuniões”, revelou.
Depois de afirmar que assumiu o cargo de chefe da Ajudância de Ordem da Presidência da República em 2019 por indicação do Comando do Exército e que sua nomeação não foi influenciada por motivos políticos, o tenente-coronel ressaltou sua destacada trajetória ao longo de 27 anos de serviço militar. Em seguida, Cid mencionou algumas das responsabilidades que recebeu durante os quatro anos em que serviu ao ex-presidente Bolsonaro.
“Execução da agenda; recepção e encaminhamento de pessoas para reuniões; atendimento de ligações e recebimento de correspondências; impressão de documentos; recebimento e entrega de presentes e auxiliar nas atividades particulares e privadas do ex-presidente – almoços, viagens, finanças pessoais etc”, citou.
Prisão
O ex-ajudante de ordens encontra-se detido desde 3 de maio, sob acusações de fraude nos cartões de vacinação contra a Covid-19, incluindo o do ex-presidente Bolsonaro e seus parentes. Além disso, ele é apontado como um dos principais articuladores de uma conspiração visando a reversão do resultado das eleições do ano passado, incluindo planos para uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
De acordo com investigações da Polícia Federal, mensagens obtidas por meio de autorização judicial após a apreensão do celular de Cid revelam que ele reuniu documentos com o intuito de fornecer suporte jurídico para a execução de um golpe de Estado.
No celular do ex-ajudante de ordens, peritos da Polícia Federal encontraram mensagens trocadas com outros militares que, segundo deputados federais e senadores que fazem parte da CPMI do dia 8 de Janeiro, reforçam a suspeita de que o grupo estava conspirando para um golpe.
Um relatório de investigação produzido pela Polícia Federal registra que as mensagens revelam que Cid estava coletando documentos para dar embasamento jurídico à execução de um golpe de Estado. Em uma dessas mensagens, o militar teria compartilhado um documento contendo instruções para a declaração de Estado de Sítio em resposta a “decisões inconstitucionais do STF”.
Por decisão da ministra Cármen Lúcia do STF, em resposta a um pedido de habeas corpus apresentado pela defesa do investigado, Cid foi obrigado a comparecer perante à comissão, mas tem o direito de permanecer em silêncio diante de perguntas que possam incriminá-lo. No início de seu depoimento, ele afirmou que se utilizaria desse direito.
“Até onde tenho conhecimento, sou investigado pelo Poder Judiciário, especialmente pelo STF, em ao menos oito ações criminais. Entre elas, a suposta falsificação de cartões de vacina; a suposta participação e incitação dos atos de 8 de janeiro e a suposta fraude na [tentativa de] retirada de presentes recebidos pelo ex-presidente. Por este motivo, não poderei esclarecer diversos outros questionamentos que poderiam ser feitos para além do contexto fático [relacionado aos atos golpistas de 8 de janeiro] e, por orientação da minha defesa e com base na ordem do habeas corpus concedida pelo STF, farei uso do meu direito constitucional ao silêncio”, finalizou.
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