A extrema-direita no Brasil ganhou mais corpo nas eleições municipais deste ano, mas não tanto corpo quanto a centro-direita, movimento conservador mais moderado. Mesmo assim ela cooptou movimentos progressistas criando em torno da pauta do desejo pessoal e do trabalho, por exemplo, a conspiração teórica que é comum neste movimento.

O pesquisador italiano Paolo Demuru, radicado no Brasil, professor da Universidade Mackenzie e autor do livro Políticas do Encanto: Extrema Direita e Fantasias de Conspiração, afirma que a direita radical é muito bem sucedida no que ele chama de “fantasias conspiratórias”, pois, além de fornecer respostas simples para problemas complexos, essas histórias encantam, fascinam e levam ao êxtase seus adeptos.

É a partir daqui que nasce o que os alguns analistas políticos estavam chamando de “as prévias da direita”. A direita se dividiu em capitais importantes no Brasil e mostrou que o ex-presidente Jair Bolsonaro não é o pêndulo que comanda a extrema-direita e/ou a direita no país, muito pelo contrário, o movimento tem nomes que fazem bem mais barulho e que, para o desespero do clã do ex-presidente, estão longe do controle deles.

As eleições em São Paulo, Belo Horizonte e Curitiba foram grandes exemplos sobre como a direita contra a extrema-direita se degladiou em campanhas de baixo nível e com poucas propostas. Goiânia foi a grande prévia da direita no Brasil e pouco se falou isso de uma das capitais mais conservadoras do país.

A cidade vinha de uma administração desastrosa com problemas da coleta de lixo e denúncias de corrupção. O atual prefeito, Rogério Cruz, tentou a sua cruzada no primeiro turno para defender seu legado, mas acabou ficando em sexto na disputa, à frente apenas do candidato do Unidade Popular, Professor Pantaleão.

Pesquisas feitas pelo Palácio das Esmeraldas (sede do governo goiano) mostraram que o goianiense queria um prefeito completo, ou seja, com experiência política e de gestão. O governador Ronaldo Caiado (UB), tinha como dever de casa fazer o prefeito da capital, para fazer jus a sua alta aprovação na capital, que era algo raro de governadores do estado.

O resultado do primeiro-turno surpreendeu em Goiânia, contrariando a maioria das pesquisas, Fred Rodrigues (PL) – nome que nem era da afinidade de Bolsonaro, mas que foi posto na disputa após a desistência de Gustavo Gayer em disputar o pleito – terminou em primeiro com mais de 30% dos votos.

O candidato apoiado por Caiado, Sandro Mabel, ficou com pouco mais de 27%. Estava aí armada a grande prévia da direita. Caiado de um lado e Bolsonaro de outro.

Os números também surpreenderam, porque o eleitorado de Goiânia havia optado pela continuidade da não experiência e da pouca habilidade política. A dormência de uma cidade largada cedeu lugar à polarização política entre extrema-direita e centro-direita.

A campanha em Goiânia teve tudo, menos propostas para a cidade que tem graves problemas no serviço de saúde, coleta de lixo, drenagem, infraestrutura e iluminação pública. A extrema-direita tentou a todo momento associar o candidato de Caiado ao PT, ao atual prefeito e levantar sua história pregressa no Congresso Nacional a todo custo. Mabel ficou um bom tempo do segundo turno se defendendo. Nos debates mostrava que tinha muita dificuldade de lidar com os ataques de Fred.

Até que em um momento descobriu-se que Fred sequer tinha diploma universitário, como declarado à Justiça Eleitoral. Ele também havia assumido uma diretoria na Assembleia Legislativa de Goiás que exigia ensino superior. Foi o grande trunfo governista.

Mabel teve que descer ao nível de Fred para contrapor, porque o antigo modo de se fazer campanha não conversava com o eleitorado. Os dois tiveram que provar, a todo custo, quem era mais de direita e o eleitorado se prestou a polarizar cada vez mais o voto.

No final da história Caiado fez o dever de casa, Bolsonaro, que vinha aqui sem saber nada sobre a cidade atacava o governador e nada contribuia ao debate dos problemas da cidade assim como o seu candidato, que olhando friamente não tinha propostas e não tinha discurso. Apenas aquele tóxico esquema de se falar contra tudo que é de esquerda e de associar tudo à esquerda.

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