Ailton Krenak se tornou o primeiro indígena a ingressar no quadro da Academia Brasileira de Letras (ABL) desde sua fundação, em 1897. Empossado na noite desta sexta-feira, 5, o escritor ocupará a cadeira 5, vaga após a morte do historiador José Murilo de Carvalho no ano passado.

O tradicional fardão, utilizado pelos membros da Academia, foi feito na semana passada com o figurinista Marcelo Pies. “Eu me senti como uma noiva”, disse o escritor, filósofo e ativista indígena. Durante a festa, o escritor utilizou ainda uma tiara indígena.

Trajetória

Krenak, renomado ativista dos direitos indígenas, é agraciado com o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora e assume a cadeira 24 da Academia Mineira de Letras. Originário do vale do rio Doce, região marcada pela exploração mineradora, Krenak mudou-se para o Paraná aos 17 anos, onde iniciou sua jornada de educação formal.

Sua trajetória é marcada pelo engajamento na fundação da União Nacional dos Indígenas (UNI), marco inicial dos movimentos indígenas de expressão nacional. Em um momento emblemático, durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1987, Krenak emocionou o país ao pintar o rosto com tinta preta de jenipapo, protestando contra os retrocessos nos direitos indígenas.

Além de sua atuação política, Krenak é reconhecido pelo sucesso de suas obras literárias mais recentes, como “A vida não é útil” e “Ideias para adiar o fim do mundo”, publicadas pela Companhia das Letras. Estas obras têm sido instrumentos para difundir o pensamento ameríndio entre o grande público, oferecendo novas perspectivas de convivência com o meio ambiente e críticas à chamada “humanidade zumbi” – uma concepção de progresso que resultou no deslocamento humano da terra e na devastação ambiental.

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