5 livros de escritores brasileiros que transformam todos os demais em secundários

28 maio 2025 às 17h52

COMPARTILHAR
João Paulo de Oliveira Filho
Especial para o Jornal Opção
1
Dom Casmurro, de Machado de Assis

Há quem postule que “Memórias Póstumas de Brás Cubas” é melhor do que “Dom Casmurro”. Pode até ser. Mas a história de Capitu e Bentinho é mais emblemática e gera debate até hoje. Afinal, Capitu traiu Betinho com Escobar? O Bruxo do Cosme Velho deixa a questão para o leitor — que se transforma em autor — decidir. Se o narrador é Bentinho, o suposto corno, fica difícil saber o que é fato e o que é fake. O mais importante é a leveza e ambiguidade da forma encontrada por Machado de Assis para contar a história.
2
Vidas Secas, de Graciliano Ramos

Eis um romance de um homem de esquerda que não tem uma gota de discurso. Ás da contenção, o alagoano conta a miséria de Fabiano e sua família, com a cachorra Baleia ao lado, sem fazer discurso ideológico. Nas mãos de outro autor, o livro teria se tornado caudaloso como o Rio Amazonas. O Velho Graça construiu uma história que é, a um só tempo, simples e profunda. Sua obra é um retrato do Brasil dos retardatários. Com uma linguagem de primeira linha, viva e moderna.
3
Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa

A história de Riobaldo e Diadorim é uma história do Brasil narrada por meio da literatura. A grande história dos jagunços, uns do mal e outros do bem, é apresentada aos leitores com uma linguagem finamente elaborada. É a linguagem que confere o caráter universal aos dramas regionais de João Guimarães Rosa. Pode-se dizer, até, que a linguagem é a principal personagem do romance.
4
A Hora da Estrela, de Clarice Lispector

Há críticos que prefere outros romances de Clarice Lispector. Mas “A Hora da Estrela” tem uma personagem marcante, a grande Macabea. Para contar a história de uma pessoa pobre e inocente, a autora forja uma linguagem única, diferente. A ucraniana-brasileira sabe transformar o simples em sofisticação e sabe transformar o sofisticado em simplicidade narrativa.
5
As Meninas, de Lygia Fagundes Telles

A escritora Lygia Fagundes Telles escreve literatura e não livros de história. Porém, “As Meninas” rastreia a vida de Lorena, Lia e Ana Clara na época da ditadura civil-militar. As experiências pessoais são registradas, de maneira nuançada, ao mesmo tempo que se conta como se vivia no país no período autoritário. A leveza da literatura de autora às vezes “esconde” uma narrativa densa e bem-pensada.
João Paulo de Oliveira Filho foi professor de Literatura em Goiânia, Brasília e Belo Horizonte.