Levantamento demonstra que o coração do Brasil está sendo fortemente penalizado pela ação humana. O Cerrado goiano é um dos biomas mais ricos em biodiversidade do planeta e está sendo dizimado por décadas de avanço agropecuário, queimadas descontroladas e desmatamento autorizado e não autorizado. De acordo com os dados do Laboratório de Sensoriamento Remoto e Geoprocessamento (Lapig), entre 1985 e 2024, Goiás perdeu mais de 5,2 milhões de hectares de florestas nativas.

Ao Jornal Opção, a professora Dra. Elaine Barbosa da Silva, pesquisadora da Lapig, explica que o Cerrado goiano já apresenta mais de 50% de suas áreas convertidas, especialmente nas regiões Sul e Sudeste do estado. “Esse déficit é ainda maior em algumas localidades. Para preservar o Cerrado, sobretudo o goiano, é fundamental potencializar as áreas destinadas às unidades de conservação, pois nenhuma delas mantém sua cobertura original de vegetação nativa”, afirma.

“A prioridade deve ser cuidar dessas áreas e criar incentivos para que as regiões ainda cobertas por vegetação sejam preservadas. É necessário coibir o desmatamento, tanto o legal quanto o ilegal, por meio de incentivos financeiros, garantindo que essas áreas não sejam ocupadas por pastagens e agricultura, que são hoje as principais pressões responsáveis pela perda da vegetação”, explica a docente.

Classes de uso19852024
Floresta16.180.55110.961.692,84.
Formação campestre1.583.6321.032.708
Área Não Vegetada186.830276.856
Água 279.053443.960
Silvicultura7.608156.162
Mosaico de Usos3.630.7533.586.067
Pastagem10.984.30211.989.133
Agricultura1.170.6345.575.639
Total34.023.36334.022.217

Os dados apontam que a área destinada à pastagem aumentou em mais de 1 milhão de hectares, consolidando-se como o principal uso da terra no Estado. A silvicultura, praticamente inexistente em 1985, saltou de 7.608 hectares para 156.162 hectares em 2024, que representa um crescimento de mais de 1.900%.

Entre 2019 e 2025, foram desmatados 256 mil hectares, com mais de 10 mil alertas de desmatamento registrados. Desses, 88.800 hectares ocorreram sem qualquer autorização ou fiscalização. As queimadas também dispararam: em 2024, houve um aumento de 84% em relação ao ano anterior, com destaque para os municípios de Formosa, Mineiros e Rio Verde, que lideram o ranking de áreas queimadas.

Mesmo as Unidades de Conservação não escapam. O Parque Estadual Altamiro de Moura Pacheco sofre com expansão imobiliária e incêndios. O Parque Estadual do Araguaia enfrenta atividades agropecuárias dentro de seus limites. E o Parque Estadual de Terra Ronca, que abriga um dos maiores complexos de cavernas das Américas, está ameaçado pela extração ilegal de recursos.

“A preservação do Cerrado exige mais do que boas intenções. É preciso fortalecer a gestão dos parques, regularizar fundiariamente as áreas protegidas, envolver as comunidades locais e planejar a restauração ecológica com base em mapeamento detalhado”, aponta a especialista.

O Cerrado é responsável por alimentar oito das doze principais bacias hidrográficas do Brasil. Sua destruição compromete o abastecimento de água, a estabilidade climática e a biodiversidade nacional. Como alerta a Elaine Barbosa da Silva: “É possível conciliar desenvolvimento econômico com conservação, mas o tempo está se esgotando”, pontua.

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