PMDB vive momento de profunda crise
01 maio 2015 às 17h32
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Kátia Abreu de um lado, Josi Nunes de outro. Tensão no partido se encaminha para ser resolvida na Justiça e ministra poderá acabar saindo “ferida” da disputa
Gilson Cavalcante
Não bastasse o esforço para mitigar a crise administrativo-financeira, herdada em larga escala dos seus antecessores, o governador Marcelo Miranda assiste agora o seu partido, o PMDB, chegar ao auge de sua crise, dada as desavenças e desentendimentos entre os chamados bloco dos autênticos e o dos novos peemedebistas.
De um lado, a senadora licenciada e ministra Kátia Abreu, com o apoio do deputado federal Carlos Gaguim; do outro as deputadas federais Josi Nunes e Dulce Miranda, coadjuvadas pelos ex-deputados Osvaldo Reis e Derval de Paiva.
O que parecia, até algumas semanas atrás, um entrevero contornável, podendo chegar a um acordo entre as duas alas por um habilidoso interlocutor ou mediador político, não passou de mera conjectura equivocada.
Pois bem, a situação se agravou ainda mais e o PMDB está em vias de ir para o balão de oxigênio. Tudo porque Kátia Abreu, arrepiou os estatutos do partido, nomeando recentemente 51 comissões provisórias do PMDB, com base na prerrogativa de ser a presidente da comissão interventora — criada em junho do ano passado para garantir a candidatura de Marcelo Miranda ao governo do Estado. O mandato da comissão findou em setembro daquele ano, mas a senadora licenciada prorrogou o seu mandato, sem consultar os outros membros da comissão e criou as referidas comissões provisórias do partido.
Contrariada com a decisão de Kátia Abreu, a deputada federal Josi Nunes resolveu esticar a corda e enfrentar a ministra ao questionar, por intermédio de ofício, no último dia, 24, a nomeação de 51 comissões provisórias do PMDB. Josi pediu informações à Kátia sobre a decisão tomada, sem que houvesse, segundo a parlamentar, qualquer comunicado por parte da senadora licenciada sobre alguma reunião para decidir sobre o assunto.
Josi Nunes conversou com os outros membros da comissão interventora (Derval de Paiva, Leomar Quintanilha e Osvaldo Reis) e nenhum deles também, de acordo com ela, fora comunicado sobre a decisão da senadora-ministra.
A deputada argumenta que as nomeações das referidas comissões “estão dissonantes com o estabelecido no estatuto do partido, nos artigos 42 e 32, parágrafo 1º, já que não podem ser levadas a efeito isoladamente por qualquer um dos membros, mesmo que o presidente”. Josi sustenta que o assunto pode chegar aos tribunais, caso Kátia Abreu não apresente explicações plausíveis sobre o contencioso doméstico. “Serão tomadas as medidas judiciais cabíveis com o intuito de anular as comissões eventualmente nomeadas ao arrepio do estatuto do partido, avisa a parlamentar em tom de ameaça.
A crise vivida hoje pelo PMDB é resultado de um desentendimento entre Kátia Abreu e Marcelo Miranda, ainda antes da posse do governador, por conta de cargos na montagem do secretariado. Marcelo foi insultado por Kátia, num episódio que envolveu até xingamentos e gritaria.
Josi Nunes já havia criticado a postura de Kátia à frente do PMDB, durante entrevista ao site Atitude Tocantins. “Nós vamos ter algumas dificuldades com embates novamente com a senadora”, afirmou para disparar em seguida: “O problema do PMDB é que as pessoas que vêm para o partido querem mandar, e o PMDB não é partido de ser mandado e colocado debaixo do braço e fazer o que quiser dele. O PMDB tem história, tem militância e este embate com a senadora, que está em crise junto com o governo, pode trazer alguns problemas com relação ao PMDB, mas nós vamos definir”, declarou Josi à época, antevendo o que poderia acontecer, mais cedo ou mais tarde.
Osvaldo Reis põe lenha na fogueira
Nesse episódio recente, Osvaldo Reis, membro do diretório nacional do PMDB e da comissão interventora do PMDB tocantinense, sai em defesa da deputada Josi Nunes, dizendo que ela “está coberta de razão” ao cobrar da senadora-ministra explicações sobre a nomeação das 51 comissões provisórias. “A Josi está agindo dentro do estatuto”, observou Reis a um site de Palmas.
Na avaliação de Reis, o estatuto do PMDB exige que os membros de comissões provisórias tenham pelo menos um mês de filiação e os dos diretórios, ao menos 6 meses. “Eu encontrei membros de algumas comissões provisórias que a senadora Kátia Abreu fez que sequer são filiados ao PMDB. Eu provo isso. Podem ter se filiado depois, mas antes não eram filiados”, explicou o ex-deputado ao Portal CT. E acrescentou em tom de ironia: “Onde há fumaça, há fogo”.
Reis decide pôr lenha na fogueira ao sustentar que Kátia Abreu quer mandar em três partidos políticos: O PMDB, do qual é interventora, o PSD, que tem à frente o filho deputado federal Irajá Abreu, além de trabalhar para garantir a criação do PL, que estaria sob seu comando. “Não sei pedir para uma pessoa se filiar a outro partido que não seja o PMDB”, ironizou mais uma vez o ex-parlamentar peemedebista.
Na sua análise, a senadora-ministra agiu de forma intempestiva. Ele explica o que houve de fato entre ela e Marcelo Miranda em dezembro do ano passado. “Ela (Kátia Abreu) queria não sei quantas secretarias, depois xingou o Buti (secretário Geral de Governo); não satisfeita, foi à casa do governador e o xingou também, e agora vive falando para todo mundo que o orçamento do Ministério é quatro vezes maior que o do Tocantins. Se é, como foi eleita pelos tocantinenses, ela tem o dever de ajudar o Estado, não ficar com os comportamentos que anda tendo”.
O ex-parlamentar ressaltou que Marcelo “não é um homem de briga, é um gentleman, um conciliador e que quer unir todo o Estado neste momento difícil”. Reis recomenda a Kátia Abreu considerar o fato de ela ter sido eleita duas vezes senadora no grupo de Marcelo Miranda, “ao invés de ficar arrumando briga com a gente de forma proposital, como está fazendo”.
Gaguim fala em consenso, mas defende Kátia Abreu
Ao portal T1 Notícias, o deputado federal Carlos Gaguim defendeu o consenso entre as duas alas peemedebistas, mas deixou claro que é katista de carteirinha nessa batalha ao afirmar o PMDB está bem representado com o comando da ministra da Agricultura e senadora Kátia Abreu, à frente da Comissão Interventora designada pela Executiva Nacional do partido.
“O que nós temos que resolver – e eu estou em Brasília trabalhando junto com a ministra na Executiva Nacional para isto – é o problema financeiro do partido. O PMDB hoje deve aluguéis, deve fornecedores e a nossa presidente está buscando solucionar isso”, explicou o parlamentar.
O discurso de Gaguim pode parecer verdadeiro para a opinião pública, mas é contraditório quando afirma que trabalha pela união da legenda, com uma parceria entre Marcelo Miranda e Kátia Abreu. “O governador e a ministra precisam trabalhar juntos. O PMDB vai ser forte com todos nós juntos, porque o partido é do Marcelo, é da Kátia, é do Gaguim, é de todos nós”, apregoou.
Gaguim encontra sustentação para a sua tese no argumento de que o momento de se fazer eleições no PMDB não é este ano, mas o próximo, que é ano eleitoral. “Tenho certeza que a ministra não vai coibir nenhum companheiro que queira trabalhar sua candidatura em qualquer município do Estado para prefeituras no ano que vem. E o trabalho que ela está fazendo agora, criando comissões provisórias, é o trabalho que ela fez ano passado com os autênticos”, advoga.
O ex-governador peemedebista faz os seguintes questionamentos, para defender Kátia Abreu: “Por que antes ela podia fazer e agora não pode?”, referindo-se ao ato de nomear as comissões provisórias pelo interior do Estado.
Gaguim não poupa críticas à sua colega de bancada Josi Nunes, alegando que a parlamentar à frente da Fundação Ulisses Guimarães há cinco anos “e não entrega o cargo”. Disse que Josi não tem cacife para disputar a presidência regional do PMDB. “Por que ela e não eu ou não a deputada Dulce?”, questiona Gaguim mais uma vez para, em seguida afirmar que a comissão interventora só pode ser dissolvida é a Executiva Nacional do PMDB.
O presidente regional do PSD, deputado federal Irajá Abreu, por sua vez, disse que as declarações do ex-deputado Osvaldo Reis sobre Kátia Abreu são “irresponsáveis e preconceituosas”. Para o filho da senadora-ministra, sua mãe “não precisa de cargo no governo do Estado para se manter ativa na política”. “Foi eleita ao Senado Federal em 2006 e reeleita em 2014, sendo umas das políticas de maior credibilidade no cenário político do país. A ministra é uma das principais vozes do agronegócio e através de seu árduo trabalho conquistou respeito da população de todo estado do Tocantins e do Brasil”.