Penaforte Dias: “‘Enquanto as Folhas Caem’ desafia o leitor a olhar para dentro de si”
30 abril 2023 às 00h00
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O jornalista e escritor Penaforte Dias comemora a boa aceitação de seu romance de estreia, Feche os Olhos, com o lançamento do segundo volume da série, que tem tudo para virar uma trilogia. A nova obra, Enquanto as Folhas Caem, é definida pelo autor como uma viagem pelo inconsciente. “Nesse novo romance, a história é mais densa, tem mais personagens e cenários mágicos. E mais uma vez o leitor será desafiado a olhar para dentro de si mesmo, para sua sombra, seus medos e desejos, como forma de entender a pessoa que se tornou”, explica.
O escritor começou agora a publicar seus livros, mas sua produção literária vem de longe. O autor revela que já tem trabalho pronto em outros gêneros com novela, teatro e cinema. “Tenho uma sinopse completa de uma novela para TV chamada Vento Norte, que pode ser ambientada em qualquer região. Também uma peça de teatro adaptada para vídeo, de nome A Lenda do Capim Dourado, sobre a origem do Jalapão, e um roteiro de cinema incompleto intitulado Ana Rainha, a saga de uma escrava em Natividade (TO) em plena corrida do ouro. Espero um dia ver essas histórias brilhando na tela dos cinemas”, confessa.
Nesta entrevista exclusiva ao Jornal Opção, Penaforte Dias tece uma análise sobre a produção literária no Tocantins, que se concentra no gênero poético, com poucos romances. O escritor garante que o avanço da tecnologia tem facilitado o processo editorial. “A tecnologia é um ativo, uma ferramenta a mais de apoio ao autor. Ela, normalmente, não destrói nada e facilita todo o processo. Só exige uma adaptação. Ninguém precisa mais ficar reduzido a um canto da casa, solitário e sem apoio. A internet facilita o acesso a outros autores, ao mercado e até prepara melhor quem quer aprender a escrever, editar e vender sua obra”, ensina.
Raimundo Penaforte Dias é piauiense de Simplício Mendes, tocantinense de coração e tem 62 anos. Jornalista com três décadas de carreira em Palmas, atua também como roteirista e escritor. Enquanto as Folhas Caem, seu segundo livro, dá sequência ao seu romance de estreia, Feche os Olhos. Atualmente é repórter da Assembleia Legislativa do Tocantins (Aleto).
O sr. estreou com uma obra ousada, um romance espiritualista com base em fatos reais. Como foi a escolha do gênero?
Eu quis revelar para as pessoas o universo do uso do chá ayahuasca, mas fora do contexto ritualístico, ou seja, tendo como base a experiência de cada um. A forma que eu escolhi foi escrever um romance, exatamente como são as vidas das pessoas, em seu dia a dia. Achei que dessa forma as pessoas se identificariam mais com a abordagem do tema. O fato é que gosto muito de ficção, pois tenho a necessidade de criar, imaginar situações e tentar surpreender o leitor.
Busquei histórias da minha infância e fatos reais que, de certa forma, me impactaram muito ao longo do tempo
Toda obra literária tem um pouco de relato autobiográfico. O que tem nesse enredo que é seu?
A grande vantagem do primeiro romance é que eu não precisei pesquisar, pois participava do processo. No livro Feche os Olhos, eu relato experiências pessoais e de outras pessoas que fazem uso do chá. Também busquei histórias da minha infância e fatos reais que, de certa forma, me impactaram muito ao longo do tempo. O propósito foi passar uma mensagem sobre a importância do autoconhecimento tendo como base o uso de plantas de poder, pois essas substâncias enteógenas, como as chamamos, ajudam a acessar os pontos mais remotos de nosso inconsciente, uma espécie de encontro com o seu interior.
Como foi a escrita da obra, quais foram as inspirações?
Escrevi o romance em forma de roteiro para cinema, sem muitas descrições de ambientes e detalhes. A ideia era trabalhar com diálogos curtos e deixar o leitor criar um mundo mágico, baseado apenas numa narrativa leve e descompromissada. Também usei muitos recursos, como conflitos reais e de rápida solução, sem deixar tudo para o final, além de utilizar muitas cenas de virada. Uma técnica para despertar o leitor para o capítulo seguinte. O fato é que me inspirei bastante no superpop escritor Sidney Sheldon.
As histórias, realmente, aconteceram nesses locais, o que dá mais credibilidade à obra
A ambientação tem o Cerrado e a Amazônia, o que indica a busca de identidade regional. Como o sr. analisa o resultado disso?
O uso ritualístico da ayahuasca em contexto religioso é uma prática genuinamente brasileira e ocorre com frequência na Amazônia e no Cerrado. Por isso, meus cenários são o Tocantins, Goiás, Brasília, Pará e também o Peru. Também fiz questão de citar apenas os lugares que visitei e pesquisei in loco. As histórias realmente aconteceram nesses locais, o que dá mais credibilidade à obra.
A segunda obra acaba se ser lançada e segue o mesmo formato. Como você descreve o romance Enquanto as Folhas Caem?
O universo do livro Enquanto as Folhas Caem é o mesmo do livro anterior, mas os conflitos são outros. Tanto é que o leitor pode ler o segundo livro sem ter lido o primeiro. Claro que quem ler os dois vai ter uma visão mais ampliada da trama. Nesse novo romance, a história é mais densa, tem mais personagens e cenários mágicos. E mais uma vez o leitor será desafiado a olhar para dentro de si mesmo, para a sua sombra, seus medos e desejos, como forma de entender a pessoa que se tornou. Assim, todos os personagens terão um choque com o passado e com o desconhecido, tanto externamente como internamente. No fundo é o que há no inconsciente de todos nós, mas nem todo mundo chega nesse canto de si mesmo.
Maioria da produção literária [no Tocantins] se concentra nos segmentos de poesia, história, registros de família e obras acadêmicas
Que avaliação o sr. faz do desenvolvimento da literatura no Tocantins?
A cada ano temos novos autores e mais obras publicadas, o que é animador. No entanto, há uma produção pequena na área de ficção, como o romance. A maioria da produção literária se concentra nos segmentos de poesia, fatos históricos, registros de família e obras acadêmicas. Outro fator que talvez comprometa é a falta de incentivos financeiros. Nesse caso, observo que as pessoas reclamam muito da falta de recursos, mas eu não concordo totalmente: se você pode comprar uma geladeira ou um celular, pode também editar um livro. A questão, a meu ver, é de prioridade. A edição de livros hoje ficou muito mais acessível, pois temos os meios digitais, onde você não depende de uma editora tradicional. A venda pode ser feita nas redes sociais, que é o que eu faço com sucesso, pois vendi 800 livros de um total de mil sem depender de apoios governamentais ou de grandes editoras e livrarias tradicionais, apenas usando as redes sociais e vendas diretas. Falta mesmo é informação.
A tecnologia é um ativo, uma ferramenta a mais de apoio ao autor. Ela, normalmente, não destrói nada e facilita todo o processo
Por muito tempo o livro representou conhecimento. O livro virtual ainda conserva este conceito? Como o sr. avalia o impacto da tecnologia e os novos formatos de divulgação do conhecimento, que fazem do livro um objeto ultrapassado?
A tecnologia é um ativo, uma ferramenta a mais de apoio ao autor. Ela, normalmente, não destrói nada e facilita todo o processo. Só exige uma adaptação. Ninguém precisa mais ficar reduzido a um canto da casa, solitário e sem apoio. A internet facilita o acesso a outros autores, ao mercado e até prepara melhor quem quer aprender a escrever, editar e vender sua obra. Essa nova tecnologia, bem utilizada, amplia o acesso à informação e as oportunidades em praticamente todas as atividades da atualidade. É um caminho sem volta. Na questão específica do livro, mudou para melhor, pois ainda temos as duas opções: física e digital, sendo a última mais acessível, e em qualquer lugar. Isso só amplia nossa possibilidade de conhecimento, pois basta um celular na mão.
O que representa para você escrever um livro?
Muito trabalho, em primeiro lugar. Mas o trabalho compensa, e em qualquer situação. Agora, a sensação de ver uma obra publicada é muito boa, pois significa que você concluiu um sonho, uma meta. Na realidade, a minha maior compensação é que as pessoas comprem o livro, leiam e gostem. Escrevo para pessoas simples, que querem ler uma boa estória. Essa é minha proposta.
Não gosto muito do termo literatura regional, uma vez que todo livro é feito em uma região
Quais os autores da literatura regional que mais lhe chamam atenção?
Não gosto muito do termo literatura regional, uma vez que todo livro é feito em uma região. O meu livro, por exemplo, foi concebido no Tocantins, mas pode ser lido em qualquer lugar do mundo. Ele aborda conflitos universais do ser humano. Gosto de alguns temas que retratam aspectos da nossa identidade regional, especialmente sobre história do Tocantins e de Goiás. Entre os atores que posso citar estão as obras de Célio Pedreira, Zacarias Martins, Edivaldo Rodrigues, Wolfgang Teske, Mary Sônia, Ana Braga, Edson Cabral, Odir Rocha, Tião Pinheiro, Dídimo Heleno, Gilson Cavalcante, Casagrande, Cleber Toledo e Gil Cavalcante.
Tenho uma sinopse completa de uma novela para TV chamada “Vento Norte”, que pode ser ambientada em qualquer região
O sr. tem revelado o desejo de escrever roteiro de teatro e cinema. Como andam os projetos nesses outros campos da cultura?
Verdade! Tenho uma sinopse completa de uma novela para TV chamada “Vento Norte”, que pode ser ambientada em qualquer região; também uma peça de teatro adaptada para vídeo de nome A Lenda do Capim Dourado, sobre a origem do Jalapão; e um roteiro de cinema incompleto intitulado Ana Rainha, a saga de uma escrava em Natividade (TO), em plena corrida do ouro. No caso dos dois livros, por exemplo, foram concebidos originalmente como roteiro de cinema, mas adaptei para a literatura, porque assim era mais fácil, em termos econômicos, lançar no mercado. Espero, um dia, ver essas histórias brilhando na tela dos cinemas.