“O meu principal projeto na Câmara é cuidar das pessoas”

15 outubro 2016 às 10h20

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Vereador do PSDC eleito na capital afirma prega autonomia do Legislativo e diz que fará oposição consequente ao prefeito Amastha
Dock Júnior
Vereador eleito em Palmas pelo PSDC com 1.418 votos, Filipe Fernandes de Sousa – Filipe – representa uma das cotas de renovação na Câmara Municipal. Foi considerado pela mídia e também pela população palmense como um fenômeno desconhecido ou uma grata revelação, destas que as urnas proporcionam de vez em quando. O partido obteve expressiva votação e optando por uma chapa pura, sem quaisquer coligações, conseguiu surpreendentemente eleger dois representantes: o próprio Filipe e também Evando José de Oliveira, o Vandim da Cerâmica.
Filipe tem 31 anos, é natural de Brasília, contudo, está radicado no Tocantins há mais de duas décadas. Acadêmico do curso de direito na Ulbra, foi militante do movimento estudantil. Oriundo de uma família tradicionalmente envolvida na política tocantínia, já assumiu o posto de chefe de gabinete do deputado estadual Amélio Cayres (SD), e também cargos de diretor na Secretaria Estadual de Esportes e na Agência Tocantinense de Regulação (ATR).
O PSDC no Tocantins, assim como no país, ainda não é uma das grandes forças partidárias, entretanto, elegeu dois vereadores em Palmas, o colégio eleitoral mais disputado do Estado, bem como um prefeito no município de Ananás, o Valber Saraiva. Como o sr. avalia o desempenho da sigla neste pleito e quais são as perspectivas para 2017?
O Partido Social Democrata Cristão teve um bom crescimento nestas eleições e vem como uma boa promessa e novas propostas para o eleitorado. Tentamos viabilizar a política de uma forma diferente, não priorizando as satisfações pessoais, mas sim a satisfação das famílias tocantinenses. Queremos restaurar os valores cristãos e familiares e buscar votos olhando no olho das pessoas, batendo de porta em porta. Não queremos obter votações à custa de corrupção ou utilização das máquinas públicas. Isso é tudo que os brasileiros passaram a abominar, princípios que também defendemos.
Estamos fazendo política de uma forma enxuta, sem gastos exorbitantes, procurando zelar pela coerência e serenidade, sem falsas promessas. O ambiente familiar dentro do PSDC nesta eleição foi o que nos norteou. Os 29 candidatos do partido foram tratados de forma igualitária e usavam o mesmo discurso por onde passavam. A unidade da sigla foi uma característica marcante e faremos todos os esforços para mantê-la, de forma tal que em 2018 possamos ter sonhos maiores.
Como vereador eleito pretendo fazer do meu mandato um instrumento capaz de cuidar das pessoas e devolver-lhes valores, ora perdidos. O ser humano precisa ser tratado como tal e não como moeda de troca, como objeto ou por um voto. Foi esse o meu discurso na pré-campanha, na campanha propriamente dita e também será durante o meu mandato como parlamentar.
Quando as urnas foram contabilizadas surgiu o boato de que o sr. era a cota do Palácio Araguaia na Câmara. Procede? O sr. recebeu apoio do governador Marcelo Miranda ou de pessoas ligadas ao gabinete palaciano?
Fui criado em um seio familiar que sempre prezou pela ética. Meu pai é um sujeito simples e honesto acima de tudo e sempre pregou a humildade, o companheirismo, o reconhecimento e a solidariedade. Tento passar também esses preceitos para os meus filhos. O fato de conhecer o governador e sua família há mais de 20 anos não me torna – por si só – o candidato palaciano. O meu genitor prestou serviços para o então secretário Brito Miranda e também para o então deputado estadual Marcelo Miranda, acompanhando-o em toda sua trajetória política.
É evidente que eu vivi tudo isso junto com o meu pai e tenho no dr. Brito Miranda um ente querido, um parceiro. Faz parte da minha história, não posso negar minhas raízes. O caráter humano e democrático do Marcelo permitiu que muitos companheiros concorressem à Câmara Municipal de Palmas ou de outros municípios, conquistando outros espaços. Longe de ter o apoio palaciano, mesmo porque, como já disse, havia outros nomes com relação direta, reconheço na pessoa que atualmente comanda o Estado do Tocantins, assim como seu pai, amigos meus de longa data. Ajudei a elegê-lo, fiz campanha e torço para que ele consiga colocar de novo o Tocantins nos trilhos do desenvolvimento.
Na busca pelo voto certamente o sr. andou pelos mais longínquos bairros e pôde experimentar o sentimento das ruas. Dentro deste contexto, como viu a disputa ocorrida na chapa majoritária entre Carlos Amastha (PSB), Raul Filho (PR) e Claudia Lelis (PV)?
A eleição para prefeito em Palmas, como sempre ocorreu, se polarizou. Raul Filho fez uma campanha insegura juridicamente e colocou o grupo político que o apoiava em uma situação nada confortável. Isso atrapalhou demais o processo eleitoral na capital, uma vez que ele tinha ciência da sua própria inelegibilidade e mesmo assim insistiu. Esse fato trouxe tumulto ao pleito, além de ausência de investimentos por parte dos correligionários que estavam inseguros também.
Já a candidata Claudia trouxe uma boa perspectiva, novas propostas, enfim, uma campanha pés no chão. Contudo, ela não conseguiu alcançar a dita polarização, que permaneceu entre Amastha e Raul Filho.
Disputando contra uma candidatura baseada em liminar judicial e que trazia insegurança para o próprio eleitorado, não foi difícil para o prefeito obter a maioria absoluta dos votos. Além disso, certamente há méritos do candidato vencedor, uma vez que conseguiu convencer os eleitores que ele era a melhor opção. No meu modo de ver e sentir, não avalio a administração dele como uma gestão que merecesse ser reeleita, contudo, respeito a voz das urnas.
Em que pese não estar coligado, o seu partido apoiou a vice-governadora Claudia Lelis, o que significa naturalmente que há por parte da sigla uma oposição ao prefeito Carlos Amastha. Como foi essa campanha oposicionista pelas ruas e, enquanto vereador, qual será o seu comportamento em relação ao chefe do Poder Executivo?
Assumi – junto com a candidata Claudia – a condição oposicionista em relação do atual gestor do Paço Municipal, que foi reeleito. Essa foi e será nossa posição, contudo é necessário frisar que essa oposição será feita com responsabilidade. Não posso prejudicar a população, votando de forma contrária aos bons projetos que porventura ele apresentar, apenas pelo fato de não pertencer à base aliada. Essa será a metodologia de votos do PSDC. Garanto-lhe que eu e meu companheiro de partido não faremos oposição à pessoa de Carlos Amastha e sim às imposições ou ideias que julgarmos em desencontro com os anseios da sociedade. O PSDC não fará uma oposição radical, quanto a isso o prefeito pode ficar tranquilo, porque não seremos irresponsáveis e sim conscientes dos nossos compromissos com a comunidade palmense. Os vereadores foram eleitos para, além de outras atividades, fiscalizar os gastos públicos, cobrar melhorias e exigir do prefeito compromisso e responsabilidade com as pessoas. É isso que faremos.
Em relação à nova composição da Câmara de Vereadores de Palmas, provavelmente haverá um equilíbrio de forças situacionistas e oposicionistas. Isso pode causar ingovernabilidade? Como o sr. vê esse cenário?
Meu objetivo é trabalhar para que nós, vereadores eleitos para o período 2017/2020, tenhamos independência. O poder Legislativo municipal não pode ser subserviente ao Executivo. Iniciamos conversas de bastidores entre os eleitos, tanto da oposição quanto da situação, para que a Câmara se fortaleça e seja respeitada, face à sua importância para o processo político da cidade. Ainda não discutimos, mesmo porque ainda é muito precoce, a liderança de blocos ou presidência da casa. Nossa preocupação inicial é mesmo recuperar o prestígio da Câmara, tão abalado no momento.
O fato de o prefeito ter se utilizado do expediente de determinar em 2016, o esvaziamento do plenário – por parte dos vereadores situacionistas – impedindo a votação de projetos e, por consequência, o trancamento da pauta, trouxe um sério prejuízo moral ao Legislativo municipal. A imprensa criticou, às escâncaras, tal fato. Os quatro meses de pauta trancada acabaram por impingir aos parlamentares a pecha de “preguiçosos”, adjetivo do qual muitos deles não conseguiram se desvencilhar ou se defender. Na condição de vereador eleito, como o sr. avalia essa conduta, tanto por parte do chefe do Executivo quanto por parte daqueles parlamentares?
Vejo com preocupação. É necessário recuperar a imagem da Câmara junto à população, como também sua independência. A credibilidade foi maculada e os vereadores eleitos em 2016 estão antenados quanto a essa responsabilidade. É um sentimento homogêneo entre a maioria deles. A comunidade deu a resposta nas urnas e a maior prova disso foi a renovação de praticamente 50% da Câmara. A sociedade está mais politizada, não restam dúvidas, e busca ferramentas, internet principalmente, para se inteirar dos acontecimentos e dos bastidores. Precisamos resgatar os valores e a honradez do parlamento, e de minha parte, farei tudo que for possível para isso aconteça. Nosso compromisso deve ser com a sociedade palmense e não com o prefeito da cidade.
Quanto a essa mencionada renovação na Câmara Municipal, quais os fatores que o sr. considera preponderantes para que ela ocorresse?
O recado das urnas é que a sociedade está a par do que está acontecendo no parlamento municipal. Penso que isso ficou claro após a contabilização dos votos. A comunidade palmense demonstrou força, optou pelo novo e renovou a casa legislativa. Foi como se dissessem: ou os vereadores assumem uma postura decente ou serão expurgados do processo político. Evidentemente, não se pode generalizar. Aqueles que foram reeleitos certamente possuem trabalhos prestados à sociedade.
Quais são os projetos mais importantes que o sr. pretende transformar em realidade logo nos primeiros meses de mandato?
O primeiro deles é empreender esforços no sentido de humanizar a relação do poder público com o cidadão palmense. Precisamos atender e amparar aqueles que mais precisam dos serviços públicos. Muitas mães não podem se empregar porque são obrigadas a ficar em casa cuidando dos seus filhos, em razão da falta de creches. Outros estão reféns em seus próprios lares no período noturno, face à falta de segurança. A população carente também busca atendimentos na saúde, contudo, por diversas vezes voltam para casa sem serem medicadas. Esse é o meu principal projeto: cuidar das pessoas.
Não posso admitir o sofrimento dos seres humanos, enquanto os políticos olham com descaso. Cito aqui o Setor Santo Amaro II, a Capadócia, o Morro do Cigano, onde as pessoas vivem em condições sub-humanas. Falta-lhes saneamento básico e isso é subdesenvolvimento em um total paradoxo com a beleza de uma capital tão próspera. Precisamos sanar esses gargalos para evitar que no futuro isso se torne casos sem soluções, acabando por refletir na saúde, educação e segurança. Esse crescimento desordenado deve ser visto pelo poder público como prioridade.
O segundo projeto é tentar buscar parcerias públicas ou privadas para formar, capacitar e profissionalizar a juventude da nossa cidade. Estatisticamente, grande parte dos crimes é cometida por menores de idade, principalmente em razão da ociosidade. Na maioria das vezes, eles estão marginalizados pela sociedade, esquecidos e abandonados pelo poder público e encontram no crime uma maneira mais “fácil” de ganhar a vida. É preciso resgatar esses jovens e profissionalizá-los, diminuindo o gargalo da segurança pública e por consequência, da saúde. Há espaços para eles no mercado de trabalho, basta capacitá-los.
A questão do estacionamento rotativo em Palmas certamente voltará à pauta na Câmara Municipal em 2017, porque já existem projetos que estão atualmente nas comissões, como também face às críticas quanto a sua implantação e gerência, tão propaladas na campanha eleitoral. Qual é a visão acerca desse tema?
Sem dúvida o estacionamento rotativo na Avenida JK era necessário. Contudo, o que precisa rediscutido, e sou plenamente favorável, é a maneira como foi implantado pela atual gestão, como a ausência de tolerância, por exemplo. Além disso, alguns locais ainda não necessitam do referido estacionamento pago e a população está sendo sobretaxada. Isso precisa ser reorganizado. Há outros gargalos como a “indústria da multa” em Palmas, que não pode continuar e também precisa ser rediscutido na próxima legislatura.
E quanto à revisão de planta de valores imobiliários, qual será o seu posicionamento?
Urgente e necessária a discussão desse tema, sem dúvidas. A supervalorização dos imóveis elevou o IPTU de muitos cidadãos a níveis estratosféricos. Adianto, desde já, que também não sou favorável a uma parcela da população ser isenta do pagamento desse imposto – sobrecarregando outra parcela da sociedade. Além disso, essa conduta pode ser caracterizada como evasão de receitas. A revisão da planta de valores hoje é mais do que necessária, uma vez que os valores venais dos imóveis estão fora da realidade. O cidadão não pode ser sobretaxado porque tem mais de um imóvel na cidade ou porque sua propriedade está bem localizada. Ao mesmo tempo, há que se encontrar soluções também para os casos das grandes empresas que possuem quadras inteiras dentro do plano diretor, que estão fazendo o jogo sórdido da especulação imobiliária.
Em nome do Jornal Opção desejo-lhe sucesso na empreitada e que o sr. faça um bom mandato, honrando os votos que lhe foram concedidos no último pleito.
Eu que agradeço a abertura desse espaço para que os políticos possam falar diretamente com a população, expondo seus projetos, ideias e metodologia de trabalho. Parabenizo-lhes pela árdua luta deste veículo de comunicação, no sentido de esclarecer e conscientizar a sociedade tocantinense. Meu gabinete estará sempre de portas abertas para o Jornal Opção e para a imprensa em geral no sentido de exercer o mandato com a máxima transparência possível. Tenho 1.418 motivos para agradecer a comunidade palmense que acreditou no meu projeto e me elegeu vereador dessa cidade, o que me deixou muito honrado. A partir da posse serei vereador de todos os palmenses e não apenas dos meus eleitores e tentarei retribuir a confiança em mim depositada. Muito obrigado.