Uma das realizações mais importantes do poder público em Palmas a (re) invenção da Escola de Tempo Integral, considerada uma grande conquista na área da educação é uma obra da esquerda. A Escola de Tempo Integral, colocou Palmas no cenário nacional, como referência no ensino fundamental. A obra é reconhecida no meio político do Tocantins como uma importante contribuição de Palmas para educação brasileira.

Foi adotada em todo o Estado do Tocantins e pelo Brasil afora, a exemplo da Bahia, onde conta que até ajudou a decidir as eleições de 2022. Gerônimo Rodrigues (PT) que venceu as eleições era secretário da Educação e tinha como secretário Executivo Danilo de Melo, ex-secretário de Educação de Palmas, um dos responsáveis pela implantação do modelo. A grande obra do governo Raul tem o mérito inegável da esquerda. Raul Filho foi eleito pelo PPS, e reeleito pelo PT.

Assim como a Escola de Tempo Integral, os CEMEIs, o combate à especulação imobiliária com construção de casa populares no Plano Diretor, são conquistas da esquerda, com as quais a população de Palmas se identifica muito. A esquerda tem trabalho prestado em Palmas em termos de realizações, mas sobretudo tem contribuído para o avanço de debate pela cidadania plena, ocupando os espaços de construção do diálogo entre a gestão e a sociedade e qualificando o debate. Tem todas as condições, portanto, de apresentar para qualquer disputa. A crise, ao que vemos, não é de enfraquecimento do eleitorado de esquerda por falta de resultado, mas da falta de nomes.

Em Palmas a disputa das eleições de 2024 dificilmente repetirá a tradicional polarização entre direita e esquerda como nos últimos pleitos. A direita está bem representada tem nomes de sobre e certamente terá candidato no segundo turno. O ex-deputado Eduardo Siqueira Campos (UB), os deputados federais Felipe Martins (PL), Ricardo Ayres (Republicanos) e Eli Borges (PL); os deputados estaduais Júnior Geo (PSC), Vanda Monteiro (UB), Janad Valcari (PL) e o secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, Marcelo Lelis (PV) são todos de direita. Desses possivelmente sairá o candidato de direita que vai para o segundo turno.

O difícil está sendo encontrar nomes de esquerda. Por enquanto não há nem especulação de nomes. Além do encolhido   quantitativo eleitoral na esquerda no Tocantins, que perdeu representação na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa há um outro problema, os pretensos candidatos dos partidos de esquerda também professam os princípios da direita.

Como se sabe o ex-prefeito Raul Filho (MDB) continua lutando para voltar ao comando do Paço Municipal. Depois de deixar o poder em 2013, disputou as eleições de 2016, polarizou com o então prefeito Carlos Amastha (PSB) tendo conquistado 31,43% dos votos válidos. Agora novamente colocou seu nome à disposição para o pleito de 2024. Pelo trabalho realizado Raul se mantém como um nome competitivo junto ao eleitorado da Capital. Mas se chegar ao poder dificilmente fará uma gestão progressista como foi nos governos anteriores.

Nesta sua tentativa de voltar ao comando do Paço Municipal Raul deu uma guinada à direita. Deixou o espaço da esquerda e se moveu para o centro, de onde veio. Antes de se filiar ao PPS e posteriormente ao PT Raul fez uma carreira em partidos de direita. Começou no PDS, migrou para o PFL, PSDB até chegar ao PPS. Portanto está apenas voltando para a origem. Raul pertence atualmente ao MDB e disputa a indicação da legenda com a ex-deputada e ex-primeira dama Dulce Miranda. Se conseguir indicação da legenda será candidato de centro direita, bem distante do espectro ideológico das administrações anteriores.

Raul não é o único líder que contribui para a crise de nomes na esquerda palmense. O ex-prefeito Carlos Amastha (PSB) que comanda um partido socialista, faz questão de deixar bem claro que professa em termos ideológicos os princípios da socialdemocracia. Defende o capitalismo com a responsabilidade social. Seus governos em Palmas se identificaram perfeitamente com a pauta defendida pela direita. Promoção da livre iniciativa e forte discurso moralista. Foi em seu governo que a Prefeitura finalmente atendeu aos reclames do segmento evangélico e deixou de realizar o Carnaval. Em seu lugar foi lançado o projeto Capital da Fé, o carnaval dos evangélicos. Inclui-se ainda nesta lista dos pré-candidatos de centro o professor Alan Barbiero (Podemos).

O ex-deputado Paulo Mourão (PT) vem sendo lembrado como o nome que poderia representar o campo da esquerda nas eleições de 2024. Mourão tem experiência política, foi quatro vezes deputado federal, duas vezes deputado estadual e fez uma gestão à frente da prefeitura de Porto Nacional considerada modelo. Obras de qualidade nas áreas de saúde, educação e com forte investimento na diversidade cultural e profundo zelo com os gastos públicos.

Um nome à altura do desafio, tem experiência e vocação para a política que encara como sacerdócio. O problema é convencê-lo a aceitar a missão. Desde que encerrou a disputa de 2022, onde ficou em terceiro lugar, desapareceu do meio político. O líder que se apresentava muito próximo do presidente Lula parece desgostoso. Não tem nenhuma explicação o seu sumiço. O esperado é que fosse a liderança de peso do PT para ajudar o Tocantins a conseguir a atenção que merece do governo federal. Pelo que se vê a esquerda não tem muito mais além do Paulo Mourão.

Bolsonarismo inchou a direita
Mesmo uma cidade com tradição de oposição e forte viés de esquerda está sendo tomada pela direita. Não propriamente pela mudança da postura do eleitorado, mas pelo oportunismo dos líderes que agora só querem disputar eleição por partidos de direita.

Das oitos eleições realizadas em Palmas, de 1992 a 2020, em pelo menos quatro, mandatos a esquerda e centro esquerda saíram vitoriosos. Raul Filho em 2004 e 2008, pelo PPS e PT, respectivamente; e Carlos Amastha reeleito em 2016 pelo PSB e Cinthia Ribeiro, eleita em 2020, pelo PSDB. As outras quatro foram vencidas por candidatos assumidamente de direita. No mínimo que se pode falar é que ainda haja um equilibro entre direita e esquerda em Palmas em termos eleitorais, com base numa análise do histórico da cidade.

Em 2024, pelo que se observa da ausência de candidatos de esquerda e da direitização dos partidos e líderes de centro esquerda, a tendência é um desequilíbrio para a direita, principalmente com a direita evangélica. Enquanto os partidos de esquerda perderam representação na Assembleia e na Câmara Federal, aumentou os representantes do segmento evangélico. São pelo menos dois deputados federais – Eli Borges (PL) e Felipe Martins (PL) – e vários estaduais, os de Palmas – Vanda Monteiro (UB) e Janad Valcari (PL) – esses parlamentares são os mais cotados nos levantamentos de intenção de votos em Palmas para 2024.

Ainda tem tempo para a esquerda se apresentar, mas a ausência nas cogitações de nomes representa um estado de desarticulação e dificilmente terá forma para chegar ao segundo turno, como era de esperar. Ao que tudo indica em Palmas em 2024 é possível que a disputa seja entre líderes da direita, ainda que alguns desses se apresente por partidos de esquerda. É esperar pra ver o que vai dar.