O suplente de senador Donizeti Nogueira foi escolhido coordenador da campanha do candidato a presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Palmas. O movimento que surgiu na capital está sendo ampliado para todo o Estado e busca mobilizar todas as forças da sociedade que anseiam por mudanças no Brasil. A coordenação é composta pelos partidos PT, PCdoB, PV, PSOL, Rede e PSB e planeja uma série de ações para pintar as ruas das maiores cidades do Estado com as cores da campanha do Lula.

O coordenador revela que muitas ações estão sendo organizadas no sentido de reforçar a importância de se decidir a eleição no primeiro turno. Ele garante que estudos indicam essa possibilidade. “Informações bem consolidadas dão uma ideia que é possível ganhar no primeiro turno. Tive acesso a uma tabulação do Ipec [instituto] nos 26 Estados e no Distrito Federal, em que eles juntaram as pesquisas estaduais, mais de 25 mil questionários e essa tabulação, pegando o resultado por Estado, aponta que o Lula estaria vencendo a eleição com algo de 52% a 53%, no 1º turno”, explica.

Donizeti Nogueira revela, em entrevista ao Jornal Opção, que a coordenação já iniciou também um trabalho pelo voto útil. “Temos trabalhado com alguns setores do MDB. Vou intensificar com o PDT, tenho conversado com alguns líderes e tenho observado que muitos não estão satisfeitos com a agressividade do Ciro (Gomes) em relação a Lula, o que está carimbando o pedetista como braço auxiliar de (Jair) Bolsonaro. Isso está deixando sobretudo os brizolistas desconfiados e indignados”, ressalta o coordenador, reiterando que os partidos alinhados buscam aprofundar esse debate com setores do MDB e do PDT, intensificando o diálogo pela adesão ao palanque do Lula.

Sempre teve polarização. A única eleição que não teve polarização foi a de 89

Por que o PT demorou tanto para criar uma coordenação de campanha do presidente Lula no Estado, numa disputa em que o partido faz todos os esforços para tentar vencer no 1º turno?

Você tem razão, demoramos um pouco. Em campanhas anteriores, nós começávamos bem mais cedo. Mas essa campanha tem uma particularidade. A gente ficou até as convenções muito preso, sem saber o que iria fazer e como fazer, e acabou que ficou meio que cada um por si e Deus por todos. Estamos aí com uma candidatura ao Senado que nós não tínhamos, a de Vilela do PT; a candidatura do Paulo [Mourão] ficou restrita à federação [Brasil da Esperança, com PT, PCdoB e PV], ainda limitada, porque setores e parte da federação não apoiam nossa candidatura ao governo do Estado. Esse conjunto de fatores fez com que tudo atrasasse um pouco.

E tem outra particularidade: a campanha se resolveu de cima para baixo, porque a eleição para presidente foi polarizada mais cedo do que o habitual. Polarização sempre teve, a única eleição em que não houve foi a de 1989. Mas, de lá para cá, sempre polarizou, PSDB de um lado, PT do outro. A preocupação da direção estadual, de certa forma, foi montar a chapa majoritária, que não é um processo fácil. Embora a federação tenha reduzido o número de candidatos por partido, cada um tenta articular de forma estratégica para potencializar em voto e garantir eleição. A federação tem chapa forte para deputado estadual, com quatro candidatos com mandato. Temos uma chapa boa também para federal, com Célio Moura, que já é deputado. Temos o presidente do partido, Zé Roberto, com três mandatos de estadual, então é uma chapa forte. Acho que, com o envolvimento com as coisas locais, fomos deixando de lado a campanha nacional, mas ainda há tempo.

Como vai ser esse trabalho em termos de Estado?

Nós estamos iniciando a campanha em Palmas. Nos próximos dias, o partido deve expandir a campanha de Lula de forma organizada para o resto do Estado. Não é que a campanha do Lula não esteja acontecendo no Estado: ela está. Não tinha um comando que permitisse juntar todos aqueles que estão apoiando. O PT está fazendo a campanha de Lula, parte do PCdoB também; o PSOL e o Rede, da mesma forma, mas a campanha não estava organizada.

A campanha tem um tripé: rua, redes sociais e rádio e TV

Esse movimento é mais amplo que a federação em torno da candidatura ao governo do Estado. Quais são os partidos que integram a coordenação? 

Com exceção do SD e do Pros, nós conseguimos juntar os demais partidos que integram a aliança [Vamos Juntos pelo Brasil]. A coordenação de Palmas está composta pelos partidos PSB, PT, PV, PCdoB, Rede e PSOL e coube a mim o papel de articulador junto com outras pessoas. No Estado também isso precisa acontecer. E a hora é agora até o início da semana, senão passa de hora. Lula está bem posicionado no Estado, até onde eu conheço as pesquisas. Mas tem a reta de chegada. Precisamos mostrar a cor da campanha. Para mim, a campanha tem um tripé: rua, redes sociais, rádio e TV. Não se esperava que a TV fosse ter um papel tão importante como eu penso que ela tem agora nesta eleição. Até porque a eleição tem agora um tempo menor, ela agora é mais curta. Então agora, todos os espaços que você possa ser visto são muito importantes. Rua, redes sociais, rádio e TV, tudo é um complemento que acho que completa esta campanha. Porque TV e redes sem rua não têm vida. Você tem de capitar o sentimento das ruas, o sentimento do contato pessoal com o povo. Fomos para o Festival Gastronômico [de Taquaruçu], levamos material do Lula, em instantes tudo acabou. Esse contato de mostrar que existe, a cor da campanha na rua é muito importante para melhorar o visual das redes e da TV. Começamos um pouco tarde, mas vamos dar conta da tarefa.

O que ainda é possível fazer na reta de chegada que o sr. mencionaria como algo importante para potencializar o voto na urna?

Nós estamos construindo algumas frentes. Construímos uma coordenação de comunicação; hoje estamos articulando um grupo forte de animadores digitais; estamos dialogando com categorias organizadas; estamos contatando setores do movimento sindical, buscando desenvolver a campanha em diversos setores. O Lula fez um encontro com os comunicadores do Brasil inteiro, então esse grupo de agitadores digitais que a gente está trabalhando, coordenado pela Roberta Tum, está iniciando um trabalho muito interessante. Tem o movimento sindical, que já vimos trabalhando; tem o movimento da educação, com o que já começamos a mobilização; temos ainda segmentos da saúde, da juventude, das mulheres, do setor agrário, para a gente tentar contar com alguém focado em cada setor. Acho que até o início da semana já vamos ter uma ideia melhor desse panorama para a gente dar um corpo maior para a campanha.

Começamos os tradicionais bandeiraços que marcam nossas campanhas. Não podemos também retirar a militância das campanhas proporcionais, temos de fazer tudo de modo articulado. Então, fizemos o desenho: de segunda a quarta, fazer bandeiraço do Lula com todos os partidos e, durante o resto da semana, a turma toma conta das campanhas proporcionais e da majoritária. Temos pelo menos três campanhas majoritárias: a do PSOL/Rede, a nossa [PT, PCdoB e PV] e partes de outros grupos. Hoje mesmo, estávamos distribuindo material aqui para apoiadores do Wanderlei [Barbosa] que apoiam o Lula. Essa estratégia busca reunir todos os apoiadores para garantir um volume bonito. Estamos bastante animados. A gente entende que o outro lado tem militância. É uma militância raivosa, enquanto nós estamos fazendo uma campanha da alegria e do amor, não da violência e nem do ódio.

Esta eleição começou no dia que terminou a anterior, praticamente

O processo democrático deve ser para a gente sempre uma festa e não essa coisa violenta, com ameaças por todos os lados. Os meios de comunicação teimam em instigar isso, que existe uma polarização e que é preciso construir outra via para superar a polarização. Existe uma polarização natural. Neste caso, diferente de qualquer outra eleição que temos conhecimento, porque o presidente, uma vez eleito, não desceu mais do palanque. Assumiu um lado, hostilizou o outro e foi perdendo gente que acreditou nele. E não teve competência para gerir o País. Esta eleição começou no dia que terminou a anterior, praticamente.

Querer construir uma terceira via é impossível. As grandes corporações de comunicação ficam teimando que essa polarização é negativa. Não acho que é negativa, acho que é ruim não ser uma polarização de debate de ideias, como sempre foi entre PSDB e PT. Isso é ruim. A polarização existe no futebol, no basquete, onde tenha um competindo com outro, competindo dentro das regras estabelecidas, respeitando o adversário. Mas nosso adversário declara que o outro lado é inimigo, então é difícil.

Nunca tínhamos tido uma aliança tão grande no Brasil. Acho que, por tudo isso, vamos ganhar no primeiro turno

O Genuíno [Neto] definiu muito bem quando disse um dia, que existe um Estado petista e uma sociedade petista. Eu compreendi que o Estado petista é a militância. Quando o Estado petista se movimenta, ele atrai a sociedade petista. É por isso que acontece os grandes atos dentro da campanha. A gente começa um bandeiraço com quatro, cinco, dez pessoas e, de repente, a gente está ali com cem batendo bandeira, porque a sociedade petista se movimenta, porque ela tem um lado. E aí a esquerda agora, o que é uma coisa muito positiva – salvo este parêntese que são PDT e o Ciro [Gomes], conseguiu aglutinar o sentimento de centro -esquerda de um grupo grande. A campanha conseguiu aglutinar as principais forças de esquerda [do País]. Se pensar em partidos de esquerda no Brasil, só há PT, PSB, PCdoB, Rede, PSOL e PDT que se pode dizer que são esquerda. Então, é muito positivo este momento. Nunca tínhamos tido uma aliança tão grande no Brasil. Acho que por tudo isso nós vamos ganhar no primeiro turno.   

Que avaliação o partido faz deste momento? Qual a orientação sobre os dados das pesquisas que apontam decisão ainda no primeiro turno?

A orientação da direção nacional é que a eleição não está ganha e que a gente tem que ir para o segundo turno e ganhar a eleição. Agora, podemos e estamos nos esforçando, para o bem do País, para ganhar essa eleição no primeiro turno. Informações bem consolidadas dão ideia de que é possível. Tive acesso a uma tabulação das pesquisas do Ipec nos 26 Estados e no Distrito Federal, em que juntaram as pesquisas estaduais, mais de 25 mil questionários, e essa tabulação, pegando o resultado por Estado. Isso apontou que o Lula estaria vencendo a eleição com 52% a 53% no primeiro turno. Então, acredito nisso. Acredito em outro fator também: o eleitor do Lula ainda está calado. Como o outro é muito agressivo, ele está calado. Recusando às vezes colocar um adesivo no carro, o que tradicionalmente ele faria, mas agora teme que isso pese contra seu patrimônio. É uma eleição atípica da realidade brasileira. Nós vamos começar a partir do dia 19 uma campanha de ataque, vamos ganhar no primeiro turno.

Como o sr. avalia a campanha do voto útil, que já começou?

Temos trabalhado com alguns setores do MDB e vou intensificar com o PDT. Tenho conversado com alguns líderes e observado que muitos não estão satisfeitos com a agressividade do Ciro em relação ao Lula, o que está carimbando o pedetista como braço auxiliar de Bolsonaro. Isso está deixando sobretudo os brizolistas desconfiados e indignados. Queremos aprofundar esse debate com setores do MDB e do PDT para ver se vem com a gente nesta reta final. Isso é uma obrigação. Eu penso que neste momento a preocupação está diluída com as candidaturas proporcionais, dos governadores e senadores. Se tiver segundo turno, vai ser uma guerra. Coisa perigosa. É melhor que se resolva agora e a gente vai fazer todos os esforços. Mas a gente está preparado para ganhar as eleições no primeiro ou no segundo turno. Como o presidente Lula gosta muito de falar, não se pode escolher adversário. O povo que decide quem vai ser o adversário. E o povo é que decidirá se a gente ganha no primeiro ou no segundo turno.

Wanderlei Barbosa está no segundo turno. E vai ter segundo turno, no meu ponto de vista

Que balanço que o sr. faz da campanha de Paulo Mourão para o governo do Estado?

Eu vejo que a campanha tem um perfil que não é aquele de aglutinação de massa. Porque, na verdade, o candidato oficial tem muita gente atrás dele que é assalariado de campanha ou servidor público que está sendo pressionado. Então, às vezes, têm de 300 a 400 pessoas acompanhando o candidato, mas são todos remunerados. Como a gente não tem meios para ter militantes remunerados e fazer volume, a campanha de Paulo tem corrido de uma forma que não é de massa, mas de muita atividade. Muita presença, muito diálogo e muita movimentação. E nós estamos otimistas. Hoje temos clareza de uma coisa. Wanderlei Barbosa está no segundo turno. E vai ter segundo turno, no meu ponto de vista. Quem vai disputar com Wanderlei é o Paulo, é o [Ronaldo] Dimas (PL), é o Irajá [Abreu, do PSD]? Não está decidido quem vai ser. Nós podemos muito bem chegar ao segundo turno, sobretudo se conseguirmos trazer o presidente Lula aqui, o que não está fácil.

O anúncio da vinda do ex-presidente ocorre desde julho. Ainda é possível uma visita, a essa altura da campanha?

Lula tem um histórico de visitas ao Tocantins, seja antes de ser presidente ou depois, como presidente. Não tem um candidato que passou quatro dias aqui. Fizemos a Caravana da Cidadania em 1994, ele ficou quatro dias no Tocantins, reunindo de empresário a quebradeira de coco. A campanha é muito curta e o nosso colégio é pequeno. Como líder, tenho de ponderar que, entre vir aqui e reunir 10 mil, 15 mil pessoas, ele pode reunir 50 mil ou 60 mil em outro lugar, com efeito e resultado melhor.