A primeira sessão da 10ª legislatura, que será realizada no dia 1º de fevereiro, terá uma novidade: pela primeira vez os deputados, após tomar posse, vão eleger a mesa diretora para os dois biênios subsequentes, ou seja, vão realizar duas eleições no mesmo dia. Uma para eleger a mesa diretora que tomará posse imediatamente e a outra para eleger a mesa diretora que vai tomar posse daqui a dois anos.

A mudança no formato da eleição – que, alguns desconfiam, esconde um interesse político menos republicano – foi regulamentada por meio da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 11/2022, que alterou a eleição da mesa diretora, proposta apresentada pelo deputado estadual Ricardo Ayres (Republicanos), tendo pleno acordo com o Palácio Araguaia. A matéria foi aprovada no fim do ano passado, em meio a um pacote de medidas, e quase passou despercebida, não fosse um registro do senador Irajá Abreu (PSD).

Na tribuna do Senado, Irajá Abreu alertou na época, que a PEC atendia aos interesses escusos do Palácio Araguaia e, portanto, caracterizaria uma ingerência do Executivo na eleição da mesa diretora da Assembleia Legislativa, o que representa uma anomalia que afeta a autonomia dos poderes. Irajá avalia que a intenção do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) é garantir o controle da Assembleia Legislativa durante os quatro anos do seu mandato.

A revelação do senador Irajá indica que o governador trabalha para manter o controle da Assembleia Legislativa, o que significa dizer que ele vai querer no cargo de presidente um nome de plena confiança. A proposta de alteração da Constituição revela que o governador não quer correr riscos: embora tenha a maioria da Assembleia, quer eleger agora o presidente da Casa que vai assumir daqui a dois anos. Isso quer dizer que o governador aproveita o capital político que tem no momento para assegurar governabilidade no futuro.

Neste contexto de profundo alinhamento entre o Palácio Araguaia e a Assembleia Legislativa, dois deputados, Amélio Caires e Cleiton Cardoso, ambos do Republicanos, são os nomes que chegam à reta final do processo de articulação com as melhores condições de encabeçar a chapa da base governista e se eleger presidente da Assembleia Legislativa.

Como é o do Bico do Papagaio, Amélio na presidência da Assembleia contribui para a ideia de equilíbrio do poder, visto que a região reivindica maior representação neste governo. Wanderlei, seu vice Laurez Moreira (PDT) e a senadora Dorinha Seabra (UB) representam as regiões centro e sul do Estado. Este quesito favorece Caires. Em resumo, Caires e Cardoso são os nomes com maior possibilidade de conquistar a presidência.

Os dois têm apoio dos colegas e aval do Palácio Araguaia. O Republicanos, partido do governador Wanderlei Barbosa, é a legenda com a maior bancada do Parlamento estadual, com sete deputados. Como são duas eleições, os dois podem se eleger presidentes ao mesmo tempo – um para o primeiro biênio e o outro, para o segundo.

Tudo deve passar pelo grande entendimento que envolve o Palácio Araguaia e também a bancada minoritária de oposição que, ao que tudo indica, não tem nenhuma chance de vencer as eleições e não deve lançar chapa, apenas apresentar nomes para compor com os governistas.

Pelo menos mais quatro deputados ainda estão na disputa pela presidência da Assembleia – Ivory de Lira (PCdoB), Jorge Frederico, Jair Farias e Nilton Franco (todos do Republicanos). Todos têm chances se os dois mais cotados não conseguirem viabilizar o consenso. O mais provável é que a essa altura já aceitaram compor chapa, facilitando o entendimento.

Se a hipótese que justifica a PEC é o interesse do governador de manter um presidente próximo ao Palácio Araguaia é possível especular que esse cuidado todo se justifica pelo fato do governador trabalhar com a possibilidade de renunciar em 2026 para concorrer a uma cadeira do Senado, com chances reais de se eleger. E é isso que parece ser a razão da alteração do formato da eleição. Manter não apenas a governabilidade, mas o poder nas mãos dos mesmos.   

Essa estratégia fortalece nomes com fortes relações com o governador Wanderlei Barbosa. O deputado Ivory de Lira é o pré-candidato que melhor preenche esses requisitos. Ivory esteve junto com Wanderlei durante os quatro mandatos no Parlamento de Palmas. Foi peça fundamental nas duas vezes em que Wanderlei presidiu aquela Casa de Leis. É o líder do governo na Assembleia e tem trânsito livre no Palácio.

Outro nome que deve ser incluído nesta lista é o deputado Leo Barbosa (Republicanos), o mais votado nestas eleições. Como é o filho do governador seu nome não aparece entre os pré-candidatos, mas não se pode descartar que haja um trabalho de bastidores para torna-lo presidente, sobretudo para o segundo biênio. Período que se imagina que governador Wanderlei Barbosa estará deixando o poder para buscar mandato de senador.