Carlesse ensaia retorno
26 junho 2022 às 00h00
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Ex-governador articula pré-candidatura ao Senado pelo Agir, mas o importante é ter ter de qualquer forma, até como deputado estadual
O ex-governador Mauro Carlesse voltou a participar de conversações políticas depois de um longo período de isolamento, desde que foi afastado do comando do Palácio Araguaia, em 20 de outubro de 2021. Agora filiado a um novo partido, o Agir, Carlesse articula sua pré-candidatura ao Senado.
O partido já está preparando um evento de lançamento da pré-candidatura. As informações são do presidente do partido, Sebastião Albuquerque que aponta que o evento deve ser realizado em Gurupi, berço político do ex-governador. Na semana passada, Carlesse foi recebido pela prefeita Josi Nunes (UB) e por seu vice, Gleydson Nato (PTB). Na oportunidade, os gestores hipotecaram apoio ao projeto político do ex-governador.
O entusiasmo de Carlesse vem após o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) considerar improcedente a ação judicial contra os mandatos da prefeita Josi Nunes e de Gleydson por abuso de poder econômico na campanha eleitoral de 2020, por distribuição de cestas básicas pelo governo do Estado. Carlesse comemorou o resultado, como demonstração de que está elegível.
“Estou muito feliz por ser absolvido de um processo no qual eu estava sendo condenado em relação a entrega de cestas básicas. Eu quero dizer a população e todos os amigos que as cestas básicas foram entregues num momento muito difícil, de pandemia. Nós entregamos mais de 1,5 milhão de cestas básicas a todos os municípios do Tocantins, a assentamentos, comunidades e a entidades que naquele momento estavam precisando de apoio. Fizemos isso com muita alegria e muita grandeza. Graças à Justiça e a Deus, eu fui absolvido”, diz o ex-governador em mensagem de vídeo, postado em sua rede social.
O resultado favorável no julgamento dessa ação alimenta a esperança de aliados de ter o ex-governador na disputa das eleições deste ano. A nota não faz menção aos processos oriundos das operações Éris e Hygea, que foram responsáveis pelo seu afastamento do cargo. A inelegibilidade está relacionada à renúncia. O entendimento jurídico é de que a renúncia provocou automaticamente a suspensão dos direitos políticos. Carlesse fará tudo para ser candidato, planeja o Senado, mas aceita disputar qualquer cargo, inclusive o de deputado estadual. Como o ex-governador Marcelo Miranda, o mais importante é voltar a ter mandato. Imunidade parlamentar ajuda a enfrentar processos que ainda virão.
Trajetória
Carlesse é cria do siqueirismo. Teve uma ascensão política meteórica. Em 2012, disputou as eleições de Gurupi, em estreia política avalizada por seu padrinho político, o então governador Siqueira Campos. Perdeu. Em 2014, foi candidato a deputado estadual e conseguiu se eleger. Na eleição da mesa diretora da Assembleia, virou o candidato ideal para vencer um candidato governista. Carlesse foi o nome apontado pelo deputado Eduardo Siqueira Campos, que articulou sua eleição. Sua qualidade era ter dinheiro para se bancar. E foi assim que conquistou a presidência da Casa, tornando-se substituto do governador em caso de vacância.
Em 2018, enfrentou uma eleição relativamente fácil para o governo do Estado por conta da situação de instabilidade política, provocada pela cassação, pela segunda vez, do mandato do governador Marcelo Miranda (MDB) e da vice-governadora Cláudia Lelis (PV). Carlesse era o presidente da Assembleia Legislativa na ocasião, e, por direito constitucional, caberia a ele assumir o comando do governo. Convocou eleição suplementar para junho, 2018, concorreu e venceu. Em outubro, concorreu à reeleição vencendo o pleito no segundo turno. Permaneceu à frente do Palácio Araguaia durante três anos e dez meses. No dia 20 de outubro de 2021, foi afastado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), por recebimento de propina de fornecedores do plano de saúde dos servidores estaduais (Plansaúde) e interferência política nas operações da Polícia Civil.
Em 11 de março de 2022, Carlesse surpreendeu a todos ao renunciar ao mandato para evitar a instalação do processo de impeachment que certamente resultaria na cassação de seu mandato.