Apesar da pressão, Wanderlei faz bem em manter neutralidade no 2º turno

16 outubro 2022 às 00h03

COMPARTILHAR
O governador reeleito Wanderlei Barbosa (Republicanos) está novamente no meio de um fogo cruzado de aliados, entre os que cobram sua participação na campanha pela reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL) e os que defendem distância de assumir posição a favor ou contra, por considerar desnecessária e irrelevante no contexto da disputa. O Republicanos, partido do governador, está com Bolsonaro. Wanderlei teve uma votação consagradora. Dizem aliados que, se declarar apoio ao presidente, vira o jogo no Estado. O problema é que o Tocantins não decide nada, porque o eleitorado não é quantitivamente representativo no contexto nacional.
Aliados bolsonaristas – como os deputados federais Carlos Gaguim (UB), Eli Borges (PL) e Professora Dorinha (UB), agora senadora eleita – correram para Brasília para declarar apoio ao presidente e tentar influenciar a decisão do governador. O governador parece não ter se comovido com os acenos de última hora. Lembremo-nos de que Bolsonaro a única vez que veio ao Tocantins, durante a campanha do primeiro turno, foi para atender especialmente para paparicar seu adversário, Ronaldo Dimas (PL).
Wanderlei Barbosa em nenhum momento foi lembrado como aliado do presidente. Como tal, também poderia merecer alguma atenção. Hoje, o senador Eduardo Gomes (PL) considera o apoio do governador fundamental para Bolsonaro virar no Tocantins. No primeiro turno, ele achava que o apoio do Dimas era o bastante.
Certamente o governador teve votos de eleitores de Lula, bem como de eleitores de Bolsonaro. Por que no segundo turno teria de tomar posição para um lado?
Líderes do agronegócio também se articularam para pressionar o governador a assumir uma posição em favor da reeleição de Bolsonaro. Articulados pela Federação da Agricultura do Tocantins (Faet), ligada à senadora Kátia Abreu, se reuniram e solicitaram audiência com o governador para tratar do assunto. Até o momento não se sabe de resultado do pleito do setor produtivo, considerado o carro-chefe da economia regional. Wanderlei é um bom ouvinte, mas não é de tomar decisão para atender algum tipo de solicitação de algum segmento, principalmente se parecer por pressão.
Ao que tudo indica, Wanderlei já tomou sua decisão. Ficará neutro. O que é uma posição corajosa, não falta de posicionamento. O governador adota uma postura madura e coerente. Com uma votação expressiva, das maiores para o Palácio Araguaia, em nenhum momento da campanha precisou vincular a disputa regional com a nacional. Certamente teve votos de eleitores de Lula, bem como de eleitores de Bolsonaro. Por que no segundo turno teria de tomar posição para um lado?
Em respeito a seus eleitores, o melhor que tem a fazer é se manter como sempre esteve: fora da polarização. Com qualquer um que for eleito, o Tocantins vai precisar de seu governo. O não envolvimento direto do governador na campanha do segundo turno pode ser um trunfo para o Estado amanhã. Estamos falando de um Estado insignificante em termos eleitorais, representando apenas 0.7% do colégio eleitoral brasileiro. Ou seja, não decide nada e, por outro lado, depende muito das migalhas de repasses do governo federal. Wanderlei Barbosa age não apenas com racionalidade ao invés de arroubos emocionais, mas sobretudo com responsabilidade.
Já está eleito, o que significa dizer que terá pela frente a obrigação de cumprir as promessas que fez de realizar o melhor governo de todos os tempos. Para tanto, terá de buscar parceria com quem for eleito. Ao tomar a decisão de sair da disputa e se dedicar à gestão, o governador revela a maturidade e a sensatez que se espera dos grandes líderes.
O governador está se saindo melhor do que a encomenda. Sem dizer uma palavra, conseguiu evitar a siqueirização de seu governo, que veio em forma de manifesto pela governabilidade, assinada por 21 deputados, articulada pelo deputado Eduardo Siqueira Campos, o mesmo que transformou o apagado deputado Mauro Carlesse em presidente do Legislativo e o fez governador, num momento seguinte.
Wanderlei mostrou que tem personalidade política quando não se deixou influenciar pelo apoio da máquina partidária do clã Abreu, uma poderosa estrutura, para se manter independente e livre para tomar decisão. Não precisou dizer não à senadora Kátia Abreu (pP), que foi o apoio de primeira hora na desconstrução do “entulho Carlesse” que ainda restava no governo, e teve total liberdade de compor a chapa majoritária, conforme suas convicções políticas. E deu no que deu, um banho de voto. Kátia foi parceira de primeira hora, mas tinha uma rejeição que poderia comprometer o desempenho da chapa majoritária.
Usando o silêncio como resposta para ataques e capacidade de ouvir mais e falar menos, o governador está fazendo o que deseja fazer e sabe bem o que está fazendo. Wanderlei exalta a tocantinidade, mas age como mineiro.