Moradores em situação de rua estão vivendo de forma degradante debaixo da ponte da Avenida Independência, na Marginal Botafogo, em Goiânia. Ali, há um grupo de cerca de 15 pessoas expostas a vários tipos de perigos como enchentes do Córrego Botafogo e riscos de vida, inclusive para quem trafega pelo local, visto que, como estão muito próximos das duas pistas da via, criam cenário propício para acidentes de trânsito.

Os moradores dividem espaço com animais de estimação e um amontoado de recicláveis que, de acordo com eles, servem como ganha pão. São, na maioria, trabalhadores que vieram para Goiânia em busca de uma vida melhor, alguns até com promessa de emprego. Ao chegar na capital, porém, vários perceberam que as coisas não eram tão fáceis assim, ou foram enganados com a falácia de uma vida fácil.

A reportagem do Jornal Opção conseguiu contato com os moradores do local, que revelaram ser, em sua maioria, vindos do Nordeste, mais especificamente dos Estados do Maranhão e da Bahia. Além disso, praticamente todos têm algum tipo de profissão, como armador de ferragem, borracheiro, pedreiro e pintor, dentre outras. “Todos nós aqui somos pessoas do bem. Usamos nossa bebida e nossos produtos, mas não fazemos mal a ninguém”, disse um deles.

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Eles explicam que a rua acaba sendo um caminho inevitável, já que estão fora de casa, sem dinheiro e longe de suas famílias, que na maioria das vezes não têm condições financeiras de ajudá-los. Por esses e outros motivos acabam se envolvendo com drogas e álcool como um meio de esquecer a falta dos parentes e a necessidade de alimento.

Grupo sem-teto vive em condições de vulnerabilidade no local | Foto: Fernando Leite

Questionados se já receberam algum tipo de suporte ou ajuda da administração pública, eles revelam que já foram procurados por agentes da Prefeitura, mas sem muitas resoluções. “A gente vive aqui porque não temos opção, ninguém dá trabalho para morador de rua. Um povo da prefeitura veio aqui e só falou para a gente ter cuidado com a rua”, disse ele.

Um outro morador do local respondeu que já houve oferta de ajuda, mas não foram aceitas. “Eles querem nos levar para os abrigos para a gente dormir em colchões mofados, aí não dá, né seu moço”, retrucou.

Um rapaz que parece atuar como líder do grupo diz que ali vivem da ajuda de pessoas de bom coração, que passam por lá e doam cestas com alimentos. “Nós estamos na rua, mas não somos bandidos. Também temos o direito de trabalhar catando os recicláveis e, indo para os abrigos, não teremos esse direito. Infelizmente experimentamos a tal da droga desgraçada e agora não conseguimos se livrar”, relatou o jovem líder. Segundo ele, a prefeitura deveria oferecer não só o abrigo, mas também uma opção de recuperação para os dependentes.

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Enquanto conversava com a reportagem, o provável líder pegou uma balança de precisão para pesar alguns materiais que outro inquilino do local traziam da rua. “Aqui é assim, nós ajudamos um ao outro. Às vezes eu mesmo compro o que eles encontram”, falou o rapaz. Perguntado onde ele consegue o dinheiro para comprar, ele diz que também recicla, além de revender os materiais que compra dos amigos.

A reportagem entrou em contato com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Humano e Social, que prometeu prestar esclarecimentos sobre a situação destes e outros moradores de rua de Goiânia.

Cilas Gontijo é estagiário do Jornal Opção em convênio com a UniAraguaia, sob a supervisão do editor PH Mota.