Sem essa de definição só em julho: PSD, PSB e PP estão com José Eliton
27 maio 2018 às 00h00

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Líderes de partidos que fazem parte da base governista dizem que estão “conversando” com Daniel Vilela e Ronaldo Caiado, mas é só jogo de cena antes das convenções

O título deste texto, colocado de forma categórica, contraria o jornalismo político goiano que se limita a descrever o dia a dia dos acontecimentos. Mas, jornalismo político pra valer deve ir além do cotidiano e buscar, na análise realista, a antecipação dos fatos, mesmo que correndo risco de errar em um ou outro detalhe. É o que se vai fazer em seguida: análise dos fatos com informações de conhecimento público, aquelas que o jornalismo do dia a dia entrega, mas também com dados de bastidores.
O calendário eleitoral define que os partidos políticos realizem suas convenções do dia 20 de julho a 5 de agosto. Como se sabe, é nas convenções que as siglas oficializam alianças e coligações ou definem se sairão com chapas puras. Isso equivale dizer que até lá, todos os partidos estão livres e soltos.
É nessa fase de “conversações”, na pré-campanha, que todo mundo dialoga com todo mundo. Até adversários que há anos não se falavam, voltam a bater papo, sondando-se mutuamente, sentindo os respectivos pulsos para, quem sabe, lá na frente se acertarem. No processo sucessório estadual em curso, praticamente todos os partidos estão nessa de conversar.
E o curioso é que a disposição ao diálogo parte até de partidos nanicos, sem tempo de TV, sem fundo partidário, ou seja, que não têm nada a oferecer para fortalecer uma aliança de forma efetiva. Mas, vá lá, dizer que está “conversando” serve para valorizar o próprio passe em alguma medida. É justamente nessa fase que a “plantação” de notinhas nas colunas de política corre solta.
Os respectivos líderes dizem que estão abertos ao diálogo e tal e que definição, mesmo, só em julho, ou seja, às vésperas das convenções. Exemplo dessa liberalidade de conversa, de ânimo solto para o “entendimento” se deu recentemente, com o ex-deputado federal Vilmar Rocha, presidente regional do PSD.
Mesmo num partido da base governista, tendo ocupado durante anos e anos cargos importantes no governo, Vilmar tem afirmado que a definição de sua sigla só em julho e que ele está “conversando”, inclusive, com os pré-candidatos ao governo Ronaldo Caiado, do DEM, e Daniel Vilela, do MDB. Sobre este, Vilmar chegou a dizer que é o único que representa a renovação que a população goiana busca, num desdém até pouco elegante com o nome de sua base.
A atitude de Vilmar se deve à falta de espaço na chapa majoritária governista — ele gostaria de ser candidato ao Senado ou, pelo menos, a suplência de Marconi Perillo, o que é muito difícil nas atuais circunstâncias. A “conversa” com os adversários de José Eliton (PSDB) seria uma forma de pressionar a base, ameaçando tirar dela o importante apoio do PSD, que tem bom tempo de propaganda eleitoral e fundo partidário substancial.
Aliás, sobre o apoio do PSD, que é cobiçado por todos, a coluna Radar (Veja) noticiou na quarta-feira, 23, que Ronaldo Caiado participou de um jantar com Gilberto Kassab em São Paulo para negociar o apoio da sigla à sua campanha ao governo de Goiás. Como se sabe, Kassab é presidente nacional do PSD. Segundo a nota, Vilmar Rocha esteve no tal jantar. “A conversa foi boa, mas qualquer definição, entretanto, virá apenas em julho. Até porque o PSD também mantém conversas com Daniel Vilela, adversário de Caiado”, finaliza a nota.
Mas, afinal, o PSD, e também o PP e o PSB, duas outras siglas importantes da base de José Eliton, podem bandear para Ronaldo Caiado ou para Daniel Vilela? Em maior ou menor grau, todas elas estão, ou estiveram até poucos dias, nessa conversa mole de que “dialogam” com todas as forças políticas, deixando no ar a possibilidade de sair do arco de aliança do tucano.
Fora da base, Vilmar Rocha ficaria isolado

O PSD está firme com José Eliton. Majoritariamente, os 17 prefeitos da sigla são pró-tucano, mesmo admitindo-se a possibilidade de que um ou outro passe para o outro lado. E em que pese a atitude de Vilmar Rocha, o único deputado federal da sigla, Thiago Peixoto, e os três deputados estaduais, Francisco Jr., Simeyzon Silveira e Lucas Calil, são totalmente favoráveis à aliança e não veem como sair da base para apoiar Ronaldo Caiado ou Daniel Vilela. Todos eles fizeram indicações no governo e são corresponsáveis pela administração.
Por sinal, em entrevista ao Jornal Opção na quarta-feira, 22, sobre uma reunião agendada para sábado, 26, que definiria a posição do partido, Simeyzon defendeu que a tendência é de que o PSD permaneça na base. “O caminho natural é esse, até porque já estamos na base. O PSD faz parte de uma base, temos o nosso caminho ao longo desse tempo, o caminho natural é esse a não ser que houvesse um motivo muito grande para que o partido rompesse.”
Simeyzon disse que tinha a garantia de Vilmar Rocha de que a vontade da maioria seria acolhida, em que pese as divergências. Com o PSD na base por decisão da maioria, Vilmar não seria candidato neste pleito. Nesse caso, é provável que sua função seja a de coordenar a campanha do pré-candidato tucano à Presidência da República, Geraldo Alckmin, em Goiás. Vilmar não daria apoio pessoal explícito a José Eliton, mas não impediria a aliança com o tucano. Ou seja, o PSD está com Eliton, embora Vilmar Rocha possa não estar.
E o PSB da senadora Lúcia Vânia?

Este também está com José Eliton. A senadora, que em determinado momento sentiu ameaçado seu projeto de candidatura à reeleição pela base, com a chegada meio intempestiva do ex-senador Demóstenes Torres, chegou a flertar politicamente com Ronaldo Caiado. Lúcia ausentou-se de solenidades com o governador, mas o bom senso imperou e ela voltou a participar das ações do governo ao qual ajudou a eleger.
Assim como Lúcia, o único deputado estadual da sigla, Lissauer Vieira, tem seus compromissos e interesses resguardados na base governista, o que deixaria de ser contemplado no apoio a outro projeto. Da mesma forma, o deputado federal Marcos Abrão, que comanda o PPS e é sobrinho da senadora. Por aí se vê, o PSB (e de contrapeso o PPS, que tem também o deputado estadual governista Virmondes Cruvinel) está firme na aliança de José Eliton, como não poderia deixar de ser.
Por fim, o PP, outro partido que está em “conversa” com todo mundo e que só vai se definir em julho. Na quinta-feira, 24, por sinal, a imprensa registrou que Daniel Vilela foi convidado de honra num jantar na casa do presidente nacional do PP, Ciro Nogueira, na noite anterior, em Brasília. Estava presente no jantar o ministro Alexandre Baldy, presidente do PP goiano. No menu, foi discutida a aliança entre MDB e PP em Goiás.
Diz-se que a conversa foi “produtiva e bastante decisiva” e que, agora, se o PP estava dividido, são maiores as chances de uma aliança com Daniel. Essa posição de divisão do PP é pura e simples retórica. O partido dirigido em Goiás por Baldy está fechado com José Eliton. Igualmente basista, com cargos no governo, o PP não teria nem como explicar um hipotético apoio a Daniel ou a Caiado. Lembrando que a mulher do ministro das Cidades, Luana Baldy, é cotada como suplente de Marconi Perillo na candidatura deste ao Senado.
Obviamente, a relação de Alexandre Baldy tanto com o líder ruralista democrata quanto com Daniel Vilela é excelente. As conversações entre eles ocorrem praticamente todos os dias, tanto em Brasília quanto em Goiás, até pelo cargo de Baldy no governo federal. Mas aliança eleitoral é outra coisa.

Os três deputados federais do PP, Roberto Balestra, Sandes Júnior e Heuler Cruvinel — este, por sinal, acaba de emplacar o novo titular da poderosa Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos (Secima), Hwaskar Fagundes — têm ligação notória, histórica, com a base governista e com o governo, que atende seus pleitos. Da mesma forma, os 24 prefeitos da sigla. Portanto, não tem “conversa” com Daniel Vilela e/ou Ronaldo Caiado, ou pode até ter, mas só por educação, mesmo.
Aliás, sobre os prefeitos dos partidos integrantes da base aliada, vale uma consideração à parte. Todos eles, sem exceção, ao iniciar o mandato, estavam com a “corda no pescoço”, na perspectiva de apenas gerenciar a folha de pagamento dos servidores, quando muito. O Programa Goiás na Frente foi uma salvação para todos, dando condições de fazer investimentos em obras que a população vê, como asfalto, e na saúde e na educação.
E os outros partidos?
Quanto ao PTB do deputado federal Jovair Arantes — e dos deputados estaduais Henrique Arantes, Carlos Antonio e Daniel Messac — está fechadíssimo com José Eliton. Também o PV, que saiu da base de Iris Rezende na Câmara de Vereadores da capital e aderiu ao governador.
O PCdoB também está “conversando” com o tucano. O PRB do deputado João Campos é uma incógnita, e sua adesão passa por negociação nacional. Já o PDT dialoga com todos, mas quer mesmo é estrutura de campanha, o que só José Eliton pode garantir, lembrando que a sigla foi atendida tanto pelo ex-governador Marconi Perillo quanto pelo atual governador.
Evidentemente, pode ser que aconteça uma ou outra defecção na base governista, mas o fato é que o arco de coligação do tucano está desenhado. A perspectiva é que José Eliton tenha cerca de 6 minutos de tempo de propaganda, uma grande vantagem em relação aos adversários. Além dos partidos mais fortes, um exército de prefeitos estará de prontidão para apoiar a reeleição de José Eliton.
Ronaldo Caiado e Daniel Vilela contam com quê?

O pré-candidato do DEM ao governo estadual seu DEM, ou como dizem em tom de brincadeira, o PRC, Partido de Ronaldo Caiado. O DEM se enfraqueceu muito nos últimos anos. Outro ponto desfavorável a Caiado é que mesmo os prefeitos demistas não estão todos fechados com ele. O líder ruralista tem, na verdade, apenas parte do DEM.
Quantos a outras siglas em apoio ao democrata, verdade que parte do MDB fechou com o ruralista: os prefeitos Adib Elias (Catalão), Paulo do Vale (Rio Verde), Ernesto Roller (Formosa), Renato de Castro (Goianésia) e Fausto Mariano (Turvânia). Há, também, siglas minúsculas, algumas delas tão pequenas que nem têm tempo de TV. Ah, sim, Caiado tem também parte da Igreja Assembleia de Deus, a ala sob influência direta do pastor Oídes do Carmo.

Já o emedebista Daniel Vilela, por sua vez, conta a maioria de seu MDB, aquela parte que acredita que o partido precisa lançar um novo nome para o eleitorado goiano escolher. Desde 1982, excetuando 1986, a sigla disputou o governo apenas com Iris Rezende e Maguito Vilela. E de 1998 para cá perdeu todos os pleitos – três vezes com Iris e duas vezes com Maguito. A continuar o cenário atual, o MDB vai dividido na eleição, o que tira muito da força da legenda no apoio ao seu presidente na campanha ao governo estadual.
Por fim, Daniel Vilela pode ter o PRB, que tem uma estrutura pequena, mas nada desprezível (56 vereadores, 6 vice-prefeitos, 3 prefeitos, além de um deputado estadual e um deputado federal). O partido tem sido uma incógnita até agora e a negociação de apoio passa pelo comando nacional. O deputado federal João Campos tem identificação com a base governista e poderia exercer influência até certo ponto. Mas se o presidente da República, Michel Temer, que tem influência sobre a sigla, pressioná-la para apoiar Daniel, o PRB ficaria com o emedebista.