No próximo pleito, os goianienses elegerão não mais 35 vereadores, mas 39. “Isso mexe com o cenário e traz a possibilidade de estimular novos players a participar do processo”, comentou o professor e especialista em marketing político, Marcos Marinho. Apesar disso, mais vagas podem atrair também quem já teve mandato e hoje está sem.

Historicamente, há uma tendêcia de se buscar novos nomes na Câmara e percentual de renovação têm oscilado entre 50 e 60%. Justamente por isso, nos corredores do legislativo municipal o comentário é de que, com mais cadeiras disponíveis, aumentariam as chances dos atuais vereadores se reelegerem. O especialista aposta na renovação, mas com ressalvas: “Não quer dizer que serão nomes inéditos. Provavelmente, muita gente que já teve mandato e não se reelegeu volta nessa eleição”, destacou.

No entanto, Marcos Marinho lembra ainda que é preciso se atentar para as questões partidárias que podem interferir no processo. Por exemplo: as federações, que agora valem. Nesse contexto, ainda inserem-se os partidos que perderam o fundo partidário e vão ter que se fundir para ter alguma chance nas eleições. Também é preciso levar em conta que a eleição para Câmara é pulverizada: muitos candidatos para poucas cadeiras. “Voto de vereador é voto de bairro”, resumiu.

A Câmara, na visão do especialista em Marketing Político, permite a eleição de perfis diferentes, mas todos alinhados com o seu eleitorado. “O pior problema de qualquer politico é não entender quem é seu eleitor e qual é o seu próprio perfil. Quem não entende isso gasta muita energia e acaba não falando com ninguém. Se der tiro pra todo lado, a possibilidade de se perder no meio do caminho é grande”, avisou Marcos.

Todos os fatores listados acima, somados, devem definir se haverá uma tendência maior de continuidade ou renovação. Justamente por isso, para conseguir se fazer notado no pleito, é preciso considerar todas essas variáveis. Outro ponto destacado pelo especialista em marketing político, é que muitos candidatos entraram no “segundo tempo” porque herdaram as cadeiras por uma questão jurídica.

Professor e analista político Marcos Marinho aposta na renovação da Câmara, mas com ressalvas | Foto: Reprodução/Facebook

Sobre a maioria governista na Câmara, Marcos pondera: “Uma coisa é estar na base do prefeito hoje. Se manter nela no início do ano que vem é outra coisa. Por mais que o Rogério Cruz tenha feito todo um estratagema pra inflar sua base a custa de nomeações e reconduções, isso não dá segurança de que a ela será coesa e apoiará a sua reeleição”.

E o especialista lembra ainda do caso do MDB, numeroso na Câmara e que apoia Rogério, mas que deve lançar candidato próprio nas próximas eleições. “Quando o chefe bater o sino, muita gente vai ter que pensar pra que lado vai. E bater na Prefeitura é vantagem e dá voto, dependendo da avaliação do prefeito”, destacou.

O segredo é o trabalho

O vereador Paulo Magalhães (UB) é um dos mais experientes da atual legislatura: está no seu quarto mandato não-consecutivo. A primeira vez que assumiu uma cadeira na Câmara Municipal foi em 1971, até então o mais jovem parlamentar eleito para o legislativo municipal. Na época, tinha 23 anos. Hoje com 75, trabalha pela sua reeleição.

O trabalho, inclusive, é, para Paulo, o segredo para se manter na Câmara. “Quem trabalhou vai se reeleger, quem não mostrou trabalho vai ficar de fora”, decretou o parlamentar que garante que é “madrugador” e que não faltou a uma só sessão nesta legislatura. “Tem que criar vergonha na cara e honrar cada voto que recebeu mas urnas. Três mil votos não são três”, bradou.

Antes de ser vereador, o político do União Brasil já entregou marmita em obra, foi jornaleiro, servente de pedreiro, vendedor e engraxate. Foi engraxando sapatos, incusive, que conheceu seu mentor, Pedro Ludovico Teixeira, que o aconselheu a seguir carreira política, segundo sua biografia no site da Câmara Municipal.

Sobre o aumento do número de cadeiras na casa legislativa goianiense, Paulo Magalhães explica que isso é necessário porque a cidade cresceu e o número de vereadores não. Mas é enfático: “Não adianta aumentar o número de parlamentares se o pessoal não aparecer pra trabalhar”, criticou.

Paulo reclama que, atualmente, no legislativo municipal ausências são constantes. “Infelizmente, essa turma que está lá agora não gosta de trabalhar. A gente precisa votar projeto importante e não dá quórum porque os vereadores não aparecem na sessão”, explicou.

Paulo Magalhães, vereador, aposta na força do trabalho para se reeleger | Foto: divulgação

Em seus dois últimos mandatos, Paulo foi da base governista na Câmara, mas hoje não: “Sou independente, apesar do meu grupo político apoiar o prefeito”. E o vereador garante que não tem nenhum acordo político com o executivo municipal, o que torna seu mandato mais livre e sem amarras.

Revelação na política

A vereadora tucana Aava Santiago é apontada no meio político como uma das revelações da atual legislatura. Atualmente, inclusive, seu nome é ventilado para a Prefeitura de Goiânia. E a presidente do PSDB na capital não nega que seu partido terá uma candidatura própria nas próximas eleições, mas pondera: “Não falamos num nome. As pessoas pensam naturalmente em mim e sou grata por isso. Mas sei da responsabilidade”.

Aava entende que ser cogitada como candidata a prefeita é um apontamento de que seu trabalho como vereadora “está no caminho certo”. “Trabalho para entregar um bom mandato e ser reconduzida à Câmara. Mas se o partido entender que devo me candidatar ao Executivo, não me oponho”, revelou.

Sobre seu primeiro mandato, a tucana avalia como uma “experiência interessante”. Primeiro, por ser uma mulher no parlamento. E não é pra menos: na atual legislatura, elas ocupam apenas seis das 35 cadeiras. E soma-se a isso o fato de não ser uma “herdeira”, uma vez que não nasceu em berço político.

Dentro dessa classe de herdeiros políticos, Aava cita o governador Ronaldo Caiado (UB), o vice-governador Daniel Vilela (MDB) e o presidente da Assembleia Legislativa, Bruno Peixoto (UB). “Não é uma crítica, só uma constatação de que é um sistema que se retroalimenta”, garantiu.

Quando assumiu seu mandato, Aava conta que era uma parlamentar de “baixo clero”. “Achavam que seria uma vereadora youtuber, que protagonizaria debates no campo ideológico. De vez em quando acontece: é inevitável conter alguns absurdos que acontecem na Câmara. Mas não é minha prioridade nem define o meu mandato”, afirmou.

A vereadora ainda pontua que pesa sobre as mulheres a violência política de gênero no que diz respeito ao financiamento das candidaturas. No seu caso, ela contou com apenas R$ 10 mil de fundo partidário para fazer sua campanha, em 2020, no auge da pandemia e com um filho de colo nos braços.

Para a parlamentar, a falta de dinheiro prova que é possível desmonetizar a política. “Foi uma das campanhas mais baratas da história da Câmara”, lembrou a vereadora eleita, apesar dos inúmeros fatores – todos relatados acima – que a desfavoreciam.

No legislativo municipal, Aava acredita que é preciso pensar a política para além da representanção de bairros. “As urgências da cidade devem ser pensadas de forma universal e não apenas para uma região. Eu mesma tive votos na cidade inteira de pessoas que defendem pautas coletivas”, comentou.

Aava Santiago: de vereadora “baixo clero” a política respeitada em Brasília | Foto: Fernando Leite/ Jornal Opção

Sobre 2024, a parlamentar pensa que tudo pode acontecer nas urnas. “Eleição municipal é supresa. Alguém que você nunca ouviu falar e é um fenômeno no bairro onde mora ganha uma eleição”, reconheceu a vereadora que conquistou sua cadeira no legislativo municipal sem padrinhos na politica, sendo a única do seu partido na casa de leis.

Aava, que é indepentende e uma crítica voraz da Prefeitura, destaca ainda que a ampla adesão ao prefeito na Câmara – ela contabiliza que mais de 30 dos 35 vereadores compõem a base governista – pode respingar na campanha. “Dependendo de como tiver a avaliação do Rogério Cruz, os vereadores da base podem encontrar dificuldades”, avaliou.

Dicas pra quem vai ser candidato pela 1ª vez

Para quem pensa em se candidatar nas próximas eleições, já é o momento de “virar a chave”, uma vez que o cenário está sendo posto agora. “A campanha não começa em março do ano que vem. Quem fizer isso está descartado do processo. É impossível alguém acordar em 2024 e decidir ser candidato. Quer apostar na sorte? Tenta a Mega”, ironizou Marcos Marinho.

Para o especialista, o momento é de amplificar a visibilidade de um aspirante a vereador. “Já deveria ter começado. Quem não é visto não é lembrado. Num contexto de 600 candidatos, é muito difícil ganhar notoriedade”, afirmou Marcos.

Além disso, presença constante nas redes sociais e a proximidade com lideranças de bairros, participando do cotidiano das comunidades, também são ações importantes. “Eleição municipal é muito difícil. Se não conseguir estabelecer uma base consistente, não tem chance de vitória”, alertou.

Na visão de Aava Santiago, o candidato precisa ficar atento. “Três partidos perderam mandatos nessa legislatura porque não cumpriram as cotas de gênero e os vereadores eleitos foram penalizados por um erro do partido”, lembrou. Por isso, a dica de Aava é acompanhar a chapa diariamente.

“Os partidos não fizeram o seu papel de dar a mínima segurança pro postulante que venceu nas urnas e não exerceu o seu mandato”, completou Marcos, que pondera que em 2024 vai estar todo mundo mais atento às questões legais. “Mesmo assim, tem que montar uma chapa competitiva dentro da regra. 50% da eleição é a montagem da chapa”, adirmou.

E a vereadora também destaca que o mais importante para quem nunca disputou um cargo no legislativo é desmistificar a percepção equivocada que muitos têm de que eleição para vereador é concurso de “miss simpatia”. “O eleitor cada vez mais se pergunta: porque eu vou votar nessa pessoa?”, sugeriu.

Marcos lembra que campanha de vereador conta com com dois “erres”: rua e redes sociais. “A TV não tem peso. Nem tem espaço pra tantos candidatos”, explicou. Nas plataformas digitais, a dica é criar uma audiência definindo bandeiras, com pautas de relevância. Mas o especialista garante: seguidor é diferente de eleitor. ” Não adianta criar uma estratégia só pra ter like e aumentar número de seguidores se não consigo transformar o cara da curtida em alguém que acredita na minha causa”, afirmou.