No Brasil, cerca de 96% dos resíduos não são reciclados, ou seja, apenas 4% desse material é reaproveitado na indústria. Mais de 80 milhões de toneladas de lixo acabam em lixões e aterros sanitários. Materiais como plásticos, papel, papelão, pets, vidros e metais têm grande valor no mundo da reciclagem e poderiam ser mais reaproveitados se o Brasil tivesse uma política pública voltada para o incentivo aos catadores e cooperativas.

De acordo com a Organização das Cooperativas do Brasil – GO (OCB – GO), em Goiás, apenas 1,7% dos resíduos são reciclados, e em Goiânia, somente 3,7%. Isso é muito pouco. Ainda segundo a OCB, o principal motivo da baixa quantidade é a falta de conscientização da população para fazer a separação correta do lixo, o que facilitaria o trabalho dos catadores. Apenas o papelão é processado em Goiás. A entidade informa que existem 65 cooperativas registradas na Junta Comercial de Goiás (Juceg), sendo que desse total, doze estão na grande Goiânia.

A entidade ressalta que o poder público poderia ajudar melhor realizando o transporte do material para as cooperativas e na aquisição de equipamentos. Porém, sem o material, não há como reciclar. “O que precisa é cada cidadão ter a consciência de fazer essa separação em sua residência, e o empresário fazer o mesmo em sua empresa. Depois que os recicláveis são misturados com o lixo orgânico, não há mais o que ser feito e tudo vai parar no aterro sanitário”, frisa o presidente da OCB GO, Luis Alberto.

Colaboradores da Cooprec fazendo a reciclagem do lixo l Foto: Cilas Gontijo/Jornal Opção

Para a OCB, com a proximidade do fim do prazo do Marco Legal do Saneamento Básico para a extinção dos lixões, as cooperativas de reciclagem emergem como uma solução sustentável, prática e de menor custo para que os municípios possam destinar corretamente os resíduos. Além disso, essas cooperativas promovem a inclusão econômica de trabalhadores que, muitas vezes, estão à margem do mercado, gerando renda, melhorando as condições de trabalho e, consequentemente, a qualidade de vida. Isso contribui para um ciclo de sustentabilidade mais significativo.

“Temos algumas possibilidades de parcerias com o poder público envolvendo as cooperativas de reciclagem. As prefeituras podem, por exemplo, estabelecer acordos com empresas privadas interessadas em adquirir os materiais recicláveis coletados pelas cooperativas, criando um sistema sustentável de reciclagem. As cooperativas de reciclagem são agentes fundamentais na gestão de resíduos nas cidades”, ressalta Luis Alberto.

Vale destacar que existe diferença entre a reutilização e a reciclagem, de acordo com especialistas. A reutilização é a continuação do uso de um produto, seja na mesma função ou não. Já a reciclagem é a transformação física ou química de um material descartado, com o intuito de se obter uma matéria-prima ou um novo produto.

Os Resíduos Sólidos Urbanos (RSU) podem ser divididos em recicláveis secos, como papéis, plásticos, metais, vidro, entre outros, e resíduos úmidos, como restos de alimentos e podas de árvores. Há ainda os rejeitos, materiais que não podem ser reciclados ou reutilizados, e resíduos tóxicos, que devem ser descartados de forma apropriada de acordo com a legislação específica.

O Jornal Opção ouviu pessoas, cooperativas, empresas e entidades ligadas ao movimento de reciclagem para entender melhor como é feito esse trabalho em Goiás e Goiânia.

Logística reversa

Além da reciclagem do lixo, existe no Brasil a chamada logística reversa, que é o processo de retorno de um resíduo ao fabricante para que ele incorpore esse resíduo no ciclo de vida do seu produto. No Brasil, alguns restolhos são obrigatórios de serem submetidos à logística reversa, como pilhas e baterias, pneus, embalagens de agrotóxicos, lâmpadas fluorescentes e produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

Local destinado para a população deixar produtos eletrônicos l Foto: Cilas Gontijo/Jornal Opção

A logística reversa pode ser realizada pela própria empresa ou em parceria com o setor público. O consumidor precisa entender que, ao possuir um resíduo que exige logística reversa, ele não pode descartá-lo no lixo comum. Ele precisa separar esse material e entregá-lo onde foi comprado ou em um local adequado.

A Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) oferece esse serviço na Central de Logística Reversa localizada no setor Bela Vista e nos Ecopontos espalhados pela cidade. A central funciona todos os dias das 7h às 22h. No entanto, é necessário que o material seja entregue no local, pois a Comurg não realiza o recolhimento.

Os ecopontos são locais disponibilizados pela Prefeitura de Goiânia para que a população possa descartar diversos tipos de resíduos de forma adequada e gratuita em caçambas e baias específicas. O funcionamento é diário, sem a necessidade de agendamento. Em Goiânia, há cinco pontos localizados nos bairros Jardim Guanabara II, Setor Faiçalville, Jardim São José, Residencial Campos Dourados e Parque Eldorado Oeste.

Entre os materiais aceitos nos ecopontos estão bens domésticos estragados, pneus, sobras de construção civil, resíduos de podas de árvores, materiais recicláveis como eletrônicos e até mesmo óleo de cozinha usado.

Funcionário da Comurg faz a checagem dos produtos l Foto: Lorena Lázaro

Lorena Lázaro, assessora de comunicação da Comurg, explica que qualquer pessoa pode levar pilhas, lâmpadas, aparelhos eletrônicos e componentes à central ou aos ecopontos. As cooperativas recolhem esse material e dão a destinação correta, obtendo lucro com o produto.

 Cooperativas

Para a presidente da Cooperativa de Reciclagem (Cooprec), Noélia Maria de Carvalho, o poder público não dá o suporte necessário para as cooperativas, deixando-as dependentes apenas do que é arrecadado com a venda dos materiais. “Precisamos de auxílio do poder público. Sem isso, as cooperativas não sobreviverão. Cada vez chega menos material e eles não nos ajudam. Nosso trator está quebrado há meses e não recebemos assistência. Deveriam, ao menos, fornecer cestas básicas para os associados”, defende.

A Cooprec existe há 27 anos e conta com 22 associados que trabalham em condições insalubres, prejudiciais à saúde dos colaboradores. Noélia destaca que, embora exista uma parceria com a prefeitura, é a cooperativa que oferece a contrapartida. “Estamos tentando fazer com que a prefeitura contrate nosso trabalho. Realizamos o serviço, mas não recebemos por ele, apenas pelo que reciclamos e vendemos. A prefeitura acredita que trazendo parte do material já é suficiente, mas não imaginam como seria sem as cooperativas”, reclama.

Noélia Maria de Carvalho, presidente da Cooprec l Foto: Cilas Gontijo/Jornal Opção

Noélia relata que a separação adequada do lixo pela população facilitaria o trabalho nas cooperativas. “Se todas as pessoas compreendessem a importância da separação adequada, nosso trabalho seria mais fácil. No entanto, o material chega misturado com orgânicos, dificultando nosso trabalho e prejudicando a saúde dos colaboradores”, observa.

Noélia denuncia que os rejeitos e os orgânicos ficam parados, causando insalubridade e mau cheiro devido à demora da prefeitura em recolher o material. Ela menciona que o preço dos materiais recicláveis teve uma queda considerável nos últimos dois anos, resultando em ganhos mensais inferiores a um salário mínimo para cada colaborador. Noélia destaca que chegam aproximadamente 100 toneladas de lixo por mês ao local, trazidas pelo caminhão da cooperativa, parceiros e caminhões de coleta seletiva.

Trator que empurra o material para a esteira está quebrado l Foto: Cilas Gontijo/Jornal Opção

Noélia destaca a importância do trabalho das cooperativas para o meio ambiente e o bem-estar da sociedade. “Infelizmente, essas pessoas são discriminadas pela maioria da sociedade. Sem nosso trabalho, as praças e ruas da cidade não seriam limpas. Nós contribuímos enormemente para o meio ambiente”, conclui.

Desafios e Perspectivas das Cooperativas

A presidente da Cooper Rama, Dulce Vale, detalha que, apesar de as autoridades reconhecerem a importância do trabalho das cooperativas e catadores, na prática, são discriminados por eles e parte da sociedade. “Falam bonito, mas não nos ajudam a continuar nosso trabalho”, diz.

Dulce Vale cita como exemplo a terceirização da coleta em Goiânia, que está em fase de transição para o consórcio LimpaGyn. “Essa decisão é relevante e as cooperativas deveriam ter sido consultadas, mas não fomos sequer contactados. Estamos no escuro, sem saber de quem cobrar ou se vai chegar material para nós. Já estamos há cinco dias sem receber material da coleta seletiva”, lamenta.

Dulce Vale, presidente da Cooper Rama l Foto: Cilas Gontijo/Jornal Opção

Dulce Vale destaca que a cooperativa recolhe materiais em algumas empresas, mas precisa de grande quantidade para garantir um bom ganho aos cooperados. “Precisamos de muito material para reciclar, senão no final do mês não sobra quase nada para dividir”, observa.

Ela enfatiza que a prefeitura deveria ter feito um plano de ação para proteger as cooperativas antes de terceirizar o serviço. “Estamos apreensivos. Sabemos que a LimpaGyn é uma empresa e, se ela decidir fazer a reciclagem, será o fim das cooperativas”, lamenta.

Dulce Vale menciona uma reunião recente entre a prefeitura, LimpaGyn e representantes das cooperativas, onde foi decidido fazer uma força-tarefa para normalizar a coleta dos materiais. No entanto, ela acredita que a transição não será rápida. “Isso pode durar um mês ou dois, e enquanto isso estaremos com baixo material e rateio reduzido. A coleta seletiva deveria ter uma transição separada do orgânico”, defende.

Ela ressalta a falta de compreensão da população em separar o lixo e a falha do poder público em recolher os materiais. “A população precisa nos ajudar, mas quando o caminhão não passa, eles desistem de separar e acabam misturando tudo com o orgânico”, reitera.

A Cooper Rama possui 24 cooperados que sobrevivem do que é produzido na cooperativa. Dulce Vale revela que, após pagar as despesas, os trabalhadores conseguem cerca de R$1.500 por mês. Ela lembra que a maioria dos colaboradores são mulheres, muitas mães solteiras, avós, pessoas de outros estados e ex-presidiários sem oportunidades em outras áreas.

Material para ser reciclado na Cooper Rama l Foto: Cilas Gontijo/Jornal Opção

Mesmo sem reconhecimento de parte da sociedade e do poder público, Dulce Vale considera gratificante o trabalho realizado. “Nos reconhecemos como agentes de transformação ambiental, e isso é gratificante”, afirma.

Pessoas Comuns

Cristiano Borges diz que trabalha com reformas de pneus desde sempre, mas foi há apenas 18 anos que descobriu que poderia fazer muito mais do que simplesmente recapear e reformar pneus. Foi assim que Cristiano se descobriu um artesão de mão cheia, esculpindo verdadeiras obras de arte com pneus que seriam descartados. Cristiano relata que seu ateliê funciona em sua própria casa, no Bairro Independência, em Aparecida de Goiânia.

Cristiano trabalhando em sua oficina l Foto: Arquivo pessoal

Além de aprender uma nova profissão, o artesão ainda contribui para um meio ambiente sustentável e menos poluído, já que usa para suas obras somente pneus que seriam descartados. Entretanto, Cristiano diz que, apesar de já ter bastante tempo atuando como artesão, ainda não dá para viver somente da arte.

Cristiano Borges relata que os pneus chegam para ele através de parcerias e de doações da população. Ele menciona que já participou de algumas feiras: “Faço algumas obras por encomenda, com medidas específicas, e já participei de diversas exposições e feiras específicas. Meus produtos são comercializados até fora do estado de Goiás”, diz.

O artesão destaca a confecção de uma luva de goleiro que foi entregue ao melhor goleiro da Copa do Brasil de 2023. “Um dos meus trabalhos teve reconhecimento nacional quando, na ocasião, a Continental Pneus, patrocinadora da Copa do Brasil daquele ano, me encontrou nas redes sociais e encomendou uma luva feita de borracha de pneu. Foi meu maior desafio até agora”, afirma.

Cristiano frisa que foram três meses de prazo e sete luvas confeccionadas, porém, apenas três passaram no teste, sendo que uma foi a escolhida para ser entregue ao goleiro Rafael, do São Paulo, que foi o melhor goleiro da competição e recebeu o prêmio Goleiro Continental.

Luva feita por Cristiano Borges a pedido da Continental Pneus l Foto: Arquivo pessoal

Cristiano enfatiza que os pneus velhos podem ser usados de inúmeras formas. “Podemos usar a criatividade e produzir brinquedos para parques, bancos para as ruas, vasos para plantas, móveis para a decoração de casa, objetos de jardim, chinelos, bolsas, cintos e até esculturas de animais, entre outros. Por meio da reciclagem, os pneus se transformam em coisas novas e úteis.” Cristiano lembra que o descarte irregular desse produto pode ocasionar muitos problemas para a sociedade em geral.

Veja galeria de fotos dos trabalhos de Cristiano Borges:

Alessandro Bispo, 43 anos, é funcionário da Comurg há 14 anos. Ele conta que descobriu sua aptidão para a arte aos nove anos, na escola. “A professora passava as tarefas e, em vez de fazer o que ela pedia, eu ia desenhar. Aos 16 anos, conheci um rapaz que desenhava muito bem e isso me fez gostar ainda mais da arte. Desde então, não parei mais. Tudo que vejo na rua já imagino uma escultura”, diz.

Alessandro Bispo usa para suas obras somente materiais recicláveis. “Só uso materiais que seriam jogados no aterro sanitário. Sei fazer infinitas coisas que podem ser utilizadas pela sociedade.” O artista expõe que, apesar de ter uma pequena sala cedida pela Comurg dentro do ecoponto, ainda falta incentivo do poder público para que o movimento de reciclagem cresça na cidade.

Alessandro usa somente materiais recicláveis em suas criações l Foto: Arquivo pessoal

“Tenho vários projetos, porém, para que eles saiam do papel, preciso da ajuda do poder público, como levar para as escolas, creches, clínicas de dependentes químicos, eventos e praças públicas. Tenho vontade de ensinar o que sei para aqueles que já têm uma predisposição para a arte. Assim, essas pessoas ajudariam o meio ambiente e teriam uma renda extra”, destaca.

Alessandro Bispo ressalta que, além de confeccionar artesanato usando materiais recicláveis, ele possui um ateliê em sua casa, no Setor Rio Formoso, em Goiânia, onde realiza pinturas realistas em telas.

Veja algumas invenções do artista:

Anadir Cezaria de Oliveira, 60 anos, é colaboradora da Comurg há 41 anos e coordenadora, entre outros, do Projeto Mulheres Transformam Lixo em Lucro. Ela relata que o projeto iniciou em 2008 com a intenção de colaborar com o meio ambiente. “Temos um grupo com mais de 300 pessoas, desde ambientalistas até catadoras e garis, que se preocupam com a questão do meio ambiente e a sustentabilidade ambiental”, lembra.

Anadir coordena o Programa Mulheres Transformam Lixo em Lucro l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Anadir enfatiza que, para além da preocupação com um meio ambiente limpo, a atividade gera lucro para os participantes. “São mulheres e homens que, através do projeto, se descobriram como excelentes artesãos. Tudo que eles usam para fabricar alguma coisa vem do lixo que seria levado para o aterro sanitário”, comunica. Ela reforça que a atuação da sociedade fazendo a separação adequada do lixo facilitaria muito o trabalho dos catadores. “Na rua pode não passar o caminhão da coleta, mas com certeza passará um catador que levanta cedo para fazer a coleta, portanto, é importante essa conscientização da sociedade”, diz.

Anadir ressalta que o lixo não é um problema apenas do poder público, mas de toda a sociedade. “O lixo é uma responsabilidade social de todos e mais ainda de quem o produz. Cada pessoa pode contribuir nesse processo de forma positiva e separando os recicláveis dos orgânicos é o meio mais eficiente de ajudar”, finaliza.

Rita de Cássia Araújo, 52 anos, é colaboradora da Comurg há 30 anos e faz parte do projeto. Rita revela que, há aproximadamente dez anos, descobriu suas habilidades para o artesanato com recicláveis. “É prazeroso fazer esse trabalho e ainda ganhar um dinheiro a mais”, agradece.

Reciclagem de Pneus

Sebastião Moreira é dono da Pneus Moreira, uma empresa que trabalha com reciclagem de pneus há 38 anos e está localizada no município de Abadia de Goiás. A empresa atua na recapagem, recuperação, reciclagem e venda de detritos para empresas que fabricam cimento.

Sebastião Moreira recicla pneus l Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Sebastião conta que recolhe os pneus em usinas, mineradoras, além dos que são levados pela população ao local. Ele diz que a maioria dos pneus são recolhidos a custo zero pela empresa. “Ao chegar aqui na empresa, classificamos os que podem ser reutilizados, e os que não podem, nós trituramos e enviamos para a indústria de cimento.”

Sebastião Moreira destaca que os pneus reciclados e recuperados são comercializados na própria empresa e em todo o território nacional. São pneus para automóveis, tratores, caminhões, maquinários, entre outros. Ele conta que, da quantidade de aproximadamente 2 mil pneus que chegam por mês, praticamente 90% são triturados.

Sebastião Moreira ressalta que sua empresa tem uma relevante contribuição para a sociedade e o meio ambiente. “Um pneu descartado de forma inadequada se torna um problema para todos e para a saúde pública.” Sebastião, contudo, enfatiza que essa é uma área que carece de mais incentivos, já que prestam um serviço de utilidade pública. “Visamos lucro como toda empresa, mas, além disso, nosso ramo de atuação contribui para a sustentabilidade. Já pensou se não fossem empresas como a nossa?”, questiona.

Pneus triturados l Foto: Arquivo

Votorantim Cimentos

A Votorantim Cimentos, pertencente ao grupo Votorantim, possui uma unidade no município de Edealina, Goiás, e esclarece a diferença entre reciclagem e coprocessamento: na reciclagem, o pneu continua no ambiente de alguma forma, enquanto no coprocessamento ocorre a eliminação completa, evitando que esse material inservível vá para aterros sanitários ou seja descartado indevidamente.

Fábrica de Edealina, Goiás l Foto: Votorantim Cimentos/Divulgação

A gerente comercial da Verdera na Região Centro-Norte, Bárbara Silveira, enviou uma nota ao Jornal Opção explicando como é feito todo o trabalho. Veja na íntegra;

Desde 1991, a Votorantim Cimentos é pioneira no uso de coprocessamento no Brasil. O pneu foi o primeiro tipo de resíduo utilizado no coprocessamento no Brasil. De lá até hoje, a empresa passou a utilizar outros resíduos no coprocessamento e, atualmente, possui a Verdera, unidade de gestão e destinação sustentável de resíduos da Votorantim Cimentos, responsável por desenvolver novas fontes de resíduos. Atualmente, 15 fábricas da Votorantim Cimentos realizam o coprocessamento no país, entre as quais está a fábrica de cimento de Edealina (GO). Desde sua inauguração em 2015, a fábrica de Edealina transforma pneus, biomassas do agronegócio e resíduos de diversas indústrias em fonte de energia para seu processo produtivo, substituindo o coque de petróleo e reduzindo as emissões de CO2.”

Por meio dessa tecnologia limpa, os pneus são completamente destruídos nos fornos da indústria cimenteira, sem restar qualquer passivo ambiental devido às altas temperaturas inerentes ao processo de fabricação do cimento. Ao serem transformados em energia, os pneus são destinados de forma sustentável, deixando de ir para os aterros sanitários, onde entrariam em um processo de decomposição que levaria anos e geraria gases nocivos ao planeta.

No Brasil, a Resolução nº 416/2009 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) estabelece a destinação ambientalmente adequada de pneus para fabricantes, distribuidores e importadores de pneus. O tema também foi regulado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), com a publicação da Instrução Normativa Ibama n° 1, de 18 de março de 2010, que define os procedimentos necessários ao cumprimento da Resolução Conama nº 416. Já o coprocessamento é regulamentado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama 499/2020) e está incorporado à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).

Com a Verdera, em 2023, mais de 1 milhão de toneladas de resíduos ganharam um novo uso como combustível e matéria-prima alternativa em nossos fornos de cimento no Brasil e na América do Norte. Este volume equivale a 1,2 mil piscinas olímpicas com resíduos que deixaram de ir para aterros.

Com o coprocessamento, a Votorantim Cimentos avança na redução das emissões de CO2 em suas unidades, fortalecendo suas estratégias de descarbonização e o cumprimento das metas estabelecidas em seus Compromissos de Sustentabilidade para 2030. A tecnologia também auxilia empresas e indústrias a reduzirem seus passivos ambientais, oferecendo uma solução segura e sustentável para a destinação final de seus resíduos.

O pneu, por exemplo, ao ser descartado na natureza causa impactos de longo prazo, uma vez que ocupa grandes espaços e demora séculos para se biodegradar, levando até 600 anos para ser eliminado do ambiente. Em contrapartida, o pneu destinado ao coprocessamento contribui para reduzir o consumo de recursos naturais e, consequentemente, ajuda a conservar o meio ambiente, pois diminui os riscos de contaminação dos solos e da água. Além disso, o coprocessamento de pneus pode somar esforços no combate à dengue, além de fortalecer a economia circular ao incentivar a transformação e o reuso dos materiais.

Os pneus coprocessados na fábrica de Edealina são oriundos das cidades localizadas em um raio de até 400 quilômetros da unidade, abrangendo locais no estado de Goiás e no Distrito Federal. A coleta é realizada por empresas parceiras em ecopontos pré-definidos pelos municípios.

Ipiranga Reciclagem de Metais LTDA

A Ipiranga Reciclagem atua há 34 anos em todo o estado de Goiás, na recuperação e comercialização de sucatas metálicas ferrosas e não ferrosas, como aço, ferro, alumínio, zamack, cobre, inox, entre outros. O diretor geral da empresa, Carlos Parreira, informou à reportagem que todo o material é adquirido de cooperativas, de pequenos depósitos e empresas que geram resíduos.

Sede da Ipiranga reciclagem l Foto: Arquivo pessoal

Carlos Parreira destacou que os preços pagos às cooperativas variam de R$ 0,55/kg a R$ 40,00/kg, dependendo do tipo e das características do material. Ele mencionou ainda que compra cerca de três mil toneladas por mês e, após a compra, os produtos são destinados às fundições e usinas siderúrgicas.

“Não somos o consumidor final do produto, mas o preparamos para ser derretido e transformado pelas siderúrgicas”, disse.

Programa Novo Cataforte do governo federal

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou na quarta-feira, 10, a retomada do Programa Cataforte, com recursos de R$ 103,6 milhões por meio de editais, priorizando as redes lideradas por mulheres. O programa visa fortalecer cooperativas e associações de catadores de recicláveis, promovendo sua inserção socioeconômica e agregando valor à cadeia de resíduos sólidos.

Na ocasião, Lula enfatizou: “É preciso que a sociedade brasileira deixe de ver vocês [catadores de recicláveis] nas ruas apenas como catadores de papel e material reciclável ou puxadores de carroças. É importante que a sociedade os veja e respeite como cidadãos brasileiros que estão realizando um serviço tão ou mais importante do que muitos outros. Muitas vezes, vocês estão recolhendo a sujeira que eles jogaram na rua, limpando algo que eles deveriam limpar. Isso vale mais do que a quantidade de dinheiro anunciada aqui.”

Governo federal lança o Programa Cataforte l Foto: Divulgação

A retomada do Programa Cataforte terá um aporte de R$ 103,6 milhões, com o objetivo de fortalecer e estruturar cooperativas e associações de catadores de recicláveis, ampliando a participação dessas organizações na coleta seletiva e logística reversa. A iniciativa envolve bancos públicos, fundações, ministérios e estatais. Podem concorrer aos recursos projetos de todas as regiões do país, com editais que darão prioridade, por meio de pontuação, às redes lideradas por mulheres.

Leia também:

Semad amplia prazo para empresas comprovarem cumprimento de meta de reciclagem

Imagine se todo nosso lixo retornasse de uma vez para nossa casa

Goiás regulamenta metas obrigatórias para reciclagem nas indústrias