Reaproveitamento do lixo pode e deve ser feito
16 dezembro 2017 às 18h47

COMPARTILHAR
Há muitos produtos reciclados que auxiliam na construção de casas e contribuem para decorá-las

Todos os dias estamos jogando algo no lixo. Conforme aponta o documentário “Trashed — Para Onde Vai Nosso Lixo”, são “jogadas fora”, anualmente, 200 bilhões de garrafas plásticas, 58 bilhões de copos descartáveis e mais outros bilhões de sacolas.
No ambiente de trabalho e nas instituições de ensino, sempre há uma latinha por perto. Em casa, os cestos costumam ser encontrados nos banheiros e na cozinha. Na rua, as cidades estão, em geral, repletas de lugares adequados para depositar o que, aparentemente, não será mais utilizado, mas ainda é possível ver muita gente jogando lixo “fora”.
Algumas questões precisam ser esclarecidas. Primeiro, não existe “jogar fora”. Vivemos em um único planeta e o que é considerado lixo continuará dentro — e não fora — deste mesmo planeta. Segundo, é preciso ter a consciência de que nem tudo é descartável e muitas coisas podem, sim, ser devidamente recicladas.
O primeiro passo deve ser dado dentro das residências, separando o que é orgânico daquilo que pode ser reciclado. Para isso, a educação ambiental tem de ser acessível a todos. O segundo passo fica por conta da coleta de lixo, seja ela feita pelo poder público ou de pessoas e instituições privadas que enxergam, neste tipo de negócio, uma alternativa de renda.
Com o objetivo de dar opção de descarte ambientalmente correto aos resíduos, gerando emprego e renda a catadores cadastrados nas cooperativas conveniadas, a Prefeitura de Goiânia criou, em 2008, o Programa Goiânia Coleta Seletiva (PGCS) com coleta porta a porta em alguns bairros da capital, além de 120 Pontos de Entrega Voluntária (PEVs). Em 2011, o PGCS foi ampliado para 100% dos bairros de Goiânia, passando diariamente em locais de grande produção, como Centro e Campinas, ou semanalmente nos bairros com menor produção.
Presidente da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), Denes Pereira aponta três segmentos que evidenciam a importância da coleta seletiva. “Ambiental pelo menor impacto dos resíduos lançados na natureza. Social pela geração de emprego e renda a várias famílias de catadores. Econômico pelo aumento da vida útil do aterro, menores gastos com novos produtos, além de vários ganhos indiretos.”
O PGCS deu início, recentemente, a um trabalho de educação ambiental com fiscais passando nas residências com questionários a fim de dar dicas para a coleta e melhorar a separação buscando diminuir a quantidade de materiais recicláveis que acabam parando em aterros sanitários. Por enquanto, os bairros contemplados são Jardim Nova Esperança, Cândida de Moraes, Vila Novo Horizonte e Conjunto Cachoeira Dourada, mas a ideia é expandir, em breve, para outros setores da cidade.
Na quinta-feira, 14, o Jornal Opção acompanhou o trabalho do caminhão da coleta seletiva durante percurso pelo Setor Marista. Ficam a bordo, além do motorista, um supervisor da Comurg e dois catadores, responsáveis por pegar materiais como papelão, garrafas PET, alumínio e vidro, cuja quantidade, no final do ano, tende a aumentar devido ao crescimento do consumo.
Há muitos sacos de lixo nas portas das casas e restaurantes da região, mas nem todos podem ser aproveitados pelo PGCS, como aqueles que contêm orgânicos, por exemplo. Com o tato apurado, os catadores sabem os sacos que têm alimento somente pelo peso. Outro aspecto interessante que foi observado pela reportagem é o fato de moradores saírem de suas casas para entregar o lixo ao ouvirem o típico apito do caminhão.
Ao todo, são 16 caminhões que levam o lixo para as 16 cooperativas cadastradas. Lá, é feito o trabalho de triagem e, posteriormente, os materiais são vendidos para as distribuidoras chamadas atravessadoras, que, por sua vez, revendem para empresas de outros Estados, como São Paulo e Paraná, onde são feitos os mais variados produtos reciclados.

Em Goiás, a Jaepel, empresa que desenvolve e produz embalagens de papelão ondulado de forma sustentável, conta com um parque industrial que possui duas indústrias integradas: a de papel, que produz bobinas de papéis, e a de embalagem, que fabrica as embalagens e chapas de papelão ondulado. Localizada em Senador Canedo, a Jaepel tem mais de 6 mil toneladas de produtos reciclados por mês.
A Pictoresco Sustentável, de Goiânia, transforma resíduos descartados nas vias públicas em arte com design sustentável, utilizando pallets de madeira desperdiçados em obras para fazer móveis, como bancos e estantes. Demais resíduos urbanos oriundos de construções podem servir para erguer casas usando tijolos ecológicos, que podem ser fabricados também a partir de pneus. O projeto João de Barro já construiu residências, em Corumbá, usando esse tipo de tijolo.

Cinco Rs
Durante participação no programa “Pânico no Rádio”, da rádio Jovem Pan, na quinta-feira, 7, a ativista ambiental Fe Cortez foi categórica ao afirmar que “reciclar não é a saída”. Ela considera que reciclar é, sim, importante, mas chama a atenção para o fato de que a reciclagem não é uma política 100% limpa por gastar energia e água, além de emitir dióxido de carbono — a não ser nos casos de vidro e alumínio que são infinitamente recicláveis.
Para a ativista, corre-se o risco de a população usar copos plásticos desenfreadamente pensando que todo este material será reciclado e, portanto, não causará danos ao meio ambiente. No entendimento de Fe Cortez, antes de reciclar, a principal medida a ser adotada é reduzir o consumo.
É mais ou menos nesse sentido que atua a Gerência de Políticas, Resíduos Sólidos e Drenagem, da Secretaria de Meio Ambiente, Recursos Hídricos, Infraestrutura, Cidades e Assuntos Metropolitanos (Secima), que trabalha com os cinco Rs: Reduzir, Reutilizar, Reciclar, Repensar e Recusar.
Reduzir diz respeito a mudanças no projeto, fabricação, compra ou uso de materiais e produtos de modo a diminuir a sua quantidade ou periculosidade antes de se tornarem resíduos sólidos. Reutilizar significa o emprego direto de um resíduo com a mesma finalidade para qual foi concebido sem a necessidade de tratamento que altere suas características físicas.
Já reciclar está relacionado à transformação de materiais, por meio da alteração de suas características físico-químicas, em novos produtos. Repensar é analisar a necessidade da compra de determinado produto — caso realmente seja, o ideal é, após o consumo, praticar a coleta seletiva e jogar no lixo apenas o que não for reutilizável ou reciclável, evitando, assim, o desperdício. Por fim, recusar é comprar apenas produtos que não agridem o meio ambiente e a saúde, atentando-se às empresas que têm compromissos com a ecologia.
Ademais, a referida gerência é responsável por elaborar metas e políticas públicas, como o Plano Estadual de Resíduos Sólidos, que servem como uma espécie de recomendação para os municípios, que têm a competência exigida para colocá-las em prática.