Especialistas em campanha eleitoral dão prognóstico sobre o que seria o custo ideal para se vencer o pleito ao Executivo estadual. Há quem defenda que o importante não é o quanto se gasta, mas sim a eficiência no convencimento do eleitor

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Eleições 2014

FredericoVitor

Quanto cada um dos sete candidatos ao governo estadual deve gastar para conseguir a vitória nas urnas? Qual receita os especialistas em marketing eleitoral projetam ser necessária para se obter resultado positivo nas eleições majoritárias ao Executivo goiano? O cálculo não é simples e vários fatores são determinantes para o saldo final. Mas não é segredo para ninguém que, quanto menor for a estrutura de cada postulante, muito mais reduzida serão as chances de assumir o cargo de governador no primeiro dia de janeiro de 2015.

De acordo com informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na média, somadas as declarações dos candidatos para a campanha, cada eleitor brasileiro custará 17 reais. Goiás terá a décima média mais dispendiosa do Brasil, e cada voto goiano sairá por 28 reais para os candidatos. O limite de despesas dos candidatos goianos ao governo ficou em R$ 128 milhões. O Estado terá a oitava eleição mais cara. A mais dispendiosa será a eleição paulista (R$ 324 milhões), seguida pela do Rio de Janeiro (R$ 185 milhões) e de Alagoas (R$ 143,1 milhões).

Mas o que pode explicar uma eleição tão cara em Goiás, um Estado que concentra pouco mais do que 3% do eleitorado total do País e soma 4.331.733 eleitores aptos ao voto? Territorialmente vasto e dividido por 246 municípios localizados em microrregiões com particularidades sociais e econômicas diferentes, o eleitorado goiano é considerado pulverizado por conta da baixa densidade demográfica verificada no Estado. Tal característica amplia a necessidade de viagens e, por consequência, mais gastos para que o candidato chegue ao maior número de eleitores.

Coordenadores de campanha mais experientes dizem que há localidade de Goiás, em especial comunidades e assentamentos rurais isolados e longe de urbanidades, em que não chegam rádio ou televisão. Portanto, para se fazer a campanha eleitoral com mais presença e com alcance ampliado é necessário gastar com aluguel ou aquisição de veículos e aeronaves. Numa campanha que se anuncia acirrada, quanto mais corpo a corpo e apertos de mãos, maiores são as chances de capitalizar votos que podem fazer a diferença no dia 5 de outubro.

Nestas eleições, os sete candidatos a governador declararam como limite de gastos R$ 121,4 milhões. Iris Rezende (PMDB), com R$ 35 milhões, terá a campanha mais cara, seguido pelo go­vernador Marconi Perillo (PSDB) com R$ 26 milhões. O empresário e ex-prefeito de Senador Canedo, Vanderlan Car­doso (PSB), estima gastar R$ 25 milhões. O ex-prefeito de Anápolis Antônio Gomide (PT) deverá desembolsar R$ 20 milhões. Alexandre Magalhães (PSDC) poderá gastar até R$ 15 milhões. As duas campanhas que se anunciam menos dispendiosas são a de Marta Jane (PCB) e Wes­ley Garcia (PSol), R$ 200 mil cada.

Aumentam os gastos

Se comparados ao pleito de 2010, os gastos de campanha deste ano são ligeiramente maiores. Naquela eleição, Marconi tinha uma receita de R$ 29,4 milhões e declarou despesas de 29,3 milhões, terminando a disputa com saldo positivo. Iris teve receita de R$ 10 milhões e terminou o pleito com despesa de R$ 11 milhões. Vanderlan Cardoso foi o candidato que saiu com a maior dívida na campanha, já que sua receita foi de R$ 3 milhões e terminou a corrida eleitoral gastando R$ 6,6 milhões. O candidato Washington Fraga (PSol) declarou o mesmo valor de receitas e despesas, R$ 24 mil.

De acordo com a Legislação e­lei­toral é considerado gasto de campanha a ser declarada à Justiça, a confecção de material impresso de qualquer natureza e tamanho, propaganda e publicidade direta ou indireta, por qualquer meio de divulgação. Aluguel de locais para promoção de atos de campanha e­leitoral, despesas com transporte ou deslocamento de candidato e de pessoal a serviço das candidaturas, cor­respondências e despesas postais, instalação, organização e func­ionamento de comitês e demais serviços devem ser contabilizadas e in­for­madas ao Tribunal Regional Elei­toral (TRE) como gastos eleitorais.

Também entra nesta lista a remuneração ou gratificação de qualquer espécie paga a quem presta serviços às candidaturas, aos comitês eleitorais ou aos partidos políticos. A montagem e operação de carros de som, de propaganda e de assemelhados, além de realização de comícios ou eventos destinados à promoção de candidatura. Produção de jingles, vinhetas, slogans, programas de rádio, televisão ou vídeo destinados à propaganda gratuita são itens que mais geram gastos. A realização de pesquisa ou testes pré-eleitorais, criação e inclusão de páginas na internet, doações para outros partidos políticos, comitês financeiros e candidatos também entram na contabilidade do TSE.

Publicitário diz que R$ 30 milhões é o teto para campanha vitoriosa

O publicitário Léo Pereira afirma que uma campanha ao governo pode custar de R$ 3 milhões a R$ 30 milhões, dependendo do volume de comunicação. Campanhas com programa de TV com duração de 7 a 12 minutos, feita por uma boa equipe de profissionais de marketing, com produtora de vídeo e áudio, incluindo performance de rua, mais impressão gráfica e demais serviço não custam mais do que R$ 30 milhões. Para ele um investimento mínimo, com uma comunicação razoável, por mais que as equipes estejam reduzidas, envolveria o piso de R$ 3 milhões com despesas.

Léo Pereira lembra que muitos candidatos dependem da capacidade de captação de recursos, sendo que neste ano, tal situação fica mais evidenciada no caso de Iris. “Acredito que Iris e Marconi são os maiores captadores, do mesmo modo que os maiores captadores à corrida presidencial são Dilma Rousseff e Aécio Neves”, diz. Contudo, o publicitário lembra que o momento político é adverso e prevê uma briga interessante, independentemente do poderio econômico e de estrutura de campanha de cada candidato.

Ele lembra que fazer campanha vitoriosa hoje, depende mais do posicionamento filosófico preciso e bem alinhado com o eleitor, do que de estrutura suntuosa e abundância de recursos. Para Léo Pereira o que define de fato o pleito é a precisão e a capacidade pedagógica dos comunicadores da campanha em convencer o eleitor de que o projeto político proposto é o melhor para ocupar o poder. “Claro que para quem tem menos recursos a situação é mais complicada.”

Custos sem tetos

O publicitário Hamilton Car­neiro, que atualmente está trabalhando na campanha de um candidato ao governo do Distrito Federal, afirma que o mais importante numa campanha é ter uma boa reserva financeira para ser empregada em momentos em que o candidato necessita ganhar musculatura política para ter vantagem sobre os adversários. “Uma campanha precisa ter incrementos”, diz.

Ele lembra que Goiás é um Estado territorialmente grande, e que os programas de rádio e TV precisam ser decisivos na campanha. A distribuição de material impresso também é outro desafio, pois não é fácil fazê-la em todas as regiões goianas, significando mais despesas. “Quando se fala em programa de televisão, que é a parte mais cara da campanha, deve-se levar em consideração que a referência é a forma exuberante da qualidade que a TV brasileira produz hoje. É preciso ter bons profissionais para ter qualidade e um resultado satisfatório no final da corrida eleitoral.”

Hamilton Carneiro ressalta que campanha endinheirada não é sinônimo de vitória. Segundo ele, o humor do eleitorado não é dependente de propaganda, pois a maioria dos eleitores tem visão clara de em quem vai votar, independentemente se será ou não abordada pela propaganda do adversário. “Ter boa argumentação de convencimento é importante, mas é complicado quebrar a barreira do eleitor do voto cativo. Hoje não se tem muito o voto ideológico, há muito o voto por conveniência.”

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Reprodução

O que vale mais não é o quanto se gasta, mas a eficiência do gasto

O fundador do instituto Grupom, Mario Rodrigues Filho, diz que o que vale mais não é o quanto se gasta, mas sim a eficiência. Pode acontecer de um candidato gastar muito dinheiro, com muito mais caixa que os adversários, mas no fim ser derrotado nas urnas. Segundo Mário Rodrigues, quanto menos o candidato gastar e mais votos ele obtiver, mais eficiente terá sido sua campanha.

Ele explica o cálculo feito para se medir a eficiência de uma campanha: divide-se a receita do candidato por cada um dos 4 milhões de eleitores goianos. O candidato Iris Rezende, por exemplo, declarou que a estimativa de gasto para o pleito de 2014 é de R$ 35 milhões. Portanto dividindo sua receita por 4 milhões de votantes, o líder peemedebista deverá gastar uma média de R$ 8,75 por eleitor para obter a vitória no dia 5 de outubro.

Seguindo o mesmo raciocínio, cada voto para a reeleição de Marconi poderá sair por R$ 6,50. Vanderlan Cardoso vai gastar R$ 6,25 por eleitor e Antônio Gomide vai desembolsar R$ 5,00. Alexandre Magalhães poderá gastar R$ 3,50 por voto. Marta Jane e Wesley Garcia terão que gastar, respectivamente, 0,50 para convencer cada eleitor goiano. No final, para se medir o quanto custou uma campanha vitoriosa em Goiás, é necessário dividir o que o candidato vencedor declarar ter gastado pelo número de votos obtidos.