Parceria entre Sebrae-GO e Seduc beneficia alunos e professores com o Programa Jovens Empreendedores Primeiros Passos

“O Sebrae, na escola, nos traz uma ideia de como ensinar os nossos alunos, as nossas crianças, desde cedo, a planejar o que querem executar. E não há momento melhor e mais propício que o da sala de aula” explica a professora de matemática e ensino religio | Fotos: Divulgação/Sebrae
“O Sebrae, na escola, nos traz uma ideia de como ensinar os nossos alunos, as nossas crianças, desde cedo, a planejar o que querem executar. E não há momento melhor e mais propício que o da sala de aula” explica a professora de matemática e ensino religio | Fotos: Divulgação/Sebrae

Yago Rodrigues Alvim

Na Rua Joaquim Teó­filo Viana, uma folha de papel A4 avisava que não haveria aula. Por falta de água, a manhã daquela quarta-feira não teria um pequeno sequer em sala de aula. Isso, se não fosse Thallys. Lá, guardou a mochila e sobrinha alaranjada de sua irmã, que pegara emprestada por conta da chuva. Eram poucos pingos e ainda assim pedia agasalhos. Aquecida em cor de creme, veio Iris Barreto atender a mim e a Fernando Leite, que fotografaria o pequeno. Fora ela que nos levou até uma sala, em qual mesa pequenina, sentamo-nos à, apenas eu e Thallys. Por conta da chuva, a escola estava demasiado vazia para guardar em fotos a alegria e sapiência daquela conversa.

Dez anos, ao menos por en­quanto. Neste abril, o pequeno sopra velas e ganha mais um desejo. Ditou-me T, H, LL, Y, o que especificava seu nome: Thallys Henrique de Melo Cruz. No ano passado, cursava o quinto ano do ensino fundamental. Tinha classes de Português com a professora Tânia; Ciências, Geografia e História, com Luzia; e Matemática e Ensino Religioso, com a professora Shirley. Tão pequeno, ele discursou sobre o que aprendeu no ano passado: “Começamos a estudar sobre os jovens empreendedores e ver como se monta um negócio. Além disso, também há outros benefícios, como ajudar na formação do aluno, para que ele possa aprender a trabalhar em grupo, na sociedade.” Thallys disse quase como se não fosse aluno e que “é bom” trabalhar em grupo.

As aulas de empreendedorismo eram a curiosidade daquela conversa. Queria perguntar-lhe o que mudou e contribuiu em sua vida, vista tão carinhosa ou inocentemente por ele mesmo. Ainda não entendo a beleza da ingenuidade. No entanto, Thallys tinha fortíssimos argumentos sobre a esperança no futuro: sabia da necessidade de se preparar para esse “amanhã”. O pequeno está em dúvida entre ser arqueólogo ou engenheiro.

No segundo semestre de 2013, Thallys aprendeu o que é um empreendedor. “Todo mundo tem um sonho. Todo mundo quer realizá-lo e, para isso, é bom estudar. Empreendedor é quem busca seus sonhos”, disse. Nas tardes de quinta-feira, ele e sua turma aprendiam sobre como alcançar esses sonhos. A classe é fruto de uma parceria entre três nomes: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-GO), Secretaria de Estado da Educação (Seduc – GO) e, neste texto, a escola Lousinha Carvalho.

O colégio em que Thallys estuda é de tempo integral. A camiseta, assim como os muros da escola, tem o símbolo do antigo nome. Neste ano, o Colégio Estadual Crimeia Oeste fora renomeado, por um processo do deputado estadual Fran­cisco Júnior (PSD), “Lousinha Carvalho”.

Ainda naquela manhã, uma conversa com Elaine Moura. Gerente de Ino­vação e Competitividade do Sebrae, ela explicou sobre o cuidado da organização com a educação empreendedora. Por esse cuidado, o Sebrae tem uma relação afinada com a Seduc para que funcione o Programa Jovens Empreen­de­do­res Primeiros Passos, o JEPP.

As aulas de quinta ensinaram a Thallys como se socializar — trabalhar em grupo — se preparar para o futuro, além das lições sobre negócios. No 5º ano, ele e sua turma vendiam produtos alimentícios. A cartilha do 5º ano tem o nome “Sabores e Cores”. Os pequenos venderam cachorros-quentes e o “sucão”. No preparo, as professoras. Na propaganda, Thallys Henrique.

Entusiasmado, disse sorrindo o dilema: “hoje, no 5º ano, teremos o ‘sucão’ a 50 centavos e o cachorro-quente a R$ 1,50. Os dois, R$ 2,00. E se você quiser qualidade, compre na nossa loja!”. Representante do Sebrae do 5º ano, Thallys, ainda visitava as salas, ao lado dos amigos André, Mateus e Gustavo; afinal, no “Delícias do Dia, qualidade e preço bom, você só encontra aqui!”.

Preparo

A professora de Matemática e Ensino Religioso, Shirley Cabral Santos Rocha, há 14 anos ministra aulas. Neste ano, ela coordenará a escola Lousinha Carvalho. Antes, ela ministrava as aulas sobre empreendedorismo nas salas de 5º ano. Shirley disse que, primeiramente, o Sebrae ministrou um curso para todos os professores de 1º a 5º ano, do ensino fundamental. Do 6º ao 9º ano também foi trabalhado o projeto. “Houve uma palestra sobre o programa para nos orientar como trabalhar em sala de aula. Nós, professores, recebemos [um curso de] qualificação e todo material para trabalharmos, em sala de aula, com os alunos”, explicou.

A capacitação dos professores é um ponto importante destacado, também, por Elaine. O JEPP qualifica os profissionais de ensino. Elaine ressalvou que não é algo estanque, como um curso feito uma vez no ano e apenas isso. Nesse ponto, se desenrola a supervisão do programa, pois, fora dividido em três grandes regiões que ganham o acompanhamento dos “supervisores do JEPP” e, assim, dão respaldo aos diretores nas escolas em que o programa foi implementado.

Superintendente de Ensino Fundamental da Seduc, Viviane Pereira da Silva Melo, detalhou que as capacitações estão relacionadas às turmas de atuação dos professores. “São organizadas em anos iniciais, de 24 horas, e anos finais, de 28 horas de formação. Essas formações são ministradas por consultores do Sebrae e com o acompanhamento das Subsecretarias Regionais de Educação”, disse Viviane.

Viviane Melo: objetivo é capacitar professores para desenvolver com seus estudantes a consciência empreendedora
Viviane Melo: objetivo é capacitar professores para desenvolver com seus estudantes a consciência empreendedora

As escolas contribuem com esses cursos: salas foram disponibilizadas, bem como houve uma maleabilidade com os horários dos professores para que pudessem participar das palestras. “Eu percebo o curso como algo de grande importância”, constatou Shirley, e continuou: “O que é o Sebrae? Se olharmos apenas assim ‘ah, o Sebrae é para empreendedores, para pessoas que já tem um negócio’, não! O Sebrae, na escola, nos traz uma ideia de como ensinar os nossos alunos, as nossas crianças, desde cedo, a planejar o que querem executar. E não há momento melhor e mais propício que o da sala de aula. Pois é ali que você lida com a criança, com o aluno, todos os dias, e começa a ensiná-lo a ter, desde cedo, um planejamento. Até porque o Sebrae traz uma proposta bem clara sobre o que ele é e o que é o planejamento”.

No proveito da palavra, vale esclarecer que as aulas são planejadas pelos professores, mesmo que com orientações. O livro do professor possui um manual detalhado para o desenvolvimento das atividades e, aliado com a capacitação, permite a execução do projeto com qualidade. Viviane lembra que os professores abordam os temas do empreendedorismo em sintonia com o Currículo de Referência da Rede Estadual, o que amplia o conhecimento. “A parceria do Sebrae é imprescindível, pois vai além da capacitação inicial, com visitas, duas vezes por ano, as escolas e assessoria aos professores”, acrescentou.

A professora Shirley comemora. Para ela, o projeto, desenvolvido a partir do programa no último ano, “foi muito prazeroso, pois os alunos se envolveram”. Em 2012, a educadora trabalhou com a proposta de uma locadora. Eram locações de DVDs, livros e material didático utilizado pelos alunos. No ano passado, ao lado das professoras Tânia Régia Batista Rodrigues e Luzia Maria de Lima, Shirley desenvolveu o projeto com produtos alimentícios. “A proposta foi tão boa e prazerosa que montamos uma banca, na escola, onde os alunos produziam alimentos — com todo respaldo e auxílio dos professores — e eles mesmos tinham o controle”, felicita.

A professora explica que o planejamento se encontra com o que o Sebrae orienta: “Tinha um caixa, um vendedor, um colaborador… Como se fosse, realmente, um negócio.” Foi aí que o pequeno Thallys propôs o dilema do “Delícias do Dia”. “Eles fizeram um trabalho maravilhoso, que também foi apresentado a todo comunidade escolar”, sublinhou Shirley, dizendo que houve até cobertura da mídia.

A escola recebe um cronograma, discutido e decidido em reunião (interlocução) entre a Seduc e o Sebrae, de aulas que são semanais ou quinzenais. Shirley conta que deve constar, no planejamento diário, as atividades do JEPP. “Todas as segundas-feiras, nós professores nos reunimos e planejamos as aulas. São planejamentos por turmas. Há parcerias. É uma escola de tempo integral e também há horário definido para essas atividades”, afirmou.

Cuidado com a educação

O programa que começa na capacitação de professores como Shirley, que ministram aulas para estudantes como Thallys, tem início no cuidado, já destacado, do Sebrae com a educação. O presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae, Marcelo Baiocchi, diz que “o programa de educação empreendedora para os alunos do ensino fundamental é uma diretriz do Conselho Deliberativo Esta­dual e que tem o propósito de apresentar o empreendedorismo ao aluno dentro da sala de aula e fazer com que ele se interesse pelo assunto de forma prática. Por isso, as oficinas e a metodologia são tão interessantes e particulares, pois foram desenvolvidas por especialistas”.

Para Marcelo Baiocchi, cultura empreendedora começa na base escolar e este programa responde a esta premissa
Para Marcelo Baiocchi, cultura empreendedora começa na base escolar e este programa responde a esta premissa

O programa é efetivado por meio de uma linguagem adequada, bem como da qualificação dos educadores, quanto com o ensino proporcionado aos alunos. São oficinas lúdicas, temáticas divididas em nove cartilhas, como a “Cores e Sabores” do 5º ano, que se espalharam em quase todas as regionais do estado de Goiás. Atualmente, apenas Águas Lindas, Planaltina e Novo Gama não têm a implementação do programa, devido serem municípios cujo ensino em tempo integral não é realidade.

Cartilhas são específicas para cada ano do ensino fundamental e trazem diferentes temáticas e conteúdos sobre empreender
Cartilhas são específicas para cada ano do ensino fundamental e trazem diferentes temáticas e conteúdos sobre empreender

Elaine Moura mostra que a opção pelo ensino integral faz parte da estratégia de integração e ampliação estruturada que vai, gradativamente, alcançando todas as escolas de tempo integral. Ela ressalva que “primeiro, as escolas de tempo integral e depois ir integrando as escolas de tempo não integral”. A estratégia é de ampliação em todo o estado.

Sobre a escola integral, Thallys contou, tão perspicaz, que além de fornecer os mesmos estudos, há aulas de reforço que os ajudam nas provas, sem contar no “alívio para os pais que precisam trabalhar”. Sobre passar o dia inteiro na escola, entusiasmado disse “é bom” e narrou uma história de um dia de conselho de classe, em que o professor brincou, dizendo “Ê, Thallys, você gosta mesmo da escola, vem até quando não é para vir!”. Ainda listou as aulas de teatro, percussão, artes plásticas, construção de instrumentos, música e as matérias preferidas matemática e ciências, o gosto por gibis e pela pré-história.

Continuando as linhas, a meta do projeto está no exemplo da realidade deste texto. A capacitação de professores na perspectiva do empreendedorismo, como explicou Elaine e Shirley, e que essa metodologia possa ser utilizada nas atividades desenvolvidas pela escola, sendo que não se desvie da meta maior da escola, e sim com “um olhar e estratégias inovadoras”, o que sublinhou a superintendente Viviane. “Os objetivos do JEPP são: disseminação da cultura empreendedora entre crianças, jovens e adolescentes, estimular o protagonismo juvenil e a iniciativa futura na busca de possibilidades na inserção no mercado de trabalho, por meio de uma postura empreendedora”, detalhou.

A elaboração do programa tem metodologias específicas, pois, é formatado em uma linguagem estruturada, cuja solução é para a etapa do ensino fundamental, que atende o público de 6 a 14 ou 15 anos, quando concluem o ensino fundamental. A professora Shirley mostra a contribuição do encontro dessa linguagem, dos projetos e objetivos pensados para cada série, afinal encontra com o desenvolvimento, com a aprendizagem que tem o aluno em cada faixa etária.

“Não há um intuito único e exclusivo de que esses alunos virem empreendedores econômicos ou comerciais. São comportamentos para que se tornem pessoas empreendedoras, independente da profissão que escolherem, pois, serão mais competitivos e mais eficientes na sociedade” explicou Elaine, que disse ainda que “hoje, uma criança que tem acesso aos conceitos de empreendedorismo, com 6, 7 anos, terá maior facilidade para praticar e ser empreendedora do que alguém que tem acesso à cultura do empreendedorismo com 18, 20 anos”. Quanto mais cedo a pessoa ter acesso a cultura empreendedora tanto mais fácil e simplificada será a prática do empreendedorismo, dessa pessoa, no futuro.

Frutos

As melhorias já são observáveis na fala e em alguns índices. A gerente Elaine comenta que neste ano, o Sebrae trabalhará na definição de um indicador para mensurar a transformação que o JEPP proporcionou as escolas, bem como na vida dos professores e estudantes. Sobre as falas, Elaine comemora, pois mostram um melhor desempenho dos alunos. “O JEPP, nesse pouco tempo de implementação, já conseguiu reduzir o índice de evasão escolar. Isso é maravilhoso!”, comemora, pois a Seduc afirmou que o “índice de evasão escolar diminuiu, a partir do momento, em que se desenvolveu o JEPP nas escolas”.

A fala de Elaine se encontra com o que disse Thallys. “O interesse dos alunos aumentou em disciplinas que muitas vezes não se mostrava, como matemática; e esse interesse aumentou em função do programa” disse. Ele, que está lendo o “Auto da Compadecida”, do pessoense Ariano Suassuna, contou que as aulas ajudam “tanto em matemática, quanto em português”. No cotidiano da vida do pequeno, havia contas para fazer e palavras desconhecidas em que era necessário, e ainda é, consultar o dicionário.

A integração e interdisciplinaridade do programa contribuem para o aprendizado em diferentes áreas. “Verificamos que a metodologia utilizada possibilita melhoria no raciocínio lógico, imaginação, cooperação, ética e sustentabilidade”, afirma Viviane, em nome da Seduc.

As aulas são interdisciplinares. Elaine explicou que a professora de matemática apresentará o conteúdo, mas o relacionando com a questão do empreendedorismo e do mesmo jeito o de português, história, geografia. “O desempenho do aluno, nas disciplinas, tem melhorado muito, pois, ele passa a fazer conexões. Conexões do conteúdo de português, de matemática e ciências com empreendedorismo. O ensino se potencializa para a aprendizagem do aluno”, afirma a gerente. Viviane ainda pontua que os estudantes são estimulados nas demais áreas do conhecimento. A cooperação, a comunicação oral, a leitura e também a produção escrita proporcionam uma melhoria na qualidade do processo ensino aprendizagem.

“Oficina de brinquedos ecológicos” é o nome do livro do 3º ano. Shirley narra a vontade da escola em criar um local, um cantinho, em que ervas medicinais fossem plantadas. “O 3º ano desenvolveu o projeto, nomeando-o ‘canteiro submerso’. Um canteiro para plantação dessas ervas-medicinais. Um objetivo difícil, mas consultamos agrônomos, pedimos adubação para a plantação e deu certo!”, e conclui: “Com certeza, o programa tem resultados e resultados que são gratificantes.”

O programa tem um fruto incrível, que é o sorriso de Thallys por se lembrar de uma tarde em que fizeram — opa!, na verdade, alguns alunos ajudaram a professora a fazer — uma salada de frutas. A resposta do estudante quando ouviu “você ajudou?” foi “não”; porém, quando foi “você comeu?”, só se ouviram risos.

Por fim, como lembra o presidente Marcelo Baiocchi, o Sebrae pretende levar a cultura empreendedora para todos os níveis escolares. Elaine comentou outras soluções, como “Jovens Empreendedores”, de atenção ao ensino médio, previsto para entrar em atuação neste ano. Apenas o JEPP abrange mais de 30 mil alunos e 700 professores no Estado. Viviane diz que a ideia é expandir, o programa, para todas as escolas de ensino fundamental. Talvez assim mais escolas, como Lousinha Carvalho, ganhem fotos tão alegres e sapientes, como as registradas por Fernando, para se relembrar no amanhã.