Por onde andam os candidatos a prefeito de Goiânia das últimas eleições?
30 julho 2023 às 00h00
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As eleições para prefeito de 2020 deixaram uma lição devido ao contexto em que estavam inseridas. Em Goiânia, 16 candidatos disputaram o cargo e os desafios foram inúmeros. O mundo vivia a pandemia da Covid-19 e a população ainda não estava vacinada. O modo tradicional de se fazer campanha teve que ser reinventado. A abordagem ao eleitor precisou mudar. O corpo a corpo teve de dar espaço para o pedido de voto virtual, à distância.
De lá pra cá, já se passaram três anos e muitos se fazer uma pergunta: por onde andam os candidatos majoritários derrotados nas urnas? O Jornal Opção os procurou para entender quais as lições aprendidas no último pleito e para saber mais sobre os planos para o futuro nesse momento, faltando pouco mais de um ano para as próximas eleições para prefeito. O desenho político já começa a ser esboçado e os partidos já começam a decidir pelos nomes que protagonizarão a disputa. Alguns dos antigos candidatos, inclusive, podem novamente estar na disputa.
Disputa acirrada
Segundo colocado nas urnas, com 47,4% dos votos válidos, Vanderlan Cardoso (PSD) é senador por Goiás e seu mandato vai até 2026. No Senado, foi eleito no início do ano presidente da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), uma das principais do Congresso, para o biênio 2023-2024. Atualmente, é presidente do PSD em Goiás e já afirmou em entrevistas que o foco do partido são as eleições do ano que vem. Em pesquisas divulgadas recentemente, o nome do senador aparece como um dos favoritos para a disputa.
No pleito de 2020, Vanderlan perdeu para Maguito Vilela (MDB) por uma diferença de cerca de 27 mil votos. No segundo turno, a estratégia do candidato do PSD foi partir para o ataque, o que garantiu a ele pouco mais de 250 mil votos. A essa altura, o emedebista já estava internado e uma enxurrada de notícias falsas eram propagadas na internet sobre o estado de saúde do emedebista. Na época, candidato derrotado chegou a acusar o grupo adversário de “estelionato eleitoral”.
Apesar de eleito, Maguito morreu menos de duas semanas depois do início de seu mandato, vítima de complicações da Covid-19, contraída ainda durante a campanha. Com a morte do emedebista histórico, Rogério Cruz (Republicamos) assumiu de forma definitiva a Prefeitura de Goiânia. Nas duas semanas anteriores, ele já estava na função interinamente, uma vez que o então prefeito Maguito estava internado em um hospital de São Paulo.
Derrota em 2020, vitória em 2022
A delegada Adriana Accorsi (PT) foi a terceira colocada nas eleições de 2020. Com mais de 80 mil votos em Goiânia (13,39%) nesse pleito e teve recall em 2022, quando 96.714 eleitores goianos votaram nela para deputada federal. Desse total, quase 24 mil votos foram de goianienses. “2020 começou a construir 2022”, confirmou a petista.
Mas 2020 também traz más lembranças para Adriana. Além da questão da pandemia, em que teve que fazer campanha deixando em casa uma filha com menos de dois anos, sua família foi ameaçada de morte pouco depois do resultado das urnas. “Como delegada já sofri muitas ameaças, mas nunca contra minhas filhas”, lembrou.
Sobre quem vai ser o candidato do PT nas próximas eleições na capital, Adriana – que tem seu nome citado em pesquisas recentes como uma possível candidata competitiva – diz que essa discussão está acontecendo agora no partido, que tem a tradição de tomar decisões coletivas. “A decisão ainda não foi tomada, mas deve sair em breve”, antecipou.
E Adriana não descarta a possibilidade de unir a esquerda em torno de uma única candidatura, mas trazendo para a aliança também partidos de centro. “Podemos unir uma frente democrática assim como Lula fez”, pontuou ao citar que o presidente não ficou restrito aos partidos esquerdistas e que isso pode ter garantido sua eleição.
Gustavo Gayer (PL) concorreu para prefeito pelo Partido Democracia Cristã (DC) e foi o quarto colocado nas urnas, com 45.928 mil votos (7.62%). Já nas eleições do ano passado, mais de 200 mil eleitores (5,82% dos votos) votaram nele e o elegeram como o segundo mais votado para a Câmara. Sua campanha para a Prefeitura dois anos antes, inclusive, teve um importante papel na escalada para o Congresso. Deu visibilidade para seu discurso e projeção do seu nome.
E teve mais gente que perdeu em 2020, mas ganhou em 2022. Major Araújo, Talles Barreto e Virmondes Cruvinel são deputados estaduais eleitos na última eleição. O curioso é que todos os três trocaram de partido uma eleição para outra. O primeiro, saiu do PSL e foi para o PL depois que sua antiga legenda se fundiu com o Democratas para criar o União Brasil (UB). O segundo, saiu do PSDB o terceiro disputou a Prefeitura pelo Cidadania, mas ambos hoje são do UB.
Com cargo, sem mandato
Em 2020, Dra. Cristina Lopes precisou travar uma batalha judicial para garantir sua candidatura. Depois de ser aclamada candidata a prefeita pelo PL na convenção do partido, na calada da noite, ao 45 do segundo tempo, a cúpula de sua legenda optou por desistir da candidatura própria para apoiar a chapa de Maguito.
“Essa prática de fortalecer uma candidatura e depois usá-la como moeda de troca é vista como comum no meio político, mas é danosa e perversa. Não estava disposta a fazer o que o partido queria e fui ignorada. Mas fomos pra Justiça e vencemos”, comentou a ex-candidata. E como saldo positivo dessas eleições, ela cita a defesa da democracia e das candidaturas femininas. “Ficou uma jurisprudência, apesar de todo o sofrimento que vivi”, declarou.
Em 2020, disputou uma cadeira na Câmara dos Deputados e teve cerca de 17 mil votos que garantiram a ela a primeira suplência. Hoje no PDT, Cristina Lopes é secretária de Projetos Especiais da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) e atua na formação política. “Trabalho para incentivar que mais mulheres se candidatem”, explicou. Antes disso, a ex-vereadora por Goiânia participou da gestão de Rogério Cruz na Prefeitura, como secretária de Direitos Humanos.
Para o ano que vem, Cristina afirma que tem um trabalho voltado para o executivo, algo ainda em construção com seu partido. No entanto, ela descarta uma possível candidatura para vereadora. “Meu ciclo como legisladora na Câmara Municipal acabou”, garantiu.
Elias Vaz (PSB) foi o quinto colocado na disputa de 2020 para prefeito. Teve 24.626 mil votos (4,08%). Dois anos depois, quando tentou se reeleger deputado federal, não teve sucesso, conquistando cerca de 30 mil votos, cerca de seis mil a mais do que na disputa para a Prefeitura.
Atualmente em Brasília, Elias, que é presidente do seu partido em Goiás, é secretário nacional de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na última sexta-feira, 28, acompanhou, o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), que esteve em Goiânia para se reunir com lideranças do agronegócio. Vieram juntos, inclusive, no mesmo avião.
Sem cargo nem mandato
Alysson Lima disputou a Prefeitura em 2020 pelo Solidariedade, mas hoje está no PSB. Na ocasião, teve cerca de 16 mil votos. Em 2022, disputou para deputado federal e teve menos de dez mil votos. Com a derrota, o ex-deputado estadual ficou sem mandato e abriu um estúdio que faz vídeos para internet no Setor Oeste. Quando perguntado se desistiu da político, responde: “Desistir é uma palavra pesada. Dei um tempo. Não estou mais com essa motivação agora”, garantiu.
Alysson contou que hoje é muito ativo nas redes sociais. No Instagram, tem mais de 70 mil seguidores, mas, somando todos os perfis que mantém na internet, são mais de 400 mil que o seguem. “Tenho vídeos com mais de um milhão de visualizações”, completou.
O ex-deputado disse ainda que está mais interessado em saber quem serão os candidatos na próxima eleição. “Estou de olho nos nomes que estão surgindo, mas ainda não defini meu voto”, afirmou. E ele aposta em um pleito com muitos candidatos. “Se não tiver 16, pelo menos dez ou doze”, previu.
Presidente do PV em Goiás, Cristiano Cunha, lembra que 2020 foi uma eleição “totalmente atípica” e “bem fria”. “Mas serviu como aprendizado de que rede social não é tudo. Vários candidatos gastaram milhares e milhares de reais com a internet e isso não trouxe resultado. A população está acostumada com o tête-à-tête”, avaliou.
Para o pleito do ano que vem, ele garante que mantém seu nome da disputa para prefeito, mas não descarta a possibilidade de ser vice. “Quero montar uma chapa boa, competitiva. Vamos trabalhar nomes de peso para disputar vagas na Câmara Municipal”, antecipou.
A ex-candidata Manu Jacob (Psol) hoje é presidente do seu partido. Nas eleições de 2020, teve menos de 5 mil votos. Em 2022, foi candidata a senadora e conquistou mais de 50 mil, cerca da metade na capital. Para ela, a visibilidade da campanha ajudou. “Fui a primeira mulher negra na história da nossa cidade a ser candidata a prefeita”, destacou.
Manu confirmou que é pré-candidata a vereadora nas próximas eleições e antecipou que o projeto do seu partido é unir a esquerda em um único candidato a prefeito. “O Psol sempre dá o primeiro passo para a unidade. Estamos conversando com outros partidos. Não sei se isso irá se concretizar, mas política se faz com diálogo”, comentou.
Discurso classista na lanterna
O professor Antônio Vieira (PCB) ficou em penúltimo lugar na última disputa para a Prefeitura. Antes de ser candidato em 2020, ele já tinha sido candidato a senador pelo mesmo partido em 2014. “Eleição é momento. Para nós, do PCB, as lutas cotidianas são mais importantes”, explicou ao dizer que sua legenda utilizou a campanha para apresentar propostas anticapitalistas e denunciar as mazelas do sistema.
Antônio reclama que as mudanças na legislação eleitoral têm deixado as campanhas cada vez mais restritas para a esquerda que se mantém socialista. “Quem questiona a ordem vigente tem cada vez menos espaço. Em 2020, não tivemos tempo na TV”, afirmou ao reclamar do ataque institucional que partidos históricos como o PCB estão sofrendo. “Somos o partido de Prestes e Marighella. Nós fizemos parte da história desse país. Em momentos em que retrocessos foram impedidos, comunistas participaram do processo”, lembrou.
Desde as eleições de 2020, Antônio continua atuando na base do partido e como professor. Ele é concursado na rede municipal de ensino e dá aulas de Geografia para alunos do 6º ao 9º ano. Até o momento, o PCB, segundo o ex-candidato, ainda não iniciou as conversas para 2024, mas o comunista acredita que é possível unir toda a esquerda em torno de um único candidato nas próximas eleições. No entanto, com uma condição: “Não aceitamos partidos de centro”, avisou.
O PCB, inclusive, que apoiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas últimas eleições, hoje é contra o arcabouço fiscal e a Reforma Tributária. “Atendem aos interesses da burguesia, do agronegócio, do grande capital e deixa os trabalhadores de fora”, comentou.
Fábio Junior foi o candidato a prefeito pela Unidade Popular (UP), partido legalizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em dezembro de 2019. Na época, tinha 25 anos, era estudante de economia da Universidade Federal de Goiás (UFG) e motorista de aplicativo. Nas urnas, conseguiu 1.052 votos (0,17%).
Para ele, o saldo do pleito foi positivo: “No início do processo eleitoral, nossa campanha estava em sexto e consegui participar do principal debate. Na época, muitos avaliaram que saímos bem e nosso projeto atingiu muita gente”, comentou.
Nas últimas eleições para presidente, Fábio mudou de partido e foi para o PT com o intuito de apoiar a eleição de Lula. Agora com 28 anos, está focado em sua carreira como economista e estuda para concurso público. Está no cadastro de reserva e aguarda ser chamado para um cargo técnico-administrativo na UFG.
A carreira política não foi abandonada. O jovem avalia a possibilidade de ser candidato a vereador. No PT, ele acredita que o partido precisa definir quem vai disputar a Prefeitura pelo partido o mais rápido possível. “Pra decidir e trabalhar esse nome”, comentou. Além disso, ele defende que seria importante que sua legenda se unisse ao MDB. “Seria interessante essa aliança”, avaliou.
Fábio também acredita ser possível que a esquerda se una em torno de um único candidato. Mas ele concorda com Adriana na ideia de que é necessário também trazer partidos de centro para a aliança político-eleitoral.
Sem notícias
O ex-candidato Samuel Almeida, que disputou as últimas eleições para prefeito pelo PROS – partido que presidia na ocasião -, não atendeu às ligações nem respondeu as mensagens. Ele foi secretário de Governo de Goiânia, em 2017, quando Iris Rezende (MDB) era prefeito, de quem foi também coordenador de campanha. Foi deputado estadual por três vezes e chegou a ser presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego).
Seu perfil no Instagram (@samuel90prefeito) não é atualizado há mais de ano. Sua última publicação é uma foto no aniversário da filha que fazia 8 anos em dia 15 de julho de 2022. “O meu desejo de pai é que ela continue crescendo em graça e sabedoria, com o coração sempre voltado para Cristo”, escreveu no feed.
A reportagem não conseguiu contato com o último colocado nas urnas, o ex-candidato Vinícius Paixão, do PCO, que teve apenas 0,01% dos votos nas eleições de 2020, quando apenas 87 eleitores apertaram “confirma” para o nome dele.
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