A maçonaria tem sua origem na Idade Média, nas guildas medievais. Os primeiros maçons faziam parte de uma espécie de sindicato de engenheiros, pedreiros, arquitetos e artesãos, e foram responsáveis por construir algumas das grandes catedrais da Europa. Esses membros das corporações de ofício estabeleceram códigos para manter as técnicas de construção dentro da guilda, de forma que fossem somente passadas aos aprendizes após sete anos de estudos.

Durante o período das construções, os maçons ficavam hospedados em alojamentos durante muitos anos, até que terminassem a obra. Daí vem a definição dos ambientes de trabalhos como “loja”, um termo se assemelha ao francês “logement” (alojamento). A palavra “maçom” também tem origem no francês, “maçon”, que significa “pedreiro”.

Na idade média, a maçonaria aceitava somente trabalhadores da construção, sapateiros, ferreiros e alfaiates, que guardavam a sete chaves os segredos de seus ofícios. A arquitetura era considerada uma arte sagrada pois estava ligada à construção dos grandes templos para o culto de Deus.

Com o fim da idade média, a agremiação passou a aceitar outros profissionais, tornando-se uma fraternidade dedicada à defesa da liberdade de expressão, de pensamento, de culto e de orientação política. Caracterizada pela oposição ao absolutismo, a maçonaria exerceu grande influência na Revolução Francesa e na Independência dos Estados Unidos. No Brasil, a maçonaria exerceu participação decisiva na abolição da escravatura, na Independência do Brasil em relação a Portugal, e na proclamação da República.

Fundação da Grande Loja em Goiás

Marco Antônio Barbosa de Faria, grão-mestre adjunto da Grande Loja, afirma sobre a ligação da maçonaria com o divino: “A maçonaria não é uma ordem secreta. Somos discretos, mas abertos a todas as religiões, exceto aos ateus. Um dos critérios para entrar na maçonaria é crer em Deus, o grande arquiteto do universo. Além disso, os interessados devem ter uma conduta ilibada, ética e honesta.”

Marco Antônio Barbosa de Faria se denomina como católico e diz que, apesar de estar um pouco distante da igreja, é temente a Deus e praticante da fé. O grão-mestre entrou para a maçonaria há 14 anos e vem de uma família de maçons. O advogado aposentado exerceu a profissão durante 35 anos, hoje dedica seu tempo à maçonaria, na loja Mestre Pythágoras 127, e lamenta não ter ingressado a instituição antes.

Marco Antônio Barbosa de Faria, Grão-Mestre adjunto da Grande Loja, concede entrevista ao Jornal Opção l Foto: Marco Túlio/JornalOpção

Em Goiânia, existem 41 lojas maçônicas, e em todo o Estado são 130, com aproximadamente 3.595 membros. Em Goiás, a data de fundação remete à 9 de junho de 1951. Marco Antônio explica que a Grande Loja vem de uma dissidência da Grande Oriente do Brasil, que foi a primeira grande potência maçônica do Brasil – fundada em 1822.

“A maçonaria goiana nasceu dos maçons que vinham de São Paulo para vender mercadorias por aqui”, diz Marco Antônio Barbosa de Faria. Eram os chamados mascates ou vendedores ambulantes. A primeira loja a ser fundada no Estado, foi a Adoniram, localizada na capital, na rua dez, próximo à Catedral Metropolitana. A segunda foi a Roosevelt em Anápolis.

Porém, Marco Antônio esclarece que antes já havia lojas em algumas cidades de Goiás, principalmente as que estão à beira da ferrovia. A loja Anhanguera 14, por exemplo, na cidade de Palmelo, fez 71 anos. Ele explica que com a dissensão da loja paulista, as lojas se espalharam de forma independente.

O grão-mestre ressalta que foi um goiano da Cidade de Goiás, chamado Luiz Caiado de Godoy, quem inaugurou a Grande Loja Maçônica do Estado. Luiz Caiado de Godoy era membro da loja Roosevelt de Anápolis, ia sempre à cavalo da Cidade de Goiás até Anápolis para participar das reuniões, e teve a iniciativa de reunir todas as 15 lojas que se apartaram de São Paulo para fundar a Grande Loja. Luiz Caiado de Godoy se tornou então, o primeiro Grão-Mestre em Goiás.

Missão

“A missão da maçonaria é buscar, através de determinadas ferramentas, o aperfeiçoamento individual, a evolução enquanto ser humano, e nos tornarmos pessoas melhores”, diz Marco Antônio Barbosa de Faria. “Nossa pretensão é ambiciosa, é fazer uma sociedade feliz. Para isso, atuamos em nosso raio de alcance. Acreditamos que, se cada um fizer o seu papel, podemos fazer uma sociedade mais feliz, justa e igualitária, com melhor equilíbrio na distribuição de renda e patrimônio, de forma que todos tenham as mesmas oportunidades”, pontua.

Reunião de Assembleia Geral que marcaram o encerramento das atividades do ano da Grande Loja l Foto: arquivo pessoal

Filantropia

Marco Antônio reitera que a filantropia é um dos pilares da maçonaria. Ele menciona a ação Corrente do Bem, que mobiliza todas as 130 lojas do Estado para, no mesmo dia, realizar atividades de filantropia em suas comunidades.

“Somente em nossa gestão, que teve início em junho deste ano, mais de sete mil famílias já foram contempladas com diversos tipos de demandas. Por exemplo, os abrigos de idosos recebem o fornecimento de fraldas descartáveis, material de limpeza e alimentos. Cada loja fez a escolha por uma ação.”

O grão-mestre enumera campanhas para aquisição de material escolar. “Esta é uma campanha anual e permanente da instituição, que atende crianças carentes em todo Estado de Goiás para que possam iniciar o ano letivo com o material necessário ao desenvolvimento do aprendizado.”

Marco Antônio esclarece que a maçonaria não exige nenhuma opção religiosa de seus membros e garante que não há descriminação por nenhuma religião. Entretanto, há a exigência de que o membro creia em um ser supremo. “O criador de todos os mundos, o grande arquiteto do universo, isto é, Deus. Temos evangélicos, umbandistas, do candomblé, espíritas, muçulmanos, católicos, entre outros.”

“A maçonaria nos proporciona a possibilidade de tratar diretamente com Deus sem a necessidade de passar por intermediários, seja o pastor ou padre ou quem quer que seja. Não precisamos nos valer desse mercado da fé que existe aí fora”, argumenta.

O grão-mestre comenta que o ser humano deve construir em seu interior um lugar bonito, limpo e aconchegante para que Deus faça sua morada. Ele destaca que a maçonaria não é uma religião, e sim uma filosofia de vida, que transmite aos seus adeptos as ferramentas para melhoramento pessoal através de alegorias e símbolos.

“Acredito que existe o bem e o mal, mas não necessariamente no céu ou no inferno. Acreditamos em trevas e luz. A vida não termina aqui, por isso cremos que passaremos a um novo estágio e na sobrevivência eterna do espírito.”

Líderes Maçônicos. Ao centro está o Grão-Mestre da Grande Loja, Mário Martins l Foto: arquivo pessoal

Para fazer parte

Para ingressar na maçonaria só existe um meio: ser convidado por um membro. Não é admitido o ingresso voluntário. “Somos a única instituição que a pessoa precisa ser convidada para fazer parte. Após o convite, haverá uma sindicância, onde se observará se o indivíduo tem o potencial para se tornar um membro”, explica.

Na sindicância, é observado se o candidato possui as qualificações e se atende a critérios como a conduta moral. “Precisa ser um cidadão de conduta ilibada, que tenha uma atuação proativa junto à comunidade, que contribua com suas ações para algum segmento e que evolua na boa convivência com as outras pessoas; que seja um bom pai, esposo, filho, patrão, empregado e que espalhe a prática do bem e o amor fraternal — o nosso mais forte pilar.”

Marco Antônio esclarece que a única forma de se tornar um membro da entidade, é pelo sistema de convite. Qualquer outra maneira é falsa; instituições que aceitam membros de outra forma não são reconhecidas pela ordem. No Brasil, há apenas três potências regulares: O Grande Oriente do Brasil, a Grande Loja Maçônica e o Grande Oriente de Goiás. “Existem muitos picaretas, verdadeiros estelionatários, oferecendo inscrições pela internet em troca de pagamentos em dinheiro”, adverte.

Jovens a partir dos 21 anos também podem entrar para a organização, desde que se identifiquem com os propósitos da instituição. O grão-mestre relata que dentro da maçonaria existe uma organização paramaçônica, fundada na Segunda Guerra Mundial, chamada Ordem Demolay, pelo francês Jacques Demolay. A ordem tinha como objetivo abrigar e cuidar dos órfãos da guerra. Nessa ordem, os jovens iniciam a partir dos 12 anos e vão até os 21.  

Outro fator determinante é a concordância familiar. “Se a esposa não aceitar, não há possibilidade alguma de esse homem fazer parte. Nosso foco não é a disseminação da discórdia no ambiente familiar. A família para nós é a base de tudo. Inclusive, a esposa precisa assinar um documento afirmando que ela está de acordo”, afirma.

Marco Antônio garante que são aceitos homens de qualquer classe social. “Aqui somos todos tratados como irmãos, ricos ou pobres; médicos, engenheiros, advogados, empresários, professores, mestres de obras ou pedreiros, seja quem for. Para nós as honrarias, os títulos e o portfólio financeiro ficam da porta para fora e do lado de dentro somos todos iguais.”

Mulheres 

Questionado o porquê das mulheres não serem aceitas, o grão-mestre afirma que a razão é a própria história da maçonaria. Segundo ele, na data de fundação da organização, as mulheres não trabalhavam nas construções. Porém, informa Marco Antônio, mulheres já podem fazer parte de maçonarias no mundo. No Brasil, somente o estado do Rio Grande do Sul as aceita.

Há a maçonarias mistas que reúnem homens e mulheres maçons. Todavia, como ressalta o grão-mestre, em Goiás ainda não há mulheres integrantes. “Não pretendemos implantar esse sistema em nosso Estado, mas a Grande Loja tem a intenção de instituir um grupo chamado ‘As Meninas’, que são as filhas de Jó, que será voltado para as jovens e adolescentes até os 21 anos.”

Assembleia Geral da Grande Loja reunindo toda a família l Foto: arquivo pessoal

Lenda

O grão-mestre diz que há lenda na sociedade de que, ao se tornar maçom, o indivíduo ficará rico. “A maçonaria não é um cassino onde você entra pobre e pode sair rico. Somos uma instituição filosófica, e por esse motivo, nós advertimos logo no início a todos os pretendentes que não somos uma instituição de ajuda mútua. Todavia, um irmão jamais deixa o outro que porventura estiver passando por alguma dificuldade sem lhe prestar socorro, desde que justo e necessário.”

Grande Oriente do Brasil

Alex Wallace Silva Costa é protestante presbiteriano e grão-mestre adjunto do Grande Oriente do Brasil – Goiás, e pertencente à Loja Lealdade e Justiça 1.222 de Anápolis. Alex Wallace ressalta que a Grande Oriente do Brasil, no qual chamam simplesmente de GOB, é a “mãe da maçonaria” do Brasil com 202 anos de existência — em Goiás, a Loja no qual pertence foi fundada em Anápolis em 1933. Alex Wallace explica que, diferentemente da Grande Loja, o GOB é uma entidade federativa com os 3 Poderes constituídos. Em uma analogia com a federação do Brasil, Alex Wallace explica: o presidente é o Grão-Mestre geral, os governadores equivalem aos grão-mestres estaduais, e os prefeitos são os veneráveis de loja.

Alex Wallace Sila Costa Grão-Mestre Estadual adjunto da GOB – GO l Foto: arquivo pessoal

Para o líder adjunto, a maçonaria representa um estilo de vida. “Estamos junto de pessoas que chamamos de irmãos e buscamos sempre o aperfeiçoamento do homem. Somos uma grande família”, diz. Alex Costa afirma que a maçonaria, por si própria, não muda a vida das pessoas, mas quando o indivíduo ingressa na organização e passa a entender a essência da maçonaria, a mudança acontece sem que ele perceba.

O Grão-Mestre adjunto relata que a família, Deus e a pátria, são a base de tudo. “As próprias palavras da tríade que foi o lema da revolução francesa, já diz tudo: lealdade, igualdade e fraternidade”, lembra. Alex Wallace reforça que a maçonaria sempre esteve presente na esfera política não somente do Brasil, mas do mundo. Perguntado se tem alguma ideologia política que não se encaixa com os dogmas da entidade, ele foi enfático em responder que – “o socialismo, assim como o comunismo, não tem espaço na maçonaria.” Ele diz ainda que atualmente a política faz parte da instituição, mas de forma discreta.

O Grão-Mestre menciona os serviços sociais, que fazem parte da filantropia da ordem, como creches, asilos, escolas e diversas outras obras beneficentes que as lojas maçônicas buscam manter. “A nossa loja mantém um abrigo de idosos com 80 moradores desde 1948.” Para ele, a base filosófica da maçonaria está na ajuda ao próximo. “Acreditamos que todos somos iguais. A grande finalidade da maçonaria é transformar o mundo por intermédio das pessoas, mesmo que a maçonaria moderna não se envolva com causas políticas e religiosas”, expõe.

Alex Costa diz que a maçonaria é de Deus. “Deus criou o homem e lhe deu o livre arbítrio sobre todas as coisas. Nossos dogmas são voltados para o criador e não iniciamos nossas reuniões sem antes fazer uma oração e a leitura de um texto bíblico.”

Membro

Sérgio Lucas é advogado, político e maçom grau 33, da loja Aprendizes da Verdade, número 98 — pertencente à Grande Loja. Para ele, a maçonaria representa uma escola de aperfeiçoamento interior. Membro da instituição há mais de 20 anos, Sérgio Lucas experimentou uma mudança radical na sua vida. “Penso que, se não fosse a maçonaria, eu teria persistido em erros que cometi ao longo da minha caminhada de forma repetitiva. A maçonaria mudou isso”, assegura.

Sérgio Lucas membro grau 33 l Foto: arquivo pessoal

Sérgio Lucas pontua que a primeira pergunta que se faz a um não maçom que deseja fazer parte é se ele acredita em Deus. Se essa resposta for negativa, ali mesmo já se encerra a sindicância.  A segunda pergunta é se o indivíduo acredita na vida após a morte, e a terceira, se a esposa concorda com a decisão do esposo.

Ordem DeMolay

Charles Wellington de Matos Pinheiro é católico e professor há 30 anos. É maçom grau 33 e iniciou na Ordem DeMolay em 22 de fevereiro de 1992.

Charles Wellington de Matos Pinheiro mestre na Ordem DeMolay l Foto: arquivo pessoal

Charles Wellington já ocupou vários cargos dentro da Ordem Demolay, e explica que a instituição paramaçônica foi criada em 24 de março 1919, em Kansas City (EUA), pelo maçom Frank Sherman Land. A finalidade dessa instituição é auxiliar jovens rapazes de 12 a 21 anos, a desenvolverem virtudes e transformá-los em adultos com responsabilidade e compromisso.

Eles ingressam em um ‘Capítulo’, que funciona sob a responsabilidade e patrocínio de uma loja maçônica e é subordinado a um conselho estadual, denominado Grande Conselho Estadual, composto por Maçons e DeMolays, e estes são subordinados ao Supremo Conselho DeMolay Brasil.

“Como parte da formação dos jovens eles são inspirados por sete princípios denominados de virtudes cardeais, sendo eles: amor filial, reverência pelas coisas sagradas, cortesia, companheirismo, fidelidade, pureza e patriotismo”, explica Charles Pinheiro. “É exigido que o jovem tenha uma crença em Deus, mas sem uma denominação específica, e que já seja um jovem com comportamento exemplar”.

O ingresso em um capítulo se dá por meio de um convite feito por outro DeMolay ou por um maçom, não sendo necessário que o convidado tenha algum parentesco com alguém ligado a ordem DeMolay ou a Maçonaria, basta receber o convite. Quando ingressam na Ordem DeMolay, os jovens são informados que não há nenhuma garantia que serão maçons no futuro.

No entanto, é de se observar que, pelos ensinamentos que recebem e pelas virtudes cultivadas nos seus anos de permanência, ao se tornarem Sêniores (DeMolays que alcançar a maioridade dos 21 anos), eles terão conhecimento e hábitos que poderão ser um facilitador para um possível ingresso na maçonaria. Lembrando que alguns não se identificam com os princípios ensinados na organização e acabam a deixando.

Ordem paramaçônica chamada filhas de Jó l Foto: arquivo pessoal

História

A ordem recebe esse nome em homenagem ao último Grão-Mestre da Ordem dos Templários Jacques DeMolay, morto em 1314 quando da perseguição pelo Rei da França Felipe, O Belo. Este Rei, cobiçando os bens acumulados ao longo de mais de 200 anos pela ordem, os acusou de heresia e assim conseguiu com o apoio da igreja católica apropriar-se dos bens e acabando com a ordem. Muitos templários foram mortos e alguns conseguiram fugir, se escondendo por toda a Europa.

DeMolay e outros cavaleiros ficaram presos por cerca de 7 anos em masmorras e após um processo difamatório foi queimado vivo no dia 18 de março de 1314. Mas mesmo preso e sofrendo cruéis torturas, ele manteve-se fiel ao seu juramento de fidelidade e não entregou seus subordinados, manteve suas identidades e localizações em sigilo e assim, por desafiar o Rei e não se curvar a ele, nem mesmo por torturas, recebeu a pena de morte na fogueira.

“Através dessa história, os jovens iniciados na Ordem DeMolay, tem a inspiração de serem melhores cidadãos e lutarem por um mundo mais justo, fraterno e cultivando virtudes de caráter”, diz Charles Pinheiro.

Leia também:

Fique por dentro dos segredos da Maçonaria