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Professor especialista no tema acredita que as novas alternativas que chegam sem parar em Goiânia prejudicam ainda mais o tráfego

Patinetes em ponto localizado no Setor Bueno | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção
Patinetes em ponto localizado no Setor Bueno | Foto: Fábio Costa/Jornal Opção

Os patinetes elétricos para aluguel são a última novidade em mobilidade urbana de Goiânia, repleta de novidades em soluções individuais nos últimos anos. Os primeiros chegaram no último dia 22 de março, na região dos setores Marista e Bueno, com proposta de dez minutos de passeio gratuito e, após o experimento, R$ 3 para o desbloqueio e primeiro minuto, mais R$ 0,50 por minuto seguinte.

Disponível pelo aplicativo Grin, para Android e iOS, o meio de transporte alternativo não é o único da capital. Em 2016, o projeto DeBike disponibilizou em 16 diferentes pontos da capital 160 bicicletas compartilhadas para a locação. Atualmente, a cidade conta com 20 estações e 200 bikes. O serviço possui taxas diárias (R$ 4), mensais (R$ 8), semestrais (R$ 35)e anuais (R$ 70).

Os patinetes somam-se aos já famosos aplicativos de carona: Uber, 99 Pop, Urban e até o CityBus2.0. Com menor ou maior abrangência, todos chegam como alternativas na mobilidade urbana.

Trânsito cheio

Marcos Rothen é professor no Instituto Federal de Goiás (IFG) na área de transporte público. Segundo ele, “é pela ausência de transportes públicos de qualidade, que se proliferam os veículos alternativos, que só prejudicam o trânsito”.

O docente afirma que tem havido uma piora na mobilidade da Capital, uma vez que os aplicativos de carona aumentam o número de carros na rua; que a bicicleta compartilhada não está bem adequada e que as pessoas não sabem andar; e que o recém-chegado patinete elétrico já tem trazido transtornos. “O transporte precisa de organização”.

Além disso, ele cita, ainda, que Goiânia sequer tem transporte público própio. “Existe o da Região Metropolitana”. Para o professor, a única forma de melhorar a mobilidade é dar mais qualidade aos ônibus e a seus passageiros. “Nosso transporte coletivo é muito ruim. Os ônibus são velhos e sem conforto”.

O professor diz, também, que falta o básico, como informações claras do trajeto e itinerário. “Deveria mostrar dentro do próprio ônibus o percurso, pelo menos”.

Quem opta pelos alternativos?

Marcos diz que pouquíssimas são as pessoas que deixam o carro em casa para ir trabalhar e que quem faz uso dos aplicativos são aqueles que usavam ônibus. “E o City Bus 2.0 é muito restrito e quase o preço de um táxi. Mas pelo menos tem uma sede”, afirma ele ao citar que os demais só possuem representações “ruins”.

Sobre os aplicativos de carona, ele pontua que muitos motoristas não são qualificados e desconhecem os endereços. “Isso prejudica muito o trânsito”, diz.

Recém-chegado

De volta ao patinete, Marcos cita que não tem onde andar com ele. “Temos poucas ciclovias e mesmo se tivéssemos mais, poderia conflitar com as bicicletas. Quando se cai de um patinete, cai de rosto no chão. É perigoso. Chega a fazer 30 km/h”.

O repórter do Jornal Opção Felipe Cardoso fez um teste com este veículo alternativo e diz que “superou suas expectativas”. Apesar do aconselhado (20 km/h), ele colocou 25 km/h no patinete em um breve período, quando não havia transeuntes e sentiu que este poderia ir além.

“Há uma função que consome mais bateria, mas que deixa o patinete mais rápido”. Felipe, que pegou o veículo no Parque Vaca Brava, no Setor Bueno, e o utilizou por 20 minutos, fez ressalvas apenas em relação ao preço.  Apesar disso, acredita que este seja uma “atração temporária” devido à curiosidade das pessoas.

O Departamento de Trânsito de Goiás (Detran-GO) pretende se reunir com a Prefeitura da capital, a fim discutir uma regulamentação dos patinetes.  “Enquanto [a reunião] não ocorre, segue conforme resolução do Conselho Nacional de Trânsito (Contran)”, explicitou o órgão.

Carros compartilhados

Fora de Goiás, já existe no mercado um aplicativo para compartilhamento de carros. Em São Paulo há, pelo menos, dois apps que fornecem o serviço e só exigem carteira de habilitação válida e um cartão de crédito.

Pelo aplicativo é exibido um mapa que mostra onde há veículos disponíveis e, ao reservar o automóvel, basta chegar até ele em 15 minutos. O próprio aplicativo destrava as portas do carro. As chaves ficam no porta luvas.

Além disso, também no porta luvas, há uma cartão e uma caixa que conecta o automóvel à rede móvel e dá as informações de telemetria, localização, quilômetros percorridos, combustível e mais.

Segundo Marcos, esse serviço ainda é muito pequeno, assim como a rentabilidade seria. “Uso restrito. Não é a solução”.

Você sabia?

O aplicativo de GPS Waze também possui serviço de caronas compartilhadas. O aplicativo Waze Carpool, que pode ser acessado no canto direito inferior, permite que você seja o motorista ou passageiro.

Lançado em agosto passado, o serviço tem corridas que variam de R$ 4 a R$ 25 – entre 5 km e 40 km. O objetivo é recomendar o compartilhamento entre pessoas com rotas e horários parecidos. A escolha do parceiro é feita por avaliação de estrelas e amizades em comum.

Pesquisas

Vale destacar que, conforme informações da consultoria Frost & Sullivan, mais de 7 milhões de pessoas usam algum tipo de compartilhamento em todo o mundo. No Brasil, segundo o site Olhar Digital, este número ainda não chegava a 100 mil, no ano passado, mesmo tendo dobrado em relação a 2017.

Na contramão do relato do professor, outra pesquisa apontada pelo site Olhar Digital, afirma que, nos Estados Unidos, a cada carro compartilhado, até 11 automóveis pararam de circular, o que gerou menos trânsito e poluição.