Os partidos políticos, as eleições e as novas lideranças

23 abril 2014 às 16h03
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As “jornadas de junho” disseram não às velhas práticas políticas e a sociedade não vai mais aceitar passivamente o toma lá da cá
Adão José Peixoto
Os partidos políticos em Goiás estão ignorando as “jornadas de junho”. Trata-se das manifestações promovidas pelo Movimento Passe Livre, nas principais cidades do país, que reivindicava, além do fim do aumento das tarifas do transporte coletivo, o passe livre, o fim da corrupção na gestão dos serviços públicos, a ética na política e o compromisso dos partidos com a construção de uma sociedade mais justa, mais igualitária e mais humana. A crítica aos partidos políticos apontava para a necessidade de mudança em suas práticas, no sentido de superar a prática do fisiologismo, do clientelismo e do corporativismo e adotar uma prática que privilegie a ética, a melhoria dos serviços públicos e a distribuição mais igualitária da riqueza produzida pela sociedade. Essas “jornadas de junho” disseram não às velhas práticas políticas, mostrando que a sociedade não aguenta e nem vai mais aceitar passivamente a prática do toma lá da cá, a prática da barganha de favores, numa preocupação única de assumir cargos para seus filiados ou protegidos, e contra a prática da corrupção, do enriquecimento ilícito de agentes públicos.
Isso implica não apenas que os partidos apresentem, em épocas de eleições, projetos políticos que traduzam esses compromissos e se comprometam a cumpri-los de fato, mas também que valorizem novas lideranças que possam representar esses anseios. A pesquisa Serpes/O Popular de intenção de voto para governador apresentada no último dia 23 de março de 2014, mostra a indefinição do quadro eleitoral, já que na pesquisa espontânea, a indicação de votos nos candidatos soma 19,8% enquanto que 76,5% são de indecisos. Os políticos que aparecem como prováveis candidatos são os que têm manifestado interesse em se candidatar. São velhas lideranças políticas ou lideranças sem expressão política que não representam anseios de mudança e transformação. Não representam as perspectivas de mudanças reivindicadas pelas “jornadas de junho”. É importante ressaltar que liderar as pesquisas antes do período de propaganda eleitoral não é sinônimo de garantia de eleição.
Em Goiás, há várias lideranças que podem representar estes anseios e que precisariam ser mais valorizadas e incentivadas a aceitar a candidatura a governador. Estas são “novas lideranças”, novas não pela idade que possuem, mas pelo compromisso ético que têm demonstrado no desempenho de suas funções como Edward Madureira Brasil, Elenir Queiroz, Milca Severino Pereira, Wolmir Amado.
Edward Madureira Brasil, ex-reitor da UFG, filiado ao Partido dos Trabalhadores, que a cúpula partidária, tímida, avessa à renovação, teima em indicá-lo para candidato a deputado federal, é um dos novos políticos de maior expressão em Goiás. Ele pode representar os anseios populares, pela facilidade de diálogo com os diversos partidos políticos, com os movimentos populares, com o empresariado, com os sindicatos e com a juventude. Edward ocupou a reitoria da UFG num período em que as universidades federais receberam grande volume de recursos financeiros e soube montar uma equipe que administrou com competência a universidade.
Helenir Queiroz, primeira mulher presidente da Associação Comercial Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (ACIEG), recentemente reeleita, é fundadora da empresa Multidata Tecnologia. Muito dinâmica, é capaz de mobilizar as pessoas e sempre assumiu com determinação os desafios. Helenir possui enorme apoio da classe empresarial e grande respeito dos diversos segmentos da sociedade goiana.
Milca Severino Pereira, também ex-reitora da UFG e ex-secretaria de educação de Goiás na gestão do governador Marconi Perillo, é uma pessoa dinâmica e sempre pautou sua atuação pela ética e o cuidado com a gestão pública. Mesmo administrando a UFG num período de grandes dificuldades financeiras, conseguiu fazer uma boa gestão. Na Secretaria da Educação, desenvolveu um excelente trabalho e foi responsável pela melhoria da avaliação da educação em Goiás no Ideb. Milca consegue dialogar com os partidos políticos, com os sindicatos, com os movimentos sociais e com a juventude.
Wolmir Amado, reitor da PUC Goiás, presidente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB), sempre pautou sua atuação com ética. Conseguiu um novo status para a Universidade Católica de Goiás, transformando-a em Pontifícia Universidade Católica de Goiás, ampliou as atividades de ensino e pesquisa, colocando-a no patamar das grandes universidades confessionais do país.
*Adão José Peixoto é mestre em Filosofia (Puccamp/SP), doutor em Educação (USP) e professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Goiás.