Há exatos 23 anos, o Jornal Opção fez uma reportagem, assinada pelos jornalistas Andréia Bahia e Antônio Lisboa, que dizia o que Goiás vendia para o mundo na época. No topo do ranking, complexo da soja, ouro, nióbio, carne, amianto, níquel e couros. Empresários que já realizam exportações nesses período também foram ouvidos e estavam otimistas. Depois de mais de duas décadas, o que mudou?

Negócio da China

Em 2022, o principal destino das exportações goianas foi a China que, sozinha, recebe quase a metade (46,28%) de tudo que é exportado pelas empresas goianas. Essa forte parceria comercial se dá porque Goiás tem um produto muito apreciados pelos chineses, popularmente chamado até de “ouro verde”: a soja.

Para o secretário de Estado da Indústria, Comércio e Serviços, Joel Sant’Anna Braga Filho, explica que a defasagem do preço do dólar torna o produto brasileiro mais competitivo no mercado internacional. Soma-se a isso, o fato de Goiás conseguir escoar sua safra com facilidade por meio de ferrovias que ligam o Estado ao portos. “E os produtores brasileiros já ganharam credibilidade na China e nos Tigres Asiáticos, tendo já experiência em exportação”, comentou o titular da Sic.

Joel Sant’Anna Braga, secretário de Indústria e Comércio, destaca a expertise dos empresários goianos quando assunto é exportação | Foto: LeoIran/ Jornal Opção

De olho nessa parceria comercial, neste ano, o vice-governador Daniel Vilela (MDB) foi pessoalmente à china em missão internacional com uma comitiva goiana que reuniu políticos e empresários com investidores chineses, que, segundo ele, estão muito interessados na mineração do Estado.

Durante a visita, em conversas, empresários chineses se mostraram dispostos a investir em plantas de granjas e no beneficiamento de grãos. “A China já é o grande parceiro comercial de Goiás. Cerca de 50% de nossas exportações vão pra lá. E nossa estratégia é potencializar a nossa economia com a internacionalização”, afirmou Daniel à época.

Agora no segundo semestre, existe a possibilidade do governador Ronaldo Caiado (UB) ir até à China que foi ventilada pelo vice-governador quando voltou de lá há alguns meses. Essa viagem ainda está em estudo, mas fontes palacianas comentam que, caso aconteça, deve ser em outubro, quando está prevista para acontecer no país asiático uma grande feira de negócios direcionada a empresários brasileiros.

Comparação histórica

Em 1999, a soja também era o principal produto de exportação de Goiás, representando 44,2% do total exportado. Mas no primeiro trimestre de 2000, o país asiático nem figurava na lista dos destinos para onde os produtos goianos mais eram enviados. Naquela época, 49,97% do que Goiás exportava ia para União Europeia e os Países Baixos. Estados Unidos e Porto Rico vinham em segundo (17%), Ásia e Oriente Médio em terceiro (15,3%) e países do Mercosul em quarto (6,11%).

A soja continua sendo o principal produto que é exportado em Goiás | Foto: divulgação/CNA

Naquela época, em que o mundo se preocupava com o “bug do milênio”, em Goiás foram exportados 380 mil toneladas do produto, o que rendeu ao Estado US$ 143,42 milhões. 23 anos depois, o complexo soja ainda está no topo das exportações goianas. Em 2022, o item representou 55% das exportações. Além do grão, os principais produtos exportados pelos goianos em 2022 foram: carnes (13,73%), ferroligas (6,79%), complexo milho (6,78%) e ouro (3,54%).

O saldo positivo do ano passado, com superávit de mais de US$ 8 bilhões fez com que Goiás saltasse da 11ª colocação do ranking nacional para a 8ª posição. Em 1999, Goiás era o 16º Estado exportador e, no primeiro semestre de 2000 já tinha subido para o 14º lugar.

Comparado com 2021, no ano passado o Estado teve um aumento de 51,5% no número de bens e produtos exportados, de acordo com os dados divulgados pela Secretarias de Desenvolvimento e Inovação (Sedi) e pela Secretaria de Indústria e Comércio (Sic), a partir de levantamento do governo federal. O número equivale a um salto de US$ 9,3 bilhões para US$ 14,1 bilhões do faturamento com as exportações goianas.

Pelos dados preliminares da Sic aos quais o Jornal Opção teve acesso, a tendência é que os bons números se mantenham em 2023. No acumulado do primeiro semestre, a balança comercial goiana apresentou no período saldo positivo de quase R$ 4,5 bi. Nesse período, as exportações já somaram mais de R$ 6,9 bi.

E em Goiás, Rio Verde foi o município que mais exportou no ano passado: quase um terço de tudo que saiu do Estado com destino a outros países saiu da cidade localizada no Sudoeste Goiano. O ranking é seguido por Jataí (10,34%), Luziânia (4,33%), Barro Alto (4,25%) e Palmeiras de Goiás (4,16%).

Café “made in Goiás”

Em 2000, a Vascafé, do empresário goiano Vanderlan Alcântara Júnior, já exportava para os Estados Unidos. Nessa época, quatro produtos da empresa eram vendidos em solo estadunidense: café expresso, café a vácuo, além dos instantâneos cappuccino e café com leite. O escritório na Flórida foi aberto no fim da década de 90 e o público-alvo eram os brasileiros e latinos que viviam nos EUA. Isso já dizia a reportagem do Jornal Opção nos anos 2000.

Planta da fábrica da Vascafé em Quirinópolis | Foto: divulgação

No entanto, em 2005, a empresa fechou as portas naquele país por conta da baixa cotação do dólar, que inviabilizou os negócios naquele período. As exportações para a América do Norte só foram retomadas dez anos mais tarde, em 2015, quando a Vascafé enviou cinco toneladas de café especial em grãos para máquinas de expresso e em pó para a Flórida, onde até hoje mantém um escritório.

Com fábrica em Quirinópolis e escritório em Goiânia, atualmente, a empresa destina cerca de 10% de sua produção à exportação para os Estados Unidos e a Polônia. “O público brasileiros nesses países se identificam com a marca e consomem nossos produtos”, comentou o gerente geral da Vascafé, João Gabriel Basílio.

Do interior de Goiás, o produto já sai embalado e pronto para o consumo. O despacho é feito via aéreo ou marítimo, de acordo com a demanda. “Mandar de avião é mais caro, mas chega mais rápido”, explicou o gerente, que relatou também que a empresa analisa ainda a possibilidade de expansão para outros países, mas o foco mesmo é o mercado interno. “A burocracia limita bastante”, reclamou.

Moda goiana no mundo

Quando o Jornal Opção fez a reportagem sobre exportações, em 2000, a Sol e Energia já vendia biquínis e maiôs para os Estados Unidos, que até hoje é o principal destino da moda praia produzida em Goiás. “Desde 1994”, lembrou o diretor comercial da empresa, Antônio Fogaça Jr.

O diretor lembra que a maior dificuldade enfrentada foi a falta de conhecimento. “Ninguém sabia o que era exportação ou quais documentos que precisávamos”, destacou ao pontuar que a modelagem dos biquínis precisou ser refeita naquela época para entrar no padrão internacional.

Atualmente, a Sol e Energia participa de feiras internacionais de moda praia em cidades como Miami e Paris. Lá, novos clientes são captados. “É importante que o cliente pega na mão, conhece a qualidade do produto”, afirmou, que avalia Antônio que a aceitação do produto brasileiro lá fora é boa, por ter mais qualidade que o produto fabricado na China. “Nosso tecido tem mais qualidade e a nossa modelagem que encaixa melhor no corpo. Isso conta muito”, arrematou.

De 1994 pra cá, a moda já mudou muitas vezes. “As mulheres dos outros países têm buscado a modelagem brasileira”, disse Antônio. Assim, cada vez menos, a empresa goiana precisa alterar a modelagem do produto que é vendido no Brasil para exportar para outros países. Mas depende do lugar para onde o biquíni é vendido. “Por exemplo: a Califórnia e a Flórida aceitam muito bem a modelagem brasileira”, detalhou.

Moda praia produzida em Goiás é vendida para diversos países | Foto: divulgação/ Twitter

Apesar do mercado interno ser o que representa a maior parte do que é produzido pela empresa (apenas 5% do faturamento vem das exportações), o diretor comercial enumera ainda outros países que também já se adaptaram à moda praia brasileira, como Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, França e países da América Latina. A Sol e Energia tem clientes também na Israel, onde tudo que é fabricado precisa ser customizado.

Antônio relata que a Sol Energia já exportou mais. “É sazonal. A gente tem no máximo quatro meses de verão. É muito rápido e por isso a gente não tem um volume tão expressivo para garantir uma maior fatia do nosso faturamento”, contextualizou.

23 anos depois…

Além do café goiano, outros produtos saiam de Goiás rumo ao exterior. O mais curioso é o da Editora Terra, uma empresa apresentada na reportagem do Jornal Opção como “tipicamente goiana” que surgiu em Itumbiara, às margens do Rio Paranaíba. Produzia livros e CD-ROMs – hoje uma tecnologia obsoleta -, que eram exportados para países de língua portuguesa. Vendia ainda programas de computador para países como Japão, Alemanha e Estados Unidos. No entanto, em 2023, a reportagem do Jornal Opção não conseguiu contato com a empresa.

Outras empresas citadas na reportagem em 2000 foram a Tokleve Indústria e Comércio de Ortopedia, que exportava cadeira de rodas; a DEC International, que fornecia tanques de resfriamento de leite para a Europa; e a Romanesk Calçados, que vendia sapatos para Portugal, não atenderem as ligações.

Incentivo à exportação de manufaturados

Apesar do agronegócio ser a grande força motora que alavanca a balança comercial goiano, o Estado trabalho para impulsionar a exportação de produtos manufaturados. O secretário de Indústria e Comércio, inclusive, dá como exemplo, inclusive, que as confecções goianas, principalmente as da região da 44, já estão em contato com a África para exportação de roupas.

“Os empresários africanos estão interessados no nosso produto, mas as empresas precisam se adaptar para dar às roupas a identidade africana, com mais cor e adereços”, comentou Joel, que afirmou também que a secretaria tem ajudado nos trâmites burocráticos necessários para tornar as exportações possíveis.

Além disso, o titular da Sic afirmou ainda que, mesmo na agroindústria, é possível que Goiás ganhe mais exportando produtos beneficiados. Ele citou como exemplo uma planta industrial da Caramuru, que está sendo construída em Itumbiara, no Sul no Estado. Com investimento de R$ 250 milhões, lá deve ser produzida ração para peixes que deve ser exportada para os países asiáticos.

Até o artesanato goiano tem muito a ganhar com as exportações e o governo, segundo Joel Sant’Anna Braga, tem incentivado e ajudado o setor a exportar. E produtos típicos goianos, como os doces de Nerópolis, também podem, por meio de incentivos e adaptações, como a conquista de selos internacionais, pode também ser exportado para outros países.

Como exportar?

É preciso estar com a documentação em dia e atento às regras internacionais para exportar. Conhecimento sobre prazos e formas de envio também é necessário. Por isso, para “marinheiros de primeira viagem”, pode parecer algo complexo e distante demais da realidade local.

Justamente por isso, a orientação do secretário de Indústria e Comércio é procurar a Superintendência de Comércio Exterior da Sic, que fica localizado na Praça Cívica, no Palácio Pedro Ludovico Teixeira. “Nossos técnicos vão orientar e ajudar o pequeno e médio empresário interessados na exportação”, garantiu. Para mais informações, o telefone é o (62) 3201- 5583 e o horário de atendimento é das 8h às 12h e das 14h às 18h, de segunda à sexta-feira.

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