Delação premiada do senador Delcídio do Amaral, ex-líder do governo no Senado, confirma o que sempre se suspeitou: o ex-presidente estava por trás da CPI do Cachoeira

Quem mora em Goiás desde 2012 sabe que aquele não foi um ano tranquilo. No Congresso Nacional, uma CPI mista catalisou todas as atenções do país ao supostamente mirar em jogos eletrônicos clandestinos operados por Carlos Augusto de Almeida Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Foi um ano todo de idas e vindas e centenas de crises políticas e administrativas.

De tal modo que não é exagero algum afirmar que foi um ano perdido nesse ponto de vista.
Há pouco mais de uma semana, descobriu-se que 2012 não foi um ano perdido para os goianos, mas “roubado” politicamente por interesses nada republicanos. O senador Delcídio do Amaral, ex-líder do governo do Senado, em delação premiada após sua prisão preventiva na Operação Lava Jato, contou que por trás daquela CPI estava ninguém menos que o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Delcídio foi categórico nessa confissão: “a CPI foi incentivada por Lula para abalar o governador Marconi Perillo”, de quem se tornou desafeto desde que o goiano o alertou para o que estava acontecendo nos porões financeiros de seu governo, em 2003, e que se tornou depois o escândalo do mensalão.

Delcídio também revelou que essa CPI acabou melancolicamente tão logo se percebeu que as denúncias realmente pesadas, e que envolviam muito mais do que jogos clandestinos comandados por Carlinhos Cachoeira, a mais importante e atuante empreiteira do país naquele momento, a Delta, dirigida pelo empresário Fernando Cavendish, iriam desabar pesadamente contra o governo federal. Ou seja, a CPI incentivada por Lula, e executada por alguns parlamentares petistas, ultrapassou os limites do mero interesse político pessoal do ex-presidente, de desestruturar o governo de Goiás, e avançou em direção ao interesses republicanos, a investigação parlamentar foi encerrada rapidamente.

Não foram poucas as consequências do ano “roubado” politicamente para todos os goianos. No Estado, o governo gastou enorme energia para se defender de um vendaval de suposições quando poderia usar o mesmo empenho na busca por soluções administrativas para os problemas estaduais.

Mas não foi apenas a administração do governador Marconi Perillo que foi prejudicado pela ação política arquitetada pelo ex-presidente Lula. Os goianienses sentiram diretamente um terrível efeito em função do grande espetáculo de horrores armado na­que­la CPI. Com profundas e di­retas ligações com a Delta Cons­trutora, o prefeito Paulo Garcia, que estava em processo de reeleição em 2012 após ter herdado o governo goianiense com a desincompatibilização de Iris Rezende, nas eleições estaduais de 2010, apressou-se em romper todos os contratos com a empresa. O principal desses contratos era o serviço de limpeza, até então em funcionamento rotineiro e sem problemas. Ao ficar sem a Delta de um dia para o outro, a limpeza pública entrou em declínio, e uma fortíssima crise explodiu já no ano seguinte às eleições.

Em relação à Delta Construtora, o braço empresarial que acabou como merecedora do principal foco daquela CPI, o impacto negativo foi muito menor no âmbito estadual. A Delta havia mantido mais contratos com a administração anterior do que aquela iniciada em 2011 e comandada por Marconi Perillo, o desafeto que Lula queria atingir. Também as Prefeituras de Aparecida de Goiânia, com Maguito Vilela, e de Anápolis, com Antonio Gomide, conseguiram substituir os serviços que foram ou estavam sendo executados com a Delta sem maiores abalos. Grave mesmo foi a situação em Goiânia, onde a Delta estava instalada há muito mais tempo, e onde havia conseguido dominar praticamente todas as grandes obras, como o imponente viaduto da Praça do Chafariz, na Avenida 85, e o serviço de limpeza.

Quatro anos após, a CPI incentivada por Lula com o objetivo de atingir o governo de Goiás, conforme relatou Delcídio do Amaral, pertence ao passado. O objetivo de Lula ficou muito longe de ser atingido. Marconi Perillo não apenas foi eleito governador pela quarta vez, em 2014, como surgiu das urnas como principal agente político do Centro-Oeste brasileiro. Já o ex-presidente vive seu calvário, o pior de todos os momentos da vida política dele. Os goianos perderam um ano, mas conseguiram superar as dificuldades. Lula, ao contrário, bem que tentou abalar aquele que ele próprio elegeu como um grande adversário político, mas além de não ter conseguido, se debate agora para garantir ao menos algum futuro político. l