Mais um livro que Trump não deve ler
20 janeiro 2018 às 13h57

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Livro de jornalista questiona a capacidade de Donald Trump em exercer o cargo de presidente

O presidente dos Estados Unidos bem que tentou, mas não conseguiu impedir a publicação do livro “Fire and Fury — Inside the Trump White House”, que será lançado em português sob o título “Fogo e Fúria — Por Dentro da Casa Branca de Trump” pela editora Objetiva em 29 de março (já está em pré-venda).
De autoria do jornalista Michael Wolff, a obra conta os bastidores do governo Trump, que completou um ano no cargo no sábado, 20. Algumas revelações são bombásticas, como a fala de Steve Bannon, ex-estrategista-chefe do presidente, sobre o encontro de Donald Trump Jr. com enviados do governo russo: “traição” e “antipatriótico”.
Demitido da Casa Branca em agosto do ano passado, Bannon era considerado a verdadeira mente pensante do governo com o objetivo de pôr em prática a política da “América em primeiro lugar”. O livro de Wolff revela quem está encarregado da estratégia da Casa Branca após a demissão e descreve o motivo pelo qual Bannon e Jared Kushner, genro de Trump, não podiam estar na mesma sala.
Entre outras revelações, “Fogo e Fúria” narra o porquê da demissão do ex-diretor do FBI, James Comey, explica a motivação de Trump em afirmar que estava sendo gravado pelo ex-presidente Barack Obama e expõe a surpresa dele e de sua equipe com o triunfo nas eleições de 2016 — a ideia do republicano, segundo o livro, era de promover-se midiaticamente, mesmo sem vencer o pleito.
Já entre os assuntos menos sérios — e que talvez estejam entre os que mais dão repercussão a ajudem a entender a figura de Trump —, estão o hobby de paquerar esposas de amigos; adorar comer hambúrgueres da rede de fast food McDonald’s deitado na cama enquanto assiste à televeisão; ficar irritado com comentários sobre seu penteado — e quem os faz com frequência é Ivanka Trump, filha do presidente e que, conforme aponta o livro, tem a pretensão de se eleger a primeira mulher presidente dos Estados Unidos.
Ademais, Michael Wolff relata que o republicano, apesar de ser coautor, nunca leu “Trump — A Arte da Negociação” e não demonstra muita afinidade pela leitura. Sendo assim, “Fogo e Fúria” tende a ser mais um livro que Trump não vai ler.
Veracidade
Donald Trump costuma chamar de falso tudo o que lhe incomoda. Tanto é que chegou a criar o “Prêmio Fake News”, cujos “vencedores” tornaram-se públicos na quarta-feira, 17. Grandes veículos de comunicação, como “The New York Times”, “Washington Post”, “Time” e “CNN” foram “laureados” por suas “coberturas injustas”, de acordo com o presidente.
No caso do livro de Michael Wolff, as acusações de fatos inverossímeis persistem. “Vamos olhar com muita atenção para as leis do nosso país para que alguém que diga coisas falsas e difamatórias sobre outra pessoa tenha o que merece nos tribunais”, disse Trump, no último dia 10, acerca de “Fogo e Fúria”.
Michael Wolff frisa ter escrito a obra após entrevistar mais de 200 pessoas envolvidas diretamente com a campanha e o governo de Donald Trump. Uma delas, ressalta Wollf, foi o próprio Steve Bannon.
Em um trecho do livro, é destacado uma fala de Thomas Barrack Jr., um milionário e amigo do republicano, em que ele diz que o presidente “é não só um maluco, como um estúpido”. Em outro, a ex-conselheira da Casa Branca Katie Walsh afirma que “lidar com Trump é como perceber o que uma criança quer”. Mas Tanto Barrack quanto Walsh negam tais declarações.
O histórico do jornalista ajuda a instigar o debate a respeito da veracidade dos fatos apresentados no livro. Wolff é acusado, em obras anteriores e colunas de jornais assinadas por ele, de não só distorcer situações, mas também de criá-las. Ele mesmo já reconheceu não ser tão confiável assim, o que dá munição para os apoiadores de Trump, fazendo com que a esperança de muitos de seus opositores com o livro que poderia derrubar o presidente seja enfraquecida.
Série
“Fogo e Fúria” será adaptado em série de televisão, segundo a revista especializada “Variety”. A produtora Endeavor Content comprou os direitos do livro, mas ainda não há nenhum estúdio oficialmente ligado ao projeto, que terá o próprio Michael Wollf como produtor executivo.