A Avenida Bernardo Sayão, localizada no Setor Centro-Oeste de Goiânia, já foi referência nacional no comércio de confecções, reunindo lojistas e compradores de diferentes regiões do país. Nos anos 1990 e início dos anos 2000, a via era um dos principais motores da economia local, atraindo ônibus de sacoleiros, comerciantes do atacado e clientes do varejo. A movimentação intensa gerava vitalidade para toda a região, mas, com o tempo, a força comercial da Bernardo Sayão começou a perder espaço para novos polos.

Em 2017, o Jornal Opção mostrou em uma reportagem que, dos 2,2 mil imóveis comerciais da região, 800 estavam de portas fechadas. Já em 2020, outra reportagem do jornal revelou que, por conta da pandemia e dos preços elevados na Região da 44, o comércio da Bernardo Sayão começou a ressurgir — um movimento que, mesmo lento, perdura até hoje.

Na última quarta-feira, 17, por volta das 10h, a reportagem esteve no local e constatou a ausência de clientes nas calçadas e lojas praticamente desertas. Em poucos minutos de caminhada, também foi possível observar diversos pontos comerciais com placas de aluguel, alguns permanecendo assim há mais de um ano, segundo informações.

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Ponto comercial para aluagar | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

O surgimento da Avenida 44, mais estruturada em termos de logística, hotéis e estacionamento, atraiu gradualmente lojistas e consumidores, esvaziando a tradicional Bernardo Sayão. O que antes era uma rua pulsante de gente e negócios se transformou em cenário de calçadas tranquilas, lojas fechadas e movimento limitado quase exclusivamente ao tráfego de veículos. Para muitos comerciantes, a história se repetiu: a Bernardo Sayão havia substituído a Avenida 85 como centro da moda em Goiânia e, agora, sofria o mesmo destino diante da ascensão da 44.

Apesar das dificuldades, parte dos empresários mantém esperança em uma retomada. O avanço do comércio eletrônico após a pandemia reconfigurou o perfil de consumo, mas também abriu espaço para uma reorganização no setor. Aluguéis mais baratos e lojas mais amplas, em comparação com os espaços caros e limitados da 44, voltaram a atrair comerciantes. Ainda que tímido, o movimento de retorno à Bernardo Sayão se sustenta na busca por custos operacionais menores e maior conforto para lojistas e trabalhadores.

Nesse contexto, lideranças empresariais e o poder público discutem alternativas para revitalizar a região. Enquanto comerciantes pedem apoio em infraestrutura e incentivos para reaquecer o comércio local, a Prefeitura de Goiânia e a Sedicas afirmam trabalhar em estudos técnicos e projetos de reorganização do comércio de rua. A avenida, que já viveu dias de glória e hoje enfrenta um cenário de reinvenção, pode estar diante de um novo ciclo, impulsionado pela combinação entre vendas online, custos competitivos e a necessidade de adaptação a um mercado em constante transformação.

Lojistas relatam que o comércio da 44 esvaziou a Bernardo Sayão, mas há um movimento de retorno

Com mais de três décadas atuando no ramo de moda praia, Odília Tavares de Souza avalia que a Avenida Bernardo Sayão, em Goiânia, passa por um processo de renovação no comércio de confecções.

Segundo a empresária, a transformação no perfil de consumo foi decisiva para o setor. Antigamente era tudo presencial, por isso você via muita gente circulando nas ruas. Mas, de uns cinco ou seis anos pra cá, principalmente depois da pandemia, o atendimento voltou muito para o online. Nem sempre você vê movimento na loja, mas isso não significa que ela não está vendendo, porque o online também sustenta.”

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Odília Tavares: antigamente era tudo presencial, por isso você via muita gente circulando nas ruas” | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Ela destaca que o público da região busca diferenciais em relação a outros polos. O cliente daqui é diferenciado, procura qualidade e conforto. O preço pode até ser maior que na 44, mas a mercadoria tem mais qualidade e a compra é feita em uma loja climatizada, com estrutura e comodidade.”

Na comparação com a região da 44, Odília ressalta vantagens para lojistas e trabalhadores. “Aqui o aluguel é menor, as lojas são maiores e mais confortáveis, até para o trabalhador. Na 44, muitas vezes, o espaço é pequeno, sem banheiro. Por isso, muitos empresários estão voltando para cá, ainda mais com as vendas online, em que o cliente só vem retirar.”

A empresária reconhece também o papel do poder público na revitalização da avenida. “Durante muito tempo o poder público olhou só para a 44, mas agora voltou a dar mais atenção para a Bernardo Sayão, com sinalização, trânsito e até divulgação das lojas. Isso ajuda bastante, porque a Bernardo Sayão continua sendo o maior polo de confecção de Goiânia.”

Atualmente, segundo ela, metade das vendas ainda ocorre de forma presencial. “Hoje, nossas vendas presenciais ainda representam cerca de 50%. Mas o online é muito forte, principalmente no atacado, que atende mais fora de Goiânia.”

Confiante no futuro, Odília acredita que a Bernardo Sayão deve recuperar seu protagonismo. Eu acredito que a avenida vai voltar a ser o que era. Tenho essa esperança porque sou lojista aqui e também na 44, e a Bernardo Sayão supera em vendas três vezes o que a loja da 44 vende. Nem sempre circulação de pessoas significa vendas. O que precisamos é que o poder público continue apoiando, porque sempre ajuda.”

Rodrigo Rogério Maximiano, comerciante do ramo de moda feminina no atacado, relembra os tempos em que a Avenida Bernardo Sayão, em Goiânia, era ponto de grande fluxo de clientes. Hoje, a realidade é bem diferente.

“A minha esposa já está no ramo há 18 anos, sempre aqui na Bernardo Sayão. Quem conheceu essa avenida cheia de gente sente falta, principalmente daquele calor humano. Hoje ela parece uma rua deserta”, afirmou.

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Rodrigo Rogério: “a gente teve que se reorganizar, se reestruturar” | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Segundo ele, a pandemia acelerou mudanças no comércio. “A gente teve que se reorganizar, se reestruturar. O cliente de porta hoje é muito pouco, então precisamos trabalhar muito no online. Mais de 80% das nossas vendas hoje são virtuais, contra 20% presenciais. Antes era o contrário.”

Apesar da adaptação, Rodrigo destaca a saudade do contato direto com os clientes. “Faz falta aquele movimento no varejo, muita gente entrando, a emoção da venda presencial. A avenida tinha mais vida, mais coração batendo forte.”

Ele critica ainda a falta de atenção do poder público à região. “O sentimento é de abandono. Promessas sempre existiram, principalmente em época de eleição, mas efetivamente pouca coisa mudou. Hoje o que vemos são muitas lojas fechadas.”

Mesmo diante das dificuldades, o comerciante mantém esperança. “A gente sabe que não vai ser como dez anos atrás, mas acordamos todos os dias com alegria e expectativa de receber clientes na loja. O desejo é equilibrar essa balança, trazer de novo o cliente de Goiânia, porque o custo de manter a loja aberta continua existindo.”

Com mais de 30 anos de experiência no setor de vestuário e produção de jeans e malhas, o empresário Rogério Pereira avalia as transformações no comércio de moda em Goiânia, especialmente na Avenida Bernardo Sayão.

Ele relembra sua trajetória, que começou na Feira RIP, na Avenida Goiás, onde permaneceu por 23 anos, e comenta os motivos da mudança para a região atual. Segundo Rogério, o principal fator foi o custo operacional.

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Rogério Pereira: “acredito que aquele público de antes não volta mais” | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

“O que me atraiu para a Bernardo Sayão não foram as vendas presenciais, mas sim o valor do aluguel. O custo operacional na região da 44 ficou muito elevado, principalmente porque o mercado migrou para o online. Hoje, a Bernardo Sayão oferece espaços amplos com valores mais acessíveis, ideais para montar showroom e atender presencialmente”, afirmou.

O empresário explica que, apesar da queda no fluxo de clientes, a avenida segue como alternativa para quem busca lojas maiores. “A Bernardo Sayão teve uma decadência há alguns anos, mas os aluguéis mais em conta atraíram lojistas da 44. Muitos, como eu, mantêm pontos lá, mas também expandiram para cá”, disse.

Ele destaca que a dinâmica do comércio mudou e dificilmente voltará ao modelo tradicional. “Acredito que aquele público de antes não volta mais. O que existe hoje é um novo formato de mercado, impulsionado pelo online. Tanto a 44 quanto a Bernardo Sayão precisaram se reinventar”, avaliou.

Apesar disso, Rogério ressalta que o movimento de veículos na avenida ainda garante alguma presença de clientes físicos. “O fluxo de carros atrai pessoas para as lojas, mas o grande atacado que movimentava Goiânia não existe mais como antes. Hoje qualquer pessoa compra de onde estiver e recebe em casa, com prazo de troca e comodidade”, completou.

Com mais de três décadas de atuação na Avenida Bernardo Sayão, em Goiânia, o comerciante Geraldo recorda os tempos de movimento intenso no polo de confecções e compara com a realidade atual.

“Só esta loja aqui tem mais de 30 anos. Eu já cheguei a ter três lojas, com dez funcionários no total. Hoje, trabalho apenas com dois, porque a movimentação caiu muito”, contou. Geraldo pediu para não ser identificado com foto.

Segundo ele, o auge da Bernardo Sayão aconteceu quando a região se consolidou como centro de confecções, atraindo lojistas e clientes de várias partes do país. “Naquela época, tinha muita roupa de quilo do Sul e a avenida encheu de lojas. O que era o polo da 85 acabou migrando para cá. Mais tarde, a mesma coisa aconteceu com a 44, que atraiu o público por causa da logística, dos hotéis e do espaço para ônibus. Isso quebrou a Bernardo Sayão”, explicou.

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Ponto para alugar | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Geraldo lembra ainda que o custo de manter lojas era alto, mas compensava pelo retorno. “Eu cheguei a pagar pelo ponto de uma loja o valor de uma caminhonete Hilux. Hoje, se fosse depender só das vendas, eu passaria fome”, afirmou.

Para ele, as propostas de revitalização da prefeitura não trarão de volta o antigo cenário. “Isso aqui não vai voltar a ser o que era. A avenida precisa se reinventar. Hoje já não é só roupas, tem oficinas, lanchonetes, salões de beleza. A prefeitura deveria olhar para essa diversificação, porque o problema não é só de gestão pública, mas de costume do consumidor. Ele vai aonde é mais fácil, onde tem hotel e infraestrutura para receber”, concluiu.

Franciane Braz Teodoro, que atua no ramo de confecção na avenida Bernardo Sayão há 14 anos, afirma que o comércio local sofreu uma queda de cerca de 40% desde a pandemia. “Bastante, é uns 40% a menos”, disse.

Segundo ela, a crise política e a falta de incentivo governamental contribuíram para a situação. “Eu creio que é crise política. Antes eu tinha oito costureiras, hoje só tenho duas. As costureiras têm auxílio do governo, mas não querem trabalhar mais”, relatou.

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Franciane Braz e o esposo, Marcos Willian: “hoje não tenho nenhum funcionário” | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

Franciane destacou ainda a dificuldade em encontrar mão de obra. “Hoje não tenho nenhum funcionário. Já tive três vendedoras, agora vendo sozinha. O que eu vendia com três, eu vendo sozinha”, disse.

Com as vendas presenciais em queda, ela passou a concentrar suas operações online, atendendo principalmente clientes de outros estados, como Pará, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso. “Eu mesmo, com meu jeito de conversar e carisma, consigo vender”, explicou.

A empresária também comentou sobre a situação da própria avenida: “Aqui ficou esquecida pelo poder público. A prefeitura tem que se envolver para ajudar a avenida a voltar ao que era antes. O foco sempre foi a 44, mas nem lá está tão bem”, avaliou.

Franciane trabalha com moda feminina em geral, incluindo blusas, vestidos e macacões, mas afirma que mesmo diversificando os produtos, as vendas continuam difíceis. “Tinha que inventar alguma coisa, porque tá tenso”, concluiu.

Júlio César Rios, comerciante com 20 anos de experiência na Bernardo Sayão, avalia que a região perdeu importância após o surgimento da Avenida 44. “Antes era muito bom, mas veio a 44 e acabou com o comércio da Bernardo Sayão. De lá para cá, quem sobrevive aqui é quem mexe com venda online”, afirmou.

Segundo ele, o deslocamento de clientes e investimentos para a 44 prejudicou a infraestrutura local. “Lá tem hotel, estacionamento, tudo. Aqui não tem nada, é tudo na rua. Quem der conta continua; se não der, vai para 44”, disse.

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Júlio César Rios: “o polo de confecção da Bernardo Sayão acabou” | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

A pandemia trouxe um leve movimento de retorno devido aos aluguéis mais baixos. “Hoje você vê esse tanto de loja aberta aqui. Teve pior, agora melhorou um pouquinho. O aluguel aqui está atraindo algumas pessoas, mas quem sobrevive mesmo é quem vende pela internet”, explicou.

Júlio César também criticou mudanças na Feira HIP, que, segundo ele, favorecem a 44. “Se você fala isso lá, até o presidente da associação manda calar a boca”, contou.

Para ele, não há mais solução para competir diretamente com a Avenida 44. “O polo de confecção da Bernardo Sayão acabou. Para melhorar, teria que ser algo muito inovador, porque os empresários fortes foram todos para lá”, concluiu.

Revitalização do comércio na Bernardo Sayão com portal, calçamento e ações de divulgação

O presidente da Associação Comercial e Industrial da Bernardo Sayão (ACIBS), Márcio Rosa, afirma que o polo de confecções passa por um processo de retomada após anos de declínio. Segundo ele, a entidade tem trabalhado em parceria com lojistas, prefeitura e vereadores para recuperar a força comercial da região.

“Assumi a associação há um ano e meio, mas sou lojista há 25 anos. Vi o auge da Bernardo Sayão e o declínio. Após a pandemia, muitos lojistas estão voltando e conseguimos filiar mais de 70 empresários”, destacou.

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Márcio Rosa: “já estivemos reduzidos a 600 ou 800 lojas abertas” | Foto: Acervo pessoal

Entre as ações já implementadas, Rosa cita sorteios de carros e motos, campanhas de divulgação e estacionamento exclusivo para ônibus de excursão. Ele ressalta que o aluguel mais acessível e a estrutura das lojas também têm atraído comerciantes que haviam migrado para a região da 44.

“Na 44, o lojista paga aluguel alto e condomínio. Na Bernardo Sayão, encontra lojas maiores, mais confortáveis e com valores mais baixos. Além disso, já temos estacionamento para mais de 40 ônibus”, disse.

O dirigente adiantou que está em andamento o projeto de revitalização da avenida, que inclui a construção de um portal, calçadas padronizadas, iluminação em LED e retirada da fiação aérea. A obra será viabilizada com apoio da prefeitura e de emenda impositiva.

“Já levei o ofício à prefeitura e foi assinado. O projeto está em elaboração e a previsão é que em seis a oito meses já esteja sendo executado”, afirmou.

Márcio Rosa também destacou a necessidade de modernização das fachadas antigas e aposta que a iniciativa privada acompanhará os investimentos públicos. “Quando o lojista vê a melhoria, também reforma sua loja. Hoje já é possível observar obras e reformas em andamento.”

Sobre o impacto do comércio eletrônico, o presidente reconhece que as vendas online representam 60% do mercado, mas acredita que o presencial continuará forte. “Muitos clientes de outros estados compram pela internet, mas também vêm pessoalmente duas ou três vezes ao ano. Nosso papel é criar atrativos para mantê-los presentes, como sorteios, praças de alimentação e eventos”, explicou.

Atualmente, a Bernardo Sayão conta com cerca de 1,6 mil lojas em funcionamento, segundo levantamento da ACIBS. “Já estivemos reduzidos a 600 ou 800 lojas abertas. Hoje a realidade é outra. A Bernardo Sayão segue como um dos maiores polos atacadistas do Brasil e vamos trabalhar para que volte a ser referência nacional.”

Alta nos aluguéis da 44 pode ressuscitar avenida Bernardo Sayao

O presidente do Sindicato das Indústrias de Confecções de Roupas em Geral de Goiânia (Sinroupas) e da Associação Goiana das Indústrias de Confecções e Correlatas (Agicon), Edilson Borges, avalia que o comércio da Avenida Bernardo Sayão está passando por um processo de retomada.

Segundo ele, o movimento ocorre em razão da alta dos aluguéis na região da Rua 44, que tem feito lojistas migrarem de volta para a Bernardo Sayão.

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Edilson Borges: “a avenida enfrenta desvantagens em relação à 44” | Foto: Acervo pessoal

“O comércio da Avenida Bernardo Sayão está ressurgindo lentamente. Os aluguéis na 44 andam muito elevados e o pessoal já está mudando, voltando aos poucos para a Bernardo Sayão. Mas não é rápido, é devagar”, explicou.

Borges destacou que esse movimento é reflexo da sazonalidade do setor da moda em Goiânia, marcada por deslocamentos históricos de polos comerciais.

“A indústria da confecção começou na T-2. Quando os aluguéis ficaram caros, o pessoal foi para a 85. Depois, os preços subiram lá também, sem estacionamento adequado, e a opção passou a ser a Bernardo Sayão. O comércio cresceu muito, mas quando entrou em alta, os donos dos imóveis aumentaram demais os aluguéis. Foi quando surgiu a 44, com preços inicialmente baixos. Só que hoje a 44 também está esvaziando pelo mesmo motivo: aluguel muito alto”, disse.

Para o líder do setor, a mudança no comportamento do consumidor e o crescimento do comércio eletrônico após a pandemia também impactaram fortemente o fluxo nas ruas.

“Com a venda online, depois da pandemia, as coisas mudaram. Hoje, as empresas vendem 50% ou mais pela internet. Isso reduziu a necessidade de abrir lojas físicas. Até a 44 sofreu queda nas galerias. Além disso, plataformas como Amazon e Shein estão em Goiânia, captando indústrias para vender nos seus sites, o que diminui ainda mais a venda presencial”, avaliou.

Apesar da retomada gradual na Bernardo Sayão, Borges ressalta que a avenida enfrenta desvantagens em relação à 44, principalmente pela falta de estacionamento para ônibus e compradores.

“A 44 tem a vantagem de estar em frente à rodoviária e oferecer vagas de estacionamento nas galerias. A Bernardo Sayão sempre teve um problema sério nesse aspecto, que a prefeitura nunca conseguiu resolver”, observou. Ele também aponta que faltou apoio do poder público e iniciativa dos proprietários de imóveis para revitalizar a região.

“Já houve vários projetos para a Bernardo Sayão, mas nenhum vingou. O setor da moda precisa de locais atraentes. Ninguém entra em uma loja feia. Os donos dos imóveis deveriam reformar, modernizar fachadas, criar prédios chamativos. Mas eles só pensam em cobrar aluguel”, criticou.

Mesmo com os desafios, Borges reconhece que ainda existem lojistas tradicionais que resistem no local. “Tem compradores que preferem a Bernardo Sayão, gostam de andar de loja em loja na rua. Outros já buscam a comodidade e segurança dos shoppings. Existe público para os dois. Mas é fato que a venda online cresceu demais e mudou a lógica do comércio”, concluiu.

Mabel fala em revitalizar a Bernardo Sayão

O prefeito Sandro Mabel (UB) falou em entrevista ao Jornal Opção sobre a situação da Avenida Bernardo Sayão, destacando a necessidade de revitalização da região. Segundo ele, a área, que sempre foi um polo importante na confecção.

O prefeito explicou que existem projetos para revitalizar a avenida, citando como exemplo a experiência na Avenida 44, que enfrentava altos índices de desocupação.

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Pouco clientes nas ruas | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

“Nós revitalizamos aquela área da 44 que estava morrendo porque tinha mais de 30% de desocupação. Por causa da bagunça de camelôs, o cliente não conseguia. Então nós entramos. Ninguém teve coragem de fazer aquilo, mas nós não tiramos o camelô da rua, nós assentamos o camelô no lugar certo. Fizemos uma barraca gratuita para a feira. O comerciante podia escolher uma loja dentro de uma das galerias, agora na rua não fica mais”, explicou.

Ele ressaltou que a Bernardo Sayão precisa passar por um processo semelhante de modernização. “É o mesmo caso da Bernardo Sayão. Ela precisa evoluir. É uma rua que precisa crescer. Podemos dinamizar muito mais, dar mais treinamento, modernizar, trazer uma outra forma de organização”, disse, citando também a situação do bairro Campinas, que enfrenta problemas semelhantes.

O prefeito ainda comentou sobre medidas recentes em outras regiões, como a 24 de outubro e o centro da cidade. “Fizemos a 24 de outubro, e o comerciante notou a melhora. No centro da cidade, a Rua 8, que estava totalmente abandonada, hoje é uma rua viva, com restaurantes, iluminação, policiamento. Fechamos uma parte da rua para lazer. São ações que você vai fazendo para a cidade”, disse Mabel, acrescentando que pretende aplicar o mesmo modelo na Bernardo Sayão.

Sedicas frisa que existe estudos técnicos voltados à construção de soluções viáveis para a região

Procurada, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Indústria, Comércio, Agricultura e Serviços (Sedicas) ressaltou que a atual gestão da Prefeitura de Goiânia tem empreendido esforços consistentes para promover o reordenamento do comércio de rua na capital, por meio de iniciativas que asseguram a regularização da atividade de ambulantes, em conformidade com o que dispõe o Código de Posturas do Município.

Em relação à Avenida Bernardo Sayão, a pasta esclareceu que o esvaziamento das salas comerciais é um fenômeno que se arrasta desde gestões anteriores. Nesse sentido, a Sedicas informou que se encontra em fase de estudos técnicos voltados à construção de soluções viáveis para a região.

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Lojas fechadas | Foto: Guilherme Alves/Jornal Opção

As medidas, segundo a secretaria, serão definidas de forma participativa, em diálogo com a associação de lojistas, entidades representativas do setor e demais órgãos competentes, uma vez que a retomada da dinâmica comercial da Bernardo Sayão exige a soma de esforços institucionais e coletivos.

ACIEG prepara projeto de revitalização do comércio na Bernardo Saião

Rubens Fileti, presidente da Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás (ACIEG), falou sobre a atual situação do comércio na Avenida Bernardo Saião, em Goiânia, um antigo polo de confecções que hoje enfrenta queda de movimento.

“Todo mundo sabe que ali foi assim muito pujante, o polo comercial de confecção. Hoje, praticamente deserto. A gente anda pelas ruas lá e só vê veículos passando para lá e para cá”, disse Fileti.

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Rubens Fileti: “temos os heróis da resistência” | Foto: Divulgação

O presidente explicou que a ACIEG tem se envolvido em iniciativas de revitalização urbana e comercial. “Estamos apoiando agora até o prefeito Sandro Mabel na questão de revitalização do centro e de alguns outros polos. Ali é meio que um eixo do centro com a Avenida 44. A região melhorou um pouco, mas, pelo cenário econômico, incerteza e falta de crédito, acabou sofrendo uma queda novamente.”

Apesar das dificuldades, ainda existem comerciantes que resistem. “Temos os heróis da resistência, que são comerciantes que têm loja própria ou imóvel próprio, tentando manter um caminho diferente do polo da Avenida 44. Também há um polo de joias e semijoias muito forte ali”, afirmou Fileti.

Ele detalhou o projeto que será apresentado à Prefeitura. “Temos um projeto que será apresentado ao prefeito Sandro ainda no final de outubro. A ideia é criar uma rota efetiva do varejo goiano, unindo a Bernardo Saião, a Avenida 44, a 24 de outubro e o centro da cidade, trazendo também a parte do comércio eletrônico, o e-commerce.”

Fileti destacou a importância do contato físico com as lojas. “Apesar do crescimento do e-commerce, há um movimento dos consumidores voltarem às lojas, de ter contato com o vendedor e com a mercadoria. Vamos aproveitar esse momento para revitalizar a região, como fizemos na Castelo Branco, e implementar melhorias em trânsito, sinalização e infraestrutura.”

Sobre o cronograma, Rubens explicou: “Estamos conversando com alguns lojistas e com a associação da Bernardo Saião, presidida pelo Márcio Rosa, que faz parte da nossa federação. A previsão é apresentar o projeto ao prefeito no final de outubro.”

Questionado se o objetivo é restaurar o comércio como era antes, Fileti afirmou: “O polo varejista vai manter o comércio de roupas e a parte de joias e semijoias, que é muito forte ali. Mas haverá diversificação, integrando diferentes segmentos e modernizando o comércio da região.”

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