Lojistas da Bernardo Sayão comemoram recuperação em meio à crise
26 agosto 2020 às 16h58
COMPARTILHAR
“Movimento existe onde tem internet”, diz presidente de associação da Bernardo Sayão, que encontrou na pandemia remédio para crise da região
Um polo que havia sido esquecido por conta da ascensão da Região da Avenida 44, a Bernardo Sayão pré-pandemia era triste de se ver. Portas fechadas, anúncios de aluguéis, ruas vazias. Muitos acreditavam que o tradicional local de compras em Goiânia havia chegado ao seu apocalipse.
O que não se esperava, nem mesmo nas mentes mais otimistas, era que os comerciantes locais encontrariam exatamente na crise ocasionada pelo coronavírus a solução para seus problemas. De acordo com Cairo Mayron, presidente da Associação Comercial e Industrial da Bernardo Sayão e Região, desde a retomada das atividades econômicas na capital, 600 lojistas do local reabriram suas portas.
“A tendência é que aumente mais, porque a gente sabe que os locais em que eles estavam os donos de alugueis não querem negociar ou baixar o aluguel…”, apontou.
Quando se transita pelas ruas da região, já é possível perceber que a movimentação de carros está bem mais intensa que antes da pandemia. A oportunidade de se refazer no mercado fez com que os comerciantes buscassem oferecer aos clientes o que procuravam e não encontravam em outros locais.
“A Bernardo Sayão oferece segurança 24 horas por dia, pois a Polícia Militar está sempre lá. Temos um grupo de Whatsapp que funciona 24 horas por dia e qualquer atitude suspeita a polícia chega em um minuto. Oferecemos aos clientes e aos vendedores um ambiente com maior comodidade e conforto. Eles pagavam dois mil, cinco mil, dez mil reais por espaços ínfimos, de dois por dois ou quatro por quatro. Não chega perto do que a Bernardo Sayão oferece, que são espaços de 300, 400 e 500 metros”, enumerou.
No entanto, o verdadeiro diferencial, para além das lojas mais amplas e confortáveis, está o advento da internet. “Procuramos trabalhar com os corretores de moda. Para se ter ideia, um corretor consegue atender 15 clientes em um dia”, conta Cairo. Os corretores vão presencialmente às lojas e são intermediados por redes sociais, como facebook ou whatsapp e até mesmo ligações por vídeo, onde o cliente pode ver e escolher o produto de outra cidade ou estado com o corretor na loja.
“São mais de 400 corretores e se eles atendem 15 clientes em um dia teremos uma porcentagem significativa para que os clientes não precisem vir à Bernardo Sayão. Eles ficam no Acre, Amapá, Pará… o fato de eles não precisarem vir evita aglomerações”, afirma o presidente.
“O sistema mudou. Se você já foi a uma loja e agora tem alguém para te assessorar, acha que precisa voltar até aquele local? O corretor, lojista ou vendedores podem mandar fotos de produtos novos pela internet e vão te mostrar os produtos. De lá do estado onde você mora, vai escolher o que quer. Isso ocorre no mundo inteiro. A pandemia veio para mudar essas coisas e não tem volta. É permanente”, conta.
“Agora as pessoas aprenderam que não precisam gastar R$50 ou R$100 reais de táxi, ou até mesmo R$1 mil de ônibus ou avião, para fazer compras se ela tem a comodidade de fazer tudo de dentro da própria casa. Se o cliente novo quiser ir na avenida, comprar ou conhecer, vai ter espaços amplos, cômodos e com segurança para fazê-lo”, acrescentou Cairo.
Ajuda aos comerciantes
Cairo contou ao Jornal Opção que alguns meses após a pandemia, ele se reuniu com os lojistas para procurar soluções acessíveis para manter o funcionamento do comércio no local. Entre os benefícios que a entidade conquistou para seus membros, estão “carência no aluguel, aluguel mais acessível, possibilidades de negociação para permanecer na Região e todas as possibilidades para que seu comércio se recupere mais rápido”, de acordo com ele.
“Cada uma das 600 empresas que voltaram tem, no mínimo, dois funcionários. Aí já temos 1.200 empregos. Cada confeccionista tem, no mínimo, cinco costureiras. Aí já são três mil. Nós já garantimos, então, cinco mil empregos”, comemora.
“Nossa visão é de que não existe um polo aqui e outro ali. Existe o polo da moda goiana, é um só. Nós apresentamos ao prefeito um projeto de Circuito da Moda. Vamos utilizar os corretores de moda e colocar micro onibus plotados para que o cliente tenha opção de buscar outros polos interligados para fazer a escolha de seus produtos e, assim desaglomerar. Eles vão circular. Com a circulação não precisa de todo mundo ficar amontoado em um mesmo lugar. Isso irá beneficiar todos”, contou.
Negócio do futuro
Com a internet como aliada, Cairo acredita que a tendência do presente se tornará costume no futuro. “No passado, se tinha ideia que movimento existe onde tem gente. Isso não existe mais. Movimento agora existe onde tem internet. Não necessariamente as pessoas precisam estar presentes fisicamente. Você pode me dizer que então não precisamos das lojas. Precisamos, sim. A loja precisa de um showroom para novos clientes e clientes locais, que são atraídos”, disse.
“Sempre acreditei que a Bernardo Sayão nunca morreria. A expansão da Bernardo Sayão não traz sufoco, pois ela se expande nas laterais e transversais. Não tem espaço limitado. Essa limitação é um grande problema.”
“A debandada que havia ocorrido da Bernardo Sayão se dá pela crise econômica e pela falta de estrutura de hotéis, que lá não tinha. Agora a situação mudou. As pessoas entendem que o processo on-line é o que funciona. Não precisamos mais ter um hotel dentro da loja ou vice-versa. Nessa retomada, em um contexto geral, todos vão ganhar”, avaliou.