O grande líder aceita bater chapa com Júnior Friboi; a dúvida agora é se o empresário continuará com a maioria do partido, principalmente os pretensos candidatos proporcionais

Cercado por correligionários peemedebistas, o ex-governador e ex-prefeito Iris Rezende anuncia à imprensa  que mais do que nunca está no jogo sucessório de outubro: "Eu sou pré-candidato e vou disputar convenção” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção
Cercado por correligionários peemedebistas, o ex-governador e ex-prefeito Iris Rezende anuncia à imprensa
que mais do que nunca está no jogo sucessório de outubro: “Eu sou pré-candidato e vou disputar convenção” | Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Cezar Santos

No final da manhã de sexta-feira, 4, o maior líder do PMDB, Iris Rezende, anunciou em seu escritório, no Setor Marista, que é pré-candidato ao governo do Estado. “Eu sou pré-candidato e vou disputar convenção.” O ato de Iris desmonta um discurso pronto e na ponta da língua dos adeptos da candidatura do empresário José Batista Júnior, o Júnior Friboi, ao governo pelo PMDB: necessidade de renovação.

A explicação mais forte para sustentar o argumento é de que nas quatro últimas eleições, o partido teve apenas dois nomes, Iris Rezende e Maguito Vilela, sendo derrotado em todas. Por isso, um nome novo, no caso Júnior Friboi, abriria novo tempo para o partido, dando ensejo para o discurso da renovação.

Se o argumento faz sentido até certo ponto, deixa de fazer quando se constata que a maioria absoluta de seus defensores estão com Friboi — que, por sinal, falou com muita naturalidade em gastar R$ 100 milhões na campanha — em nome de algo muito mais prosaico, ou seja, uma tal “estrutura” para campanha.

Estrutura para campanha nada mais é que dinheiro, grana, recurso financeiro. Sintomático que praticamente toda a bancada de deputados do partido, gente que vai disputar eleição ou reeleição na Assembleia Legislativa ou na Câmara dos Deputados, cerre fileiras na tropa de choque friboizista.

Não se está dizendo aqui que todos os integrantes da ala pró- Friboi como candidato do partido mirem única e apenasmente o dinheiro, mas a absoluta maioria sim. Um membro da chamada velha guarda lembrou, momentos antes de Iris anunciar que vai para a disputa, que gente que sempre caminhou com Iris, e que deve a ele tudo que conquistou na política, está com Friboi seduzido pelo dinheiro.

“Veja o Waguinho [deputado Wagner Siqueira], o Wolney Siquei­ra, o próprio Maguito Vilela, e muito outros, esse pessoal deve muito a Iris. E agora estão em outro projeto. É lamentável isso”, disse a fonte. A referência a Maguito se deve ao fato de que o prefeito de Aparecida, ao que consta, teve garantia de Friboi para “estrutura” da campanha do deputado Daniel Vilela, seu filho, à Câmara dos Deputados. Friboi também teria garantido recurso para a campanha à Prefeitura de Jataí, em 2016, do deputado federal Leandro Vilela, sobrinho de Maguito.

E de fato, a expressão do prefeito de Aparecida de Goiânia durante o anúncio de Iris era de visível incômodo. Maguito tinha sido guindado meio a contragosto à posição de mediador entre os grupos pró-Iris e pró-Friboi. Meio a contragosto sim, porque ele tinha uma clara preferência por um dos lados, mas teve de se curvar à força dos acontecimentos.

Um fato interessante é que Iris tentou falar com Júnior Friboi antes de fazer o anúncio, mas o empresário não atendeu às ligações. Por questão de consideração, de respeito até, Iris queria informá-lo pessoalmente de sua decisão. Iris afirmou que as conversações com Júnior Friboi serão mantidas, e que pretende continuar com a unidade com o empresário.

É digno de menção o trabalho do prefeito Paulo Garcia, que foi decisivo para que Iris anunciasse sua candidatura.

Certamente que Iris sentiu força no apoio de seu “pupilo” petista, que, afinal, comanda a maior prefeitura de Goiás. Não é pouca coisa.

Iris está abrindo mais duas batalhas em sua história de mais de meio século de grandes batalhas. Pri­meiro, contra o poderio financeiro de Júnior Friboi, numa luta interna para convencer os peemedebistas que já estão com o empresário. Uma luta nada pequena, posto que o oponente tem muita “bala na agulha”, como se diz popularmente.

Muitos integrantes do partido já se deixaram convencer, inclusive, repita-se, aliados históricos do ex-governador e ex-prefeito. Se vencer essa batalha, Iris entrará, então, numa segunda batalha mais dura ainda, a eleitoral propriamente dita. Será a batalha de enfrentar o candidato da base aliada governista, ao que parece, Marconi Perillo, um adversário que já o derrotou duas vezes no confronto direto (1998 e 2010).

Busca pela união

Há uma boa parte dos integrantes do PMDB que não pensa apenas em cifrões. O sentimento nessa ala é de temor que numa campanha com Friboi candidato, será escancarada a operação de financiamento do grupo JBS com dinheiro público via Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

É mais do que sabido que esse conluio com o governo federal serve não apenas para fortalecer um campeão empresarial, mas também para que parte dessa dinheirama seja drenada para as campanhas do PT. Não por acaso, a JBS foi o maior (ou um dos maiores) doador para a campanha da eleição de Dilma Rousseff. A exposição dessa realidade pode sim prejudicar o PMDB com um candidato tão profundamente enredado nessa teia como é Júnior Friboi.

Além disso, na semana passada o Frigorífico JBS, dono da marca Friboi, foi multado (mais uma vez) em R$ 2 milhões por más condições de trabalho em uma unidade no Maranhão. Existe um contencioso entre a empresa Friboi e os produtores rurais que certamente seria explorado de forma muito negativa na campanha, caso o empresário seja o candidato do partido.

Terá sido mera coincidência a homenagem da Sociedade Goiana de Pecuária e Agricultura (SGPA) a Iris Rezende na semana passada? Não, em política não existem coincidências nesse nível. A tradicionalíssima SGPA claramente disse não a Júnior Friboi e sim a Iris Rezende. Por sinal, a solenidade foi prestigiada pelo prefeito de Goiânia, Paulo Garcia.
O PMDB autêntico, digamos assim, entende que é melhor correr o risco de perder a eleição com Iris, mas preservando a tradição de ser um partido coerente com os postulados democráticos, de forma a poder continuar se apresentando como uma boa alternativa política e administrativa para o eleitorado goiano. Em outras palavras, com Iris o PMDB não será visto como um partido vendido, imagem que já estava se instalando no inconsciente coletivo.

O intento de Iris Rezende é continuar buscando a união das oposições, notadamente com o PT, que já é parceiro em outras eleições. Friboi tem de se convencer de que o processo político passa necessariamente por Iris Rezende, que tem muito mais condições de aglutinar tanto dentro do partido quanto com as outras siglas de oposição.

Por isso mesmo, o discurso agora é de união. Um fala do presidente do partido, deputado Samuel Belchior, é significativa nesse sentido: “A situação pode ficar preocupada, porque a oposição vai unida para a eleição de outubro.”

Friboi tem de construir sua história dentro do partido, assim como Iris construiu a sua desde que o PMDB foi criado. Não dá para chegar e se impor pela força do dinheiro. A história e a capacidade de liderança de Iris Rezende não podem ser menosprezadas por um adventício que não tem história na política, que nem sequer disputou um cargo eleitoral na vida. O recado da candidatura de Iris para Júnior Friboi é claro: em termos políticos, cresça e apareça.

O fato é que a pré-candidatura de Iris Rezende significa que o PMDB pode enfim resgatar um discurso ideológico. E desta vez, ele agiu diferente, pois anunciou que topa sim ir para a convenção, ao contrário de oportunidades anteriores. Esse posicionamento fortalece o ex-governador.

É uma resposta ao desafio que Friboi lançou há uns dois meses, quando disse que ele, Friboi, topava disputar com Iris a indicação na convenção do partido, em junho. O repto soou como uma provocação e os aliados de Iris entenderam exatamente assim. Então, se é assim, que vença o melhor para a história do PMDB e para o povo goiano.

Friboi não aparece, mas manda recado

O primeiro pré-candidato do PMDB ao governo de Goiás na eleição de 2014, que sempre enfatiza os laços de amizade que o unem a Iris Rezende, não compareceu ao anúncio do ex-prefeito. Mas divulgou uma “nota oficial” sobre o pronunciamento de Iris. Segue abaixo:

“Vejo com naturalidade a postulação de Iris Rezende. Acho que faz parte da democracia as disputas internas. Nos Estados Unidos isso é normal. Os candidatos disputam internamente e, no final, o perdedor apóia (sic) o vencedor. Espero que seja assim no PMDB. Essa disputa interna é um grande avanço no PMDB de Goiás. Pela primeira vez vai valer a vontade da base e não da cúpula do partido. Da minha parte podem esperar uma disputa sadia, de alto nível, de argumentos, e que no final prevaleça a vontade da maioria do partido. E estou confiante que o partido quer renovação, novas idéias (sic) e a possibilidade de voltar a vencer depois de 16 anos de derrotas. Não podemos nos esquecer em momento algum durante essa disputa interna que o verdadeiro adversário é aquele que está há 16 anos no poder sem conseguir fazer um governo à altura do povo Goiano.”

Att., Assessoria de Comunicação

Candidatura de Gomide depende de Lula
Gomide passa cargo a João Gomes: renúncia a três anos de mandato na prefeitura não garante candidatura ao governo
Gomide passa cargo a João Gomes: renúncia a três anos de mandato na prefeitura não garante candidatura ao governo

O prefeito de Anápolis, An­tônio Gomide (PT), cumpriu o que vinha prometendo há dias: renunciou a três anos de mandato à frente do executivo. Algumas horas depois do anúncio de Iris Rezende, Gomide se afastou oficialmente do cargo. Ou seja, o PT não mudou os planos. Com a renúncia, Go­mide também se torna pré-candidato ao governo.

A transmissão do cargo de chefe do Executivo anapolino para o vice João Gomes (PT) se deu num evento na Câmara Municipal de Anápolis sem mui­ta pompa. Compareceram ao ato o deputado federal Rubens O­to­ni, o presidente do PT goiano, Ceser Donizete, e os deputados estaduais Hum­berto Aidar e Carlos Kabral.

Gomide fez um breve balanço dos cinco anos em que esteve à frente da administração de Aná­polis. E declarou seu apoio e confiança em João Gomes. Se­gundo o agora pré-candidato a governador, a gestão municipal seguirá no mesmo ritmo.

Com isso, a pergunta que não quer calar: com a renúncia, Go­mide será mesmo candidato ao governo, sem volta? Depende de uma conjugação de circunstâncias. Depende principalmente de Lula da Silva. Por mais que Gomide, Otoni e Ceser Donizete digam que a candidatura petista ao governo será decidida em Goiás, não será. Por mais que o agora ex-prefeito tenha dito com veemência que só deixaria Anápolis para concorrer ao cargo de governador, o fato é que a decisão não cabe a ele.

A reeleição de Dilma Rous­seff é prioridade para o PT. Por enquanto, Lula quer Gomide no jogo principalmente para atrapalhar a candidatura de Marconi, tirando votos do tucano em Anápolis. Mas Lula pode entender que ceder a cabeça de chapa para o PMDB em Goiás é um bom negócio para a campanha de Dilma, que está perdendo pontos nas pesquisas de intenção de votos. E aí, não há dúvida que a vice ou a vaga ao Senado ficará de bom tamanho para Antônio Gomide.

Caso o PMDB opte pela candidatura de Iris Rezende, então, o caminho para essa composição é natural.