Jordana Mendonça é fundadora da ONG EcomAmor e já se encontra nos Estados Unidos para aprimorar suas habilidades de empreendedorismo social

As atividades da organização não governamental se concentram na instalação de hortas em escolas públicas

Marcelo Mariano

A goiana Jordana Mendonça teve seu projeto selecionado para participar de um programa do governo dos Estados Unidos que visa desenvolver liderança e empreendedorismo social em jovens de 21 a 35 anos de diferentes países da América Latina e do Caribe.

Criado no ano passado, ainda sob a presidência de Barack Obama, o Young Leaders of the Americas Iniative (YLAI) teve, neste ano, 3 mil inscritos, dos quais 250 de 36 países foram selecionados. Ao todo, serão 20 jovens líderes de 11 Estados brasileiros envolvidos no programa. E Jordana Mendonça é a única goiana nesta lista.

O YLAI tem duração de cinco semanas. Nos primeiros dias, os 250 selecionados participarão de uma conferência em Atlanta, na Geórgia, e depois seguirão em grupos de aproximadamente dez pessoas para uma cidade de acordo com o perfil de seus respectivos projetos. São 11 áreas, como educação, empoderamento feminino, meio ambiente, soluções financeiras e projetos habitacionais para a população de baixa renda, que definem onde cada um será alocado. O encerramento será em Washington, no Distrito de Columbia, por meio de uma reunião de cúpula no segmento de capacitação de lideranças e desenvolvimento de conhecimentos específicos.

Surpresa

Jordana Mendonça, que irá para Portland, no Oregon, tomou conhecimento do programa através de um amigo. Ao Jornal Opção, ela conta que ficou surpresa com o resultado. O processo seletivo se iniciou no final de março com o preenchimento de um formulário. Em maio, houve uma entrevista online e em julho os selecionados foram divulgados.

“A minha expectativa é de ver as experiências de outras pessoas e voltar sabendo gerir melhor o projeto com o intuito de envolver mais voluntários e desenvolver um senso de pertencimento”, diz Jordana, que expressa ainda a sua vontade em poder conseguir patrocínios e, consequentemente, fundos objetivando sustentar a ONG de uma maneira replicável.

De acordo com a goiana, a prefeitura de Portland já promove um trabalho de horta comunitária desde a década de 1970. “Vou aprender muito com eles”, frisa. Outro exemplo nos Estados Unidos é a cidade de Detroit, em Michigan, que sofreu duras consequências devido à crise econômica de 2008 e acabou tendo vários espaços vazios, acarretando no aumento da criminalidade. No entanto, Jordana considera Detroit, hoje, uma das principais referências no que tange à agricultura urbana justamente porque esses espaços passaram a ser ocupados pela comunidade.

Jordana embarcou para os Estados Unidos na terça-feira, 3, e permanecerá por lá até o dia 11 de novembro. Ela externa a preocupação do Departamento de Estado dos EUA em relação à formação de lideranças com a finalidade de privilegiar a diversidade e a inclusão social buscando reduzir desigualdades e aumentar a renda, tanto é que Ivanka Trump, filha do presidente Donald Trump, gravou um vídeo falando do eu trabalho voltando para esses temas. “A experiência tem sido muito rica. Conheci pessoas de vários países e diferentes culturas.”

Jordana Mendonça quer voltar dos Estados Unidos sabendo gerir melhor o EcomAmor

EcomAmor

Jordana Mendonça é formada em Direito e mestre em Re­lações Internacionais e De­sen­vol­vimento pela Pontifícia Univer­sidade Católica de Goiás (PUC-GO). O seu tema de mestrado foi políticas públicas e segurança alimentar. A partir de então, começou a se atentar para a qualidade da alimentação e a pensar em alimentos orgânicos, tendo trabalhado como voluntária da Worldwide Op­por­tunities on Organic Farms (WWOOF) nos Esta­dos Uni­dos e feito cursos de agricultura natural de uma linha espiritual japonesa no Peru e na Bolívia. “É um pouco diferente da agricultura orgânica, que fala em pragas e espantar bichos. A natural trata tudo como um conjunto e as ‘pragas’ são, na verdade, sinais de desequilíbrio do solo e da planta. Por isso, elas são aliadas e não as matamos”, ensina.

Em uma das atividades nos EUA, Jordana participou de uma horta comunitária com 64 famílias de baixa renda, cuja maioria era mexicana. Quando voltou ao Brasil, no final de agosto do ano passado, teve certeza de que era com isso que queria mexer. “Era incrível ver as pessoas se unindo e criando um senso de comunidade, de trabalhar junto, de falar em alimentação saudável e como isso impacta as crianças.”

Inspirada por essa experiência, a goiana publicou no grupo “Clube dos Orgânicos”, criado por ela em 2014 no Facebook, perguntando se alguém conhecia um lugar onde poderia ser feita uma horta. As pessoas foram se envolvendo rapidamente e, um mês depois, foi realizado o primeiro mutirão da EcomAmor, no Setor Pedro Ludovico. No início, eram apenas 12 voluntários e Jordana lembra que, por ter sido em época de eleição, as pessoas estavam um pouco desconfiadas, mas ela garante que o projeto é apartidário.

Os mutirões são bem dinâmicos. Geralmente, começam às 8 horas e terminam às 13 horas. Atualmente, são cerca de 100 voluntários e, até o momento, o grupo já instalou 15 hortas, além de ter organizado duas oficinas e um dia de campo em assentamento.

“Com o crescimento, vimos a necessidade de formalizar para facilitar parcerias e doações, como insumos, mudas e até mesmo dinheiro”, sublinha. O CNPJ já está pronto. Contudo, a EcomAmor ainda está em busca de uma sede física. Hoje, eles atuam em redes sociais como Facebook, Instagram e, principalmente, WhatsApp, além de um site próprio.

Escolas públicas

A organização, ressalta Jor­dana, tem enfoque na instalação da horta, mas a manutenção deve ser feita pelas pessoas da comunidade que a receberam. Neste momento, as atividades têm se concentrado em escolas públicas, em parceria com a Escola Resíduo Zero, um projeto que capacita professores para que transformem resíduos orgânicos em adubo por meio da compostagem. “Eles entraram em contato conosco e faz todo o sentido fechar o ciclo de trabalho e utilizar o resultado da compostagem na horta.”

O objetivo é expandir a EcomAmor futuramente no sentido de capacitação de novos líderes e, dessa forma, levar o projeto a outras cidades – a atuação se restringe, nesse momento, à Região Metropolitana de Goiânia. “Pode ser que pessoas no interior já tenham algum grupo e poderiam participar de dos nossos treinamentos”, salienta.

Ademais, a organização pode vir a trabalhar, em algum ponto, com particulares com o objetivo de bancar os públicos. “Essa é a ideia do empreendedorismo social: você cobra de quem pode pagar para fornecer o serviço a quem não pode”, afirma.

O último mutirão ocorreu no sábado, 7, no Colégio Estadual Rui Rodrigues e o próximo evento da organização, o Prosinhas, está marcado para o mesmo local, no dia 12 de outubro. Na oportunidade, será oferecida uma oficina gratuita de plantio em vasos para crianças.

Conheça os outros 19 brasileiros selecionados para o programa YLAI

Marco Angioluci: fundador da Desempenho Máximo Acompanhamento Escolar, que oferece oportunidades de aprendizagem de alta qualidade e baixo custo em matemática para pessoas no Brasil, com monitoramento individualizado.

Luize Araújo: cofundadora da Motora, empresa de design gráfico que busca incentivar o potencial criador feminino, além de aumentar a visibilidade dos trabalhos de mulheres na indústria criativa.

Juliana Brito: CEO e cofundadora da Workay, empresa que ajuda mulheres e pessoas desfavorecidas a encontrar capacitação e trabalho na construção civil.

Bruno Felipe Domingues Correa: fundador da Bruno’s School of English, empresa de monitoramento que oferece aos estudantes aulas de inglês a baixo custo, além de ajudar os estudantes a fazer um currículo e se preparar para entrevistas de trabalho.

Lucas Coutinho: fundador e gerente-geral da Hire A Dream, agência de empregos que oferece orientação profissional e oportunidades de emprego para ex-presidiários.

Thalita Gelenske Cunha: fundadora e CEO da Blend Edu, uma start up que cria experiências educacionais para promover diversidade e inclusão em empresas e em escolas.

Fabio Streitemberger Fabro: fundador e CEO da Inccount, que fornece uma plataforma digital simples de usar para que empresas pequenas e médias possam fazer a previsão de suas contas a receber com facilidade, menos burocracia e a um preço acessível.

Stephanie Hong: cofundadora do Garatea, que visa combater a ineficiência dos serviços públicos de emergência por meio do empoderamento das comunidades com treinamento e certificação em primeiros socorros.

Stephanie Koller: cofundadora e gerente-geral da Tropicado, empresa que produz opções de lanche saudáveis. A cada semana, a Tropicado entrega refeições embaladas prontas para consumo, e as sobras são transformadas em composto para reduzir o desperdício de alimentos.

Gabriel Marmentini: COO e CMO do Politize!, a maior plataforma de educação política do Brasil. Oferecendo educação simples, gratuita e apartidária para todos, a organização visa tornar a educação política mais acessível e estimular as pessoas a refletirem sobre seu papel em sociedade

Maira Peres: fundadora e CEO da Diosa – Mão de Obra Feminina. Com sede no Brasil, a Diosa é uma plataforma on-line feita para conectar mulheres que trabalham com reforma de casas a clientes potenciais.

Rafael Perez: fundador e diretor-gerente da Point – Facilitação Criativa, organização no Brasil que treina pessoas de grandes empresas, startups, escolas e universidades em como se comunicar com eficácia.

Lygia Pontes: fundadora e CEO da Lygia Pontes Consultoria, no Brasil, que fornece consultoria sobre comportamento, comunicação, e gestão profissional, objetivando treinar colaboradores de todos os níveis sobre como promover um ambiente de trabalho positivo.

Ivan Prado: fundador da Caos Heroico, uma empresa que trabalha com desenvolvimento humano e organizacional.

Yasmin Rodriguez: cofundadora do Ananã Café, cafeteria especializada em cafés especiais brasileiros, cujos insumos são provenientes de pequenos produtores locais, seu intuito é não só valorizar a cultura gastronômica brasileira como também ajudar a movimentar a economia local agrícola e fomentar o hábito de consumir produtos de origem local.

Thaís Rosa: CEO e fundadora do Conectando Territórios, que busca aproximar pessoas da história e memória de comunidades quilombolas e de comunidades tradicionais.

Luana Santos: cofundadora da Ethos Intelligence, consultoria de estratégia e marketing voltada para negócios sociais e startups de tecnologia.

Rafael Sena: cofundador e presidente do Conselho Consultivo da Associação dos Jovens Empresários de Recife (AJE Recife). A organização sem fins lucrativos ajuda jovens empreendedores a desenvolver capacidade de liderança, conectar-se uns aos outros e participar de fóruns e eventos em busca de um melhor ambiente de negócios.

Vivian Sória: cofundadora, sócia e diretora de parcerias do Moradigna, um negócio social que oferece serviço de reformas para famílias de classe C, D e E.