Os caminhos da esquerda para as eleições de 2024 em Goiás

07 maio 2023 às 00h00


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Se nas últimas eleições municipais os partidos que integram a esquerda em Goiás elegeram apenas 23 prefeitos, para 2024 existe a expectativa de duplicar esse número. Em 2020, o PDT conseguiu o Executivo em 15 cidades, o PSB em cinco, e o PT elegeu os gestores de três municípios. A baixa representatividade desses partidos (menos de 10% dos municípios goianos) veio na esteira do crescimento da direita conservadora-bolsonarista, alimentada pelo antipetismo.
Para as próximas eleições, com a Presidência de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a balança de poder nos 246 municípios goianos tende a se alterar, seja por influência do presidente, seja pela insatisfação generalizada advinda da queda do poder de compra e endividamento da população. Como exemplo recente da importância do poder de influência, recorda-se que o antigo DEM saiu de 10 prefeituras em 2016 para 62 eleitos em 2020 graças à atuação do governador Ronaldo Caiado.


Avaliando de modo geral o cenário para 2024, o professor de Comunicação e Políticas Públicas (UFG) Luiz Signates percebe tendência para a alternância partidária nos municípios. “Os grupos atuais não devem permanecer no poder. Isso decorre sobretudo do ambiente de dificuldades que a economia do país vive”, avalia. Signates explica que o eleitor médio, especialmente nas cidades do interior, tende a atribuir ao prefeito, em primeiro lugar, a responsabilidade pela piora nas suas condições de vida já que é o governante mais próximo. “Então, tem sido comum que problemas nacionais, como a queda na atividade econômica ou na renda das pessoas, ou mesmo estaduais, como problemas de segurança pública, sejam atribuídos aos mandatários municipais”, finaliza.


Para a historiadora Ana Lúcia da Silva, professora aposentada da UFG, ainda é cedo para entender a dinâmica de forças no Estado diante do cenário político atual no Brasil. “É prematuro saber as possibilidades das esquerdas nas eleições de 2024, pois a dinâmica da luta de classes, no próximo período, está condicionada aos resultados da CPMI instalada para apurar os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023 e às investigações em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos vários crimes de que é acusado”, explica. O cenário político goiano é historicamente polarizado e disputado por nomes fortes e ancorados em certa tradição, por ser herdeiro recente do coronelismo.


Ao longo dos anos, a população dos municípios goianos sofre com o esvaziamento do papel social das prefeituras. Essa constatação é do historiador e doutorando pela USP Paulo Winicius Teixeira de Paula. Na visão dele, os gestores públicos precisam enfrentar os interesses privados em busca da ampliação do bem-estar social. “Nas grandes cidades ou se enfrentam os interesses privados da especulação imobiliária ou a qualidade de vida continuará piorando. São imensos espaços vazios nas regiões centrais e o povo morando cada vez mais longe em locais sem nenhuma infraestrutura e perdendo boa parte de sua vida em um transporte coletivo de má qualidade.”


Levando em consideração a fotografia do atual momento, o cientista político Guilherme Carvalho afirma que o cenário da esquerda é tímido no Estado e na Capital. Guilherme estima que existem dois nomes teoricamente competitivos na disputa para 2024: Adriana Accorsi (PT) e Elias Vaz (PSB). “Apesar de dizer que não vai deixar a Câmara dos Deputados, Adriana Accorsi deve ser candidata (…) e o PCdoB tende a acompanhar essa candidatura. O PSB pode lançar Elias Vaz, que se licenciaria do Ministério da Justiça. O PDT não deve ter candidato próprio. Mas, por enquanto, tudo é muito especulativo. No campo da esquerda o nome mais consolidado dentro da esquerda é o de Adriana Accorsi e devemos ter Gustavo Gayer (PL) e Vanderlan Cardoso (PSD) dividindo os votos da direita.”


A presidente do PT em Goiás, vereadora Kátia Maria, conta que no sábado, 6, o partido realizou reunião com a intenção de analisar o cenário goiano. A prática do partido, segundo ela, agora é formar e renovar diretórios e comissões provisórias em todo o Estado. Paralelamente a isso, vão se formar as chapas de vereadores. “Acredito que o bom desempenho do governo Lula irá refletir nas eleições municipais do ano que vem. O PT tem hoje apenas três prefeitos no Estado, mas somos o partido com o maior número de diretórios municipais formados. São 222 e estamos num processo agora de eleição e renovação de muitos deles. Estamos trabalhando na identificação de possíveis candidatos a vereador e prefeito em todo Estado e devemos ter bons nomes para a disputa do ano que vem. No ano passado, o partido elegeu dois deputados federais e três deputados estaduais, aumentando nossas bancadas.”


Presidente do PSB em Goiás, Elias Vaz postula que a estratégia do partido no Estado deve priorizar a união de forças políticas democráticas. “A exemplo das eleições para bancar o presidente Lula da Silva, quando houve uma frente ampla, entendo que o esforço coletivo deve ser em acabar com representações de cunho fascista. A discussão política precisa ser maior que simplesmente direita, esquerda ou nome próprio (…) É preciso reafirmarmos a importância de posições políticas democráticas.”
O PSB tem possíveis candidatos em Goiânia, Anápolis, Aparecida de Goiânia, Valparaíso de Goiás e outras cidades, além dos que já foram eleitos em 2020. “O PSB vai continuar reafirmando a importância do diálogo, e chegaremos à mesa de discussão dispostos a manter parcerias com os que são democráticos.”


A presidente do PDT em Goiás, Flávia Morais, tem falado que o partido não terá nome próprio em 2024 e que estará trabalhando para apoiar um bom candidato em Goiânia. “O PDT estará alinhando com o melhor candidato para administrar a capital de Goiás”, sublinhou em entrevista à
Rádio da Capital. A deputada federal é mulher do deputado estadual e ex-prefeito de Trindade George Morais, que afirmou recentemente também não ter a intenção de disputar a Prefeitura de Trindade em 2024. Mas seu nome é costumeiramente lembrado para a disputa.
Confira os nomes mais consolidados para as eleições 2024 em cidades de Goiás
Goiânia
Adriana Accorsi (PT)
Candidata ao Paço Municipal em 2016 e 2020, a deputada federal afirmou diversas vezes que está focada em atuar em Brasília. Filha do professor e ex-prefeito de Goiânia Darci Accorsi e Lucide Sauthier, Adriana conviveu com a militância político-partidária desde a infância. A delegada tem uma história de envolvimento com trabalhos em favor da segurança pública, da defesa dos direitos da criança, do adolescente e da mulher.
Edward Madureira (PT)
O ex-reitor da Universidade Federal de Goiás (UFG) intensificou a agenda para trabalhar em torno da construção de sua pré-candidatura à Prefeitura de Goiânia. Teve mais de 30 mil votos na campanha para deputado federal — isto só na capital. Os três prefeitos eleitos pelo partido em Goiânia eram professores: Pedro Wilson, Darci Accorsi e Paulo Garcia.
Mauro Rubem (PT)
Líder sindical, especialista em saúde pública e atualmente deputado estadual, Mauro Rubem também externou sua disposição para ser candidato da sigla no próximo pleito. Desde os anos 2000, Rubem alterna atuações na Câmara e na Assembleia. Em seus três primeiros mandatos como deputado foi presidente da Comissão de Direitos Humanos.
Elias Vaz (PSB)
Candidato a prefeito pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) em 2020, o ex-deputado federal atualmente trabalha no governo federal com o ministro da Justiça Flávio Dino. Antes, foi eleito vereador por Goiânia por cinco vezes e também já foi candidato a governador de Goiás pelo PSOL em 2006 e ao Senado em 2010.
Alysson Lima (PSB)
Foi candidato a prefeito pelo Solidariedade (SDD) em 2020. Começou sua carreira como suplente de vereador na eleição de 2008 pelo PV, em Palmas, no Tocantins. Eleito vereador por Goiânia em 2016 e deputado estadual em 2018.
Cíntia Dias (PSOL)
Presidente do diretório em Goiás, foi candidata ao governo estadual nas últimas eleições. “Como vice, poderia vir a professora Ailma, que é uma mulher indígena.” A legenda teve 12 parlamentares eleitos em 2022, com aumento da bancada na Câmara dos Deputados e na Federação PSOL/REDE, elegendo 14 deputados federais no Congresso Nacional que atuam na defesa dos trabalhadores.
Aparecida de Goiânia
Willian Panda (PSB) vereador em Aparecida de Goiânia por dois mandatos, candidatou-se a deputado estadual em 2022 e tem suas pautas direcionadas para habitação.
O PT tem sido aliado do grupo de Gustavo Mendanha no município e participa da gestão do prefeito Vilmar Mariano, do Patriota.
Anápolis
Antônio Gomide (PT)
Em 1996 foi eleito pela primeira vez vereador e exerceu o cargo de vice-presidente da Câmara Municipal de Anápolis. Em 2000, foi reeleito e em 2005 foi o vereador mais bem votado da cidade. Prefeito em 2008 e reeleito em 2012. Candidato a governador em 2014 não foi eleito e voltou à Câmara. Em 2018 foi eleito deputado estadual.
Jackson Charles (PSB)
Em seu terceiro mandato consecutivo, o vereador Jackson esteve ao lado dos petistas até 2016 e hoje lidera a base do prefeito Roberto Naves (Progressistas) no Legislativo. Colocou seu nome à disposição do partido para a disputa majoritária.
Luziânia
Didi Viana (PT) foi vice-prefeito da cidade, candidato ao cargo majoritário em 2008 e atualmente é vereador.


Rio Verde
A cidade é uma das mais bolsonaristas do Estado. Nas eleições presidenciais, os votos no presidente Lula ficaram em torno dos 30% apenas. Neste contexto, o presidente do PT em Rio Verde, Simão Brasil, conta que na legenda existem ao menos cinco pré-candidatos, seja a prefeito, vice ou vereador: Flávio Faedo, Náudia Faedo, Professor Vavá (candidato a prefeito em 2020), Gabriel Cali e existem conversas com o ex-reitor da Universidade de Rio Verde – Paulo Eustáquio. Simão explica que o partido pretende avaliar as possibilidades de alinhamento aos candidatos que integram o espectro da esquerda. “Karlos Cabral cresceu dentro do PT, foi para o PDT e está em seu quarto mandato no PSB.”
Jataí
Tradicionalmente o partido lança candidaturas próprias na cidade, mas nomes ainda não foram fechados. Em 2020, o PT lançou Marquinho Carvalho.
Valparaíso de Goiás
Lucimar Conceição do Nascimento (PT)
Em 1997, Lucimar foi eleita presidente do PT de Valparaíso e reeleita em 1999. Em 2000 candidatou-se a vereadora e ficou na primeira suplência. Mesmo tendo a oportunidade de assumir o cargo em 2002, desistiu de assumir a função tendo em vista a gravidez de nove meses do segundo filho. Em 2004 foi eleita vereadora, sendo a segunda mais votada. E, em 2012, foi eleita prefeita de Valparaíso. Em 2023 foi julgada pela Justiça por atos de improbidade.
Itumbiara
Nilson Freire
Auditor fiscal de Receitas Estaduais aposentado da Secretaria de Estado da Economia de Goiás, já ocupou os cargos de diretor de Assistência ao Servidor – IPASGO – Instituto de Assistência aos servidores do Estado de Goiás (2012), presidente da Saneago (Saneamento de Goiás S.A), entre 2011 e 2012, secretário de Finanças (2005-2010) e ex-secretário de Saúde (2006-2007) da Prefeitura de Itumbiara.
Interlocutores do partido ressaltam ainda que existem nomes próprios da legenda na Cidade de Goiás (o prefeito Aderson Liberato Gouvea é do PT e é candidato à reeleição), Trombas, Trindade, Professor Jamil, Itapuranga e Aragarças.
A esquerda marxista em Goiás


Na avaliação de Guilherme Martins, membro da direção estadual (Comitê Regional) e da direção nacional (Comitê Central) do PCB, o partido deve apresentar seus nomes em cidades onde tem atuação cotidiana no segundo semestre deste ano. “Estamos envolvidos nas lutas: pela convocação dos aprovados no concurso da Secretaria Estadual de Educação, pela preservação dos mananciais aquíferos de nosso Estado, por melhores condições de vida e trabalho da juventude trabalhadora goiana e contra o Novo Ensino Médio.”
Guilherme considera que a derrota de Bolsonaro nas urnas não significou o fim do bolsonarismo e nem das perspectivas fascistas que têm permeado setores da sociedade brasileira nos últimos anos. Ele espera que o atual governo consiga reverter características neoliberais que se radicalizaram no país. “Nesse sentido, defendemos que os partidos de esquerda, sobretudo os socialistas e comunistas, devam se unir para combater a extrema direita e consigam propor um caminho de construção de uma nova sociedade, onde a vida da maioria da população esteja à frente do lucro de um punhado de pessoas.”


A presidente do Diretório Regional do PSOL em Goiás, Cíntia Dias, explica que a federação PSOL/Rede têm nomes próprios em diversos municípios goianos, mas que não descarta parcerias e conversas com outros partidos do espectro da esquerda. “Em Anápolis temos o Marcelo Moreira e a professora Liz. Em Aparecida temos o Humberto e o Mozart. Em Senador Canedo, o ex-vereador Rodrigo. Em Rio Verde e Jataí, alguns integrantes do partido que são ligados ao movimento agrário como Geraldo e Nildo Gouveia.”
Cíntia ressalta que a federação tem trabalhado bastante no entorno, especialmente em Luziânia, Valparaíso, Planaltina e Cristalina. “A Nildinha, professor Wesley, Marcilon (…)”, listou rapidamente alguns nomes.
Qual a origem dos termos esquerda e direita?
Tradicionalmente, as posições políticas (esquerda e direita) se originaram em Paris no ano de 1789 durante a Revolução Francesa. A história conta que o rei Luís XVI havia convocado os clero, nobreza e burguesia para discutir a crise financeira do país. Esses representantes acabaram se tornando a Assembleia Nacional. Durante os debates, aqueles que definiam “a manutenção do status quo” com maiores poderes ao governante ficavam do lado direito (eram os girondinos), e aqueles que advogam por mudanças sentavam-se à esquerda (os jacobinos).
O filósofo italiano Norberto Bobbio, em seu livro “Direita e Esquerda: Razões e Significados de uma Distinção Política”, coloca os termos em relação aos importantes conceitos de liberdade e de igualdade. A direita estaria mais interessada em manter a ordem, garantindo a preponderância para o mercado na coordenação da vida social, enquanto a esquerda estaria interessada em maior justiça social.