Parlamentares críticos e aliados são estimulados a apontar soluções para decisões que consideram erradas ou que poderiam ser melhoradas 

O governo de Ronaldo Caiado (DEM) caminha para concluir o sétimo mês. Considerando o período de transição administrativa pós-eleição, são quase nove meses de gestão. As críticas, normais nos primeiros meses de qualquer governo, têm se estendido aos que pediram voto para gestor estadual.Os motivos são diversos, como a não acomodação de aliados dos companheiros, serviços públicos ainda deficientes e a adoção de medidas consideradas impopulares.

As declarações negativas que partiram de adversários já eram aguardadas e são normais. As oriundas dos aliados — e daqueles que já deixaram o grupo do governador — é que são fonte de preocupação do Palácio das Esmeraldas. Com efeito, ataques feitos por adversários são sempre relativizados. Todavia, no momento em que adjetivos negativos são lançados por alguém “da cozinha”, estas palavras têm força de convencimento.

O Jornal Opção abriu espaço para que aliados e ex-companheiros fizessem um balanço destes quase sete meses de Ronaldo Caiado à frente do Executivo. Os que apontassem pontos negativos foram estimulados que o fizessem mediante a apresentação de soluções para os pontos levantados. Parte dos parlamentares está em viagem e não respondeu às tentativas de contato. Aos que entrevistamos, fizemos a mesma pergunta: O que faria se fosse você o governador?

José Nelto: “[Por mim] não teria nenhum marconista no governo” | Foto: Jornal Opção
Deputado federal José Nelto (Podemos)

Há quem diga haver um rompimento “branco” do deputado federal José Nelto (Podemos) com o governador Ronaldo Caiado. A dificuldade em emplacar aliados no governo e a recente exoneração de Manoel Barbosa, aliado do presidente do Podemos, contribuíram para aumentar a fricção na relação entre o deputado e o governador.

José Nelto nega que o relacionamento com Caiado esteja estremecido — “até agora temos respeito mútuo” — e que Manoel Barbosa tenha sido indicação dele. O deputado reitera que foi a primeira-dama Gracinha Caiado quem colocou Manoel Barbosa na Seduce. O deputado afirma que, no entanto, vai sugerir para Ronaldo Caiado que coloque o aliado em outra área do governo. Manoel Barbosa caiu porque entrou em choque com a secretária Fátima Gavioli, que disse ao governador: “Ou ele ou eu”.

O parlamentar diz ter críticas pontuais ao governo, cujo tempo de administração considera “curto” para uma avaliação justa e ampla. José Nelto afirma que o prazo de um ano é o mínimo para fazer qualquer juízo de valor adequado. Questionado se, após 12 meses, a avaliação for negativa, romperia com Caiado, respondeu categórico: “A palavra rompimento não faz parte do meu dicionário. Prefiro utilizar ‘mudanças’”.

Entre elogios e apontamentos, o deputado afirma que o governo já demonstrou atuação firme contra mordomias e corrupção, mas que deixa a desejar em um serviço que considera muito importante para os cidadãos, que são os atendimentos no Vapt Vupt. José Nelto replicou em suas redes sociais reportagem negativa acerca da demora no atendimento nas unidades de atendimento.

Ao ser perguntado pela reportagem o que faria se fosse o governador, José Nelto revelou aquela que talvez seja sua maior crítica a Ronaldo Caiado: a falta de espaço para acomodação de aliados. “Não deixaria um marconista no governo. Colocaria companheiros de campanha.”

Cláudio Meirelles: críticas aos secretários “forasteiros”| Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Cláudio Meirelles (PTC) 

O deputado estadual Cláudio Meirelles deixou a base marconista, no ano passado, para caminhar com Caiado. Em abril último, entretanto, iniciou um distanciamento do governador e chegou a pedir “mais respeito” a ele.

Na sequência, iniciou uma série de apontamentos críticos ao governo. Falou publicamente da dificuldade de Caiado em pagar a folha do funcionalismo. Em maio, na tribuna da Assembleia, Meirelles acusou o governador de ter cometido “pedalada”, por considerar que teria desviado recursos de fundos para pagar os servidores. Nas últimas semanas, o parlamentar tem postado vídeos em seus perfis nas redes sociais mostrando a falta de manutenção das rodovias. “Se não fez até agora [a manutenção], não fará no período chuvoso, daqui dois ou três meses.”

Em entrevista ao Jornal Opção, Cláudio Meirelles afirmou não concordar com os secretários “forasteiros”. O parlamentar argumenta que, ainda que tenham capacidade, demorarão muito a ter domínio sobre os problemas de Goiás.

O deputado argui que o fato de a secretária da Educação, Fátima Gavioli, ser oriunda de um Estado sem tradição de boas notas no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica a desqualifica. “Rondônia é o 17º no Ideb, enquanto Goiás é o 1º.” Argumenta que Cristiane Schmidt (Economia) não é especialista nas áreas de finanças e contábil. Meirelles alega que na gestão Rodney Miranda (Segurança Pública) no Espírito Santo houve uma greve das polícias Civil e Militar. “As pessoas saquearam supermercados.”

“O que faria se fosse você o governador?”

Perguntado sobre quais seriam suas ações, caso tivesse a caneta de Caiado em suas mãos, Cláudio Meirelles informou que não demitiria comissionados de áreas que considera estratégicas. O parlamentar atribuiu o aumento na demora do atendimento das unidades do Vapt Vupt à troca de servidores experientes por novatos. “Mesmo sendo da gestão passada, eu os manteria, para não prejudicar o atendimento”, afirma em alusão aos atendentes do órgão recentemente exonerados. Criticou a exoneração de duas servidoras da Secretaria da Economia (antiga Sefaz) — “Geni e Silvia” —, que considera eficientes. “Elas não serviam ao governo Marconi, mas ao Estado de Goiás. Isso não é política, é politicagem.”

Cláudio Meirelles frisa que chamaria para discutir a redução de gastos os presidentes da Assembleia Legislativa, Tribunal de Justiça e Tribunal de Contas; e o procurador-geral de Justiça, chefe do Ministério Público. “Em conjunto, encontraríamos um caminho para redução das despesas de pessoal.”

O deputado afirma que enxugaria ainda mais a “máquina”. Para Meirelles, as dificuldades financeiras anunciadas pelo governador não condizem com a recriação de secretarias do Esporte e da Cultura, que antes estavam integradas à pasta da Educação.

Para melhorar a capacidade financeira do Estado, Meirelles afirmou que, caso fosse o governador, criaria o que chamou de Plano de Arrecadação. De acordo com o parlamentar, as blitzen realizadas pela Segurança Pública e Detran poderiam ser incrementadas com participantes da fiscalização da Secretaria da Economia.

“Você já viu os carros pretos da fiscalização pelas ruas?”, questiona ao relatar que não há automóveis dos fiscais do ICMS rodando pela cidade. “Se bandidos se depararem com carros da polícia, ficam com receio de agir. Se sonegadores se depararem com carros da Sefaz, vão ter receio de sonegar.” O parlamentar sugere a criação de Comandos Volantes com fiscais do Estado. “Não se vê fiscais na Rua 44, na Rua 4, na Fama.”

Para melhorar a economia, Cláudio Meirelles sugeriu a captação de novas empresas para Goiás, por meio da concessão de incentivos fiscais. “Sem incentivos, as empresas saem”.

“O jornal me pergunta o que eu faria, caso fosse o governador e pergunto: ‘Que dia e que horas ele vai começar a governar Goiás?'”

Iso Moreira: sociedade espera “coragem e discernimento” dos gestores  | Foto: Alego

Iso Moreira (DEM)

O deputado estadual Iso Moreira (DEM) já esteve mais insatisfeito com Ronaldo Caiado. No domingo, 13, o parlamentar recebeu o governador em Alvorada do Norte e Simolândia na tradicional Cavalgada do Corrente. Fato que leva a crer que as rusgas foram amenizadas.

Perguntado sobre o que faria de diferente caso fosse o governador, afirma”ser difícil” falar de decisões inerentes a um cargo que não exerce. Todavia, o “empresário” Iso Moreira postula que governaria lastreado em práticas de gestão corporativa. Falou ao Jornal Opção por meio de nota e afirmou que, antes, faria uma análise de cenário e, em seguida, um diagnóstico e plano de ação, “buscando fortalecer os pontos fortes e minimizar os pontos fracos decorrentes da realidade social e política do nosso Estado”.

Iso Moreira diz que a sociedade espera “coragem e discernimento” dos gestores, antes de tomar decisões. Declara não se interessar pelas “rusgas de natureza política entre grupos de um partido”.

O deputado pondera que buscaria manter diálogo “aberto e transparente” com a classe política, respeitando a autonomia dos poderes, sobretudo neste momento, em que, aponta, há um movimento forte pela independência do Legislativo, em todas as casas.

Ao falar sobre a Segurança Pública, o deputado classifica de “emergenciais” as ações de reestruturação da pasta. Para o parlamentar, o “modelo policial” precisa ser reformulado. Para combater a violência, explica, é preciso investir em polícias integradas, em um Sistema Único, que atuem permanentemente na prevenção e investigação, com um controle externo forte e autônomo, pautado pela tecnologia da informação.

Major Araújo: revisão e rompimento de contratos| Foto: Fernando Leite/Jornal Opção

Major Araújo (PRP)

Conhecido pelo “pavio curto”, o deputado estadual Major Araújo passou de aliado a crítico de Caiado em poucos meses de governo. Um posicionamento firme contra a gestão caiadista, mesmo nos primeiros meses, era tido nos bastidores como favas contadas.

Major Araújo afirma que, se tivesse o controle do Poder Executivo, a primeira coisa que faria seria um levantamento geral de todos os contratos e serviços que considera “onerosos para o Estado”. Em seguida iria iniciar novas licitações para as contratações que fossem classificadas como não vantajosas do ponto de vista da administração pública para, em seguida, romper unilateralmente com as empresas. “Era isso que todos que votaram no Caiado esperavam.”

O deputado não concorda com os aluguéis pagos pelo governo. Disse que extinguiria alguns contratos e instalaria órgãos em áreas públicas. Para os demais, sugeriu que fossem locadas áreas em locais periféricas da cidade, a preços mais acessíveis.

Major Araújo faria o que chama de “ofensiva jurídica” para cobrar empresas e gestores que, em governos passados, foram apontados com algum tipo de problema. “Eu esperava que Caiado, que sempre criticou as gestões passadas, fizesse diferente.”

Para o parlamentar, Caiado peca em absorver parte das lideranças oriundas dos grupos políticos adversários o que, segundo ele, não é bom para a administração. “É melhor ter uma base enxuta do que ter uma base ampla, mas contaminada. Isso não é projeto para Goiás, é projeto de poder.”

Em relação à Enel, Major Araújo assinala que chamaria outras empresas de energia para iniciar nova concorrência. “Caiado sempre criticou a venda da Celg, mas até agora não fez nada para reverter.” (O governador está sugerindo que vai privatizar a Celg que ficou para o Estado.)

De acordo com Major Araújo, os incentivos fiscais deveriam ser todos cortados “de imediato”. Ele pondera que a localização geográfica privilegiada do Estado seria, por si, um atrativo para novos investimentos. Para o parlamentar, a logística influenciaria diretamente na redução dos custos dos produtos fabricados aqui e, por isso, as empresas não deixariam Goiás por conta do corte nos incentivos.

Doutor Antônio (DEM)

Doutor Antônio: “Governo Caiado merece apenas elogios”|Foto: Divulgação/Alego

O relacionamento do deputado estadual Doutor Antônio (DEM) e o governador Ronaldo Caiado chegou a ficar estremecida nas costuras políticas para a presidência da Assembleia Legislativa. Caiado escolheu apoiar outro companheiro de agremiação, Álvaro Guimarães, para o enfrentamento contra o grupo que defendia Lissauer Vieira.

As respostas à pergunta da reportagem “O que faria se fosse você o governador?” deixam claro que o mal estar foi superado. “O governo Caiado merece apenas elogios e nosso apoio para que o trabalho continue”, respondeu por meio de nota.

O deputado disse endossar as ações do governador na área que considera “sua bandeira”, a saúde. “Este governo fez em seis meses o que não vejo há anos. Comparando a quantidade de pessoas atendidas no ano passado e nos últimos seis meses, houve um aumento de 12% nas cirurgias, 5% nas internações e 17% nas atendimentos ambulatoriais.”

O parlamentar elogiou o que classificou como “regionalização da Saúde” e o investimento no Hospital Materno-Infantil que, segundo ele, além de manter o funcionamento, melhorou o atendimento e a capacidade com novos leitos.

Doutor Antônio anota que é possível perceber que o governo oferece soluções para os problemas encontrados “e muita seriedade com o dinheiro público”. “Isso é perceptível aos olhos de qualquer pessoa que acompanha a gestão nos últimos seis meses.”

Segundo o deputado, a dívida do convênio Ipasgo foi quitada, os reajustes e cortes de gastos foram realizados. Doutor Antônio elogia a retomada das obras do Hospital do Servidor Público. “São centenas de investimentos voltados à saúde.”